Notem a imagem dessas três figuras - Foto Tóri Molina - Estadão
Nessas horas, quando é realmente preciso chamar alguma
autoridade que saiba fazer alguma coisa útil, qualquer coisa, nunca há
ninguém no local de trabalho. Em compensação, Lula sempre aparece
para se exibir, fingir que está na linha de frente das ações e escolher a
pior entres todas as alternativas erradas.
\É uma questão de princípio,
para ele e seu governo, só pensar em alternativas que não apresentem
risco nenhum de dar certo.
Os incêndios que se espalham pela Amazônia, o Pantanal e várias
outras regiões do Brasil, incluindo o Estado de São Paulo, são um
desses momentos de opção compulsiva por fazer a coisa errada. É a
obsessão de sempre, para Lula: diante de qualquer dificuldade, jamais
pense em desperdiçar sequer um minuto com a ideia de “trabalho”.
Todo tempo deve ser dedicado a falar sobre o problema, com as coisas
mais idiotas que passam pela cabeça do presidente, dos seus
marqueteiros e do pensamento estratégico de Janja. Fica garantido, aí,
que não vai se resolver nada e, enquanto não se resolver, Lula
continuará tendo à sua disposição a única ferramenta de governo que
realmente conhece: um demônio em tempo real para ele culpar por
tudo que está errado, esconder a sua incompetência fundamental para
o exercício de qualquer atividade produtiva e simular combates que
não existem.
O demônio titular de Lula tem sido Jair Bolsonaro.
Neste momento,
para descansar um pouco o seu astro, ele tirou o fogo do banco e pôs
para jogar. As previsões de que iria acontecer o que está acontecendo
estavam aí há oito meses. De acordo com o protocolo obrigatório hoje
em observância no governo, ninguém fez nada. É como na história do
ministro que cuidava dos Direitos Humanos e assediava mulheres. O
homem era um perigo, mas também é negro, deu para ser radical de
esquerda e se tornou o Grande Mestre da Ku Klux Klan antibranca do
Brasil — quer dizer, no manual de princípios do governo Lula, que ele é infalível e não podia ser tocado.
Só foi posto na rua quando não deu
mais para esconder o que fazia, até porque teve a má ideia de crescer
para cima de uma colega de Ministério. Da mesma forma, só quando
os incêndios começaram a fazer fumaça em Brasília o presidente se
mexeu.
O ex-ministro Silvio Almeida foi demitido pelo presidente Lula depois de denúncias de assédio sexual
Queimada, pelo mesmo manual, é coisa exclusiva de Bolsonaro, e não
poderia existir em seu governo. Mas existe — na verdade, nunca houve
tanto incêndio florestal neste país quanto no ano e meio em que Lula
esteve fazendo turismo de paxá com a mulher, traficando “emendas”
no Orçamento com o centrão e governando o Sul Global. Quando se
mexeu, não deu erro. Foi para subir no palanque mais uma vez, fazer
cara de bravo e anunciar curas no estilo João de Deus — no caso, uma
“Autoridade Climática” que vai acabar com o fogo na base da canetada,
da “vontade política” e do jornalismo da Secom.
Acredite ou não,
deram para essa coisa o nome oficial de “Plano Nacional de
Enfrentamento aos Riscos Climáticos Extremos”. Tem a palavra que
fascina a junta Lula-STF: “enfrentamento”. Tem um pedaço de papel
com moldura verde, amarela e vermelha, a última das nossas cores infalível e não podia ser tocado. Só foi posto na rua quando não deu
mais para esconder o que fazia, até porque teve a má ideia de crescer
para cima de uma colega de Ministério. Da mesma forma, só quando
os incêndios começaram a fazer fumaça em Brasília o presidente se
mexeu.
Mas existe — na verdade, nunca houve
tanto incêndio florestal neste país quanto no ano e meio em que Lula
esteve fazendo turismo de paxá com a mulher, traficando “emendas”
no Orçamento com o centrão e governando o Sul Global. Quando se
mexeu, não deu erro. Foi para subir no palanque mais uma vez, fazer
cara de bravo e anunciar curas no estilo João de Deus — no caso, uma
“Autoridade Climática” que vai acabar com o fogo na base da canetada,
da “vontade política” e do jornalismo da Secom.
Acredite ou não,
deram para essa coisa o nome oficial de “Plano Nacional de
Enfrentamento aos Riscos Climáticos Extremos”. Tem a palavra que
fascina a junta Lula-STF: “enfrentamento”. Tem um pedaço de papel
com moldura verde, amarela e vermelha, a última das nossas cores nacionais. Só não tem a Autoridade Climática propriamente dita.
Não se julgou necessário até agora nomear ninguém para exercer o
cargo, nem dizer de onde vai sair o dinheiro para pagar as contas e,
sobretudo, contar ao público o que a Autoridade Climática vai fazer de
concreto para apagar o fogaréu. As prioridades reais do governo Lula,
porém, foram rigorosamente atendidas.
Em primeiro lugar, o
presidente deixou claro que a ministra oficial do Meio Ambiente,
Marina Silva, não vai ser a tal Autoridade Climática — ou seja, a
questão ambiental mais grave do país neste momento não vai ser
tratada pela ministra que é paga para tratar das questões ambientais.
Não se tocou em absolutamente nada relativo à nova repartição, mas
já está decidido que ela vai ter “status de ministério”. O ministro Flávio
Dino, que não tem coisa nenhuma a ver com o problema, já autorizou
Lula a gastar dinheiro que não está no Orçamento, e não será
fiscalizado por ninguém, para o “enfrentamento” dos incêndios.
Além e acima de tudo, o governo se lança a uma desesperada operação para
apontar culpados. Até há pouco, o judas a ser malhado era Bolsonaro. O seu
governo já acabou há 18 meses, mas na versão oficial a culpa das
queimadas de hoje era dele
Dá para se notar bem, só por aí, qual é o espírito da coisa: vamos
aproveitar a tragédia do momento para fazer marketing, torrar
dinheiro do Erário e rasgar a lei. Nesse mesmo embalo, os duques e
arquiduques do regime Lula-STF se lançam à outra das suas
atividades preferidas: chamar a polícia.
Não é tanto o ministro Dino,
que hoje cumpre dupla jornada de trabalho, no Judiciário e no Palácio
do Planalto, e continua fascinado com as facilidades de convocar a
Polícia Federal, prender, indiciar, condenar e reprimir quem considera
inimigo. Esse é o seu novo e velho normal, como “comunista graças a
Deus”. Mas o resto do governo, com Lula à frente da turba do
linchamento, se jogou de cabeça na ideia de apagar o fogo nas florestas
botando gente na cadeia. Querem polícia, Exército e “medidas de
força”. Querem penas mais pesadas. Querem confiscar propriedade privada, como Alexandre de Moraes expropria os depósitos bancários
de uma empresa para pagar multas que socou em outra.
Além e acima de tudo, o governo se lança a uma desesperada operação
para apontar culpados. Até há pouco, o judas a ser malhado era
Bolsonaro. O seu governo já acabou há 18 meses, mas na versão oficial
a culpa das queimadas de hoje era dele — a ministra Marina, por
exemplo, alega que o ex-presidente teria “destruído” o sistema de
proteção ambiental do Brasil. Que sistema? E por que raios ela não fez
nada a respeito no seu um ano e meio no governo? A ministra, durante
esse tempo todo, ficou falando no disparo de “nanomísseis” na
atmosfera e outros prodígios da mesma gravidade. Foi a Davos, serviu
como dama de companhia para herdeiras bilionárias com “pegada
social” e fez figura na ponta-esquerda, como diziam os antigos
narradores de futebol. No momento, deixando Bolsonaro de lado,
dedica-se a combater o “terrorismo ambiental”, como diz, através do
seu próprio terrorismo.
“No momento, todo incêndio é criminoso”, denunciou a ministra
numa das homilias que tem feito sobre o assunto. Ou então: “Num
contexto como esse, se as pessoas não pararem de atear fogo”, o
desastre vai se tornar incontrolável — ou seja, o problema são “as
pessoas”. Marina ameaça a todos com uma previsão de que “60%” do
território nacional, ou “5 milhões de quilômetros quadrados”, pode ser
destruído pelo fogo. A alma de KGB do governo vem à tona com a
incitação da ministra para que “o Exército, a Marinha, a Aeronáutica”
tomem parte no “enfrentamento” das queimadas. Ela quer esse
esforço militar todo para a “investigação” do que está ocorrendo — a
ministra diz que “com o trabalho de inteligência, a gente consegue
pegar inclusive quem são os articuladores, os mandantes”.
Não fica
claro quem está mandando tocar fogo em 60% do Brasil, e nem como
um governo que leva 90 dias para prender dois fugitivos de uma
prisão federal em Mossoró conseguiria desmontar uma quadrilha com com
esse potencial de fogo. Até lá Marina vai estar flambada, e o resto do
governo com ela.
Não se sabe quem é o responsável por queimar 60% do Brasil, nem como um governo que demorou 90 dias para capturar dois fugitivos
em Mossoró conseguiria desarticular uma quadrilha tão poderosa.
Nesse ritmo, Marina Silva e o governo podem acabar consumidos
pelas chamas. Depois de
criar a “Autoridade Climática” (ele já havia nomeado, em fevereiro, um
“embaixador extraordinário para a mudança do clima”; o diplomata
até hoje não cumpriu nenhuma missão) e de tirar foto numa sala com ar-condicionado no Amazonas, está indo para Nova York em sua 23ª
viagem ao exterior desde que foi declarado vencedor das últimas
eleições presidenciais pelo TSE. Lá ele vai jogar na “crise climática” a
culpa pelos incêndios registrados em seu governo, tirar foto com Janja
e dizer que nunca antes na história deste planeta alguém lutou tanto
como ele para salvar a natureza.
É a grande celebração do nada.
Revista Oeste