A foto da capa da edição de hoje (29.3.2021) do jornal O Globo jamais poderia ser estampada.
É uma grande foto de 30cm X 17cm em que aparecem, no mínimo 15 leitos do Hospital de Campanha em Santo André, São Paulo.
Em cada leito um paciente com Covid. E os pacientes têm seus rostos identificados. Todos em estado deplorável.
E ainda que não fosse deplorável o estado de saúde de cada um, deplorável continua a ser a exposição pública da dor alheia, de seus familiares, amigos.... Enfim, da sociedade inteira.
Foto que não ajuda e que pode causar danos maiores nos próprios pacientes e nos leitores.
Em cima da dramática foto o título:
"Nas UTIs de Covid do Brasil, 83,5% dos pacientes morrem".
Título que sugere que todos aqueles fotografados, ou pelo menos 83,5% deles vão morrer.
Não. Não podemos concordar. Não podemos aceitar. É preciso reagir e censurar. O Globo não é o dono da razão. Muito menos da verdade.
É falta de bom senso, de sentimento, de pudor.
A foto fere todos os direitos fundamentais da pessoa humana no que concernem à imagem, à privacidade, ao respeito à dor.
Pavorosamente monstruoso.
Isso não é jornalismo. E em nada contribui para o combate ao flagelo.
Jorge Béja
Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada (UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)
Com Jornal da Cidade