O candidato presidencial republicano e ex-presidente dos EUA, Donald Trump, está sentado dentro de um caminhão de lixo, na pista do Aeroporto Internacional Green Bay Austin Straubel em Green Bay, Wisconsin, EUA, 30 de outubro de 2024 | Foto: Reuters/Brendan McDermid
Táticas manjadas criam pautas forçadas, pinçam “especialistas” sob medida para determinada narrativa e demonizam os conservadores, enquanto poupam os “progressistas”
Ninguém menos do que Jeff Bezos, o bilionário fundador da Amazon e dono do Washington Post, escreveu um editorial chamando a atenção para o viés ideológico da imprensa. Bezos decidiu que o famoso Post não iria endossar qualquer candidato a presidente neste ano, remando contra uma tradição de décadas. Um texto de apoio a Kamala Harris já estava pronto, mas o dono do jornal vetou e explicou: não basta a imprensa ser isenta, ela precisa ser percebida como imparcial pelo público. Para Bezos, a imprensa tem falhado neste segundo ponto.
Assim como a maioria, acredito que tem falhado — e muito — no primeiro ponto também. Mas ao menos Bezos se deu conta do óbvio: há uma crescente perda de credibilidade dos veículos de comunicação por causa desse viés ideológico. O bilionário fez uma analogia com a urna eletrônica: não basta ser acurada, os eleitores precisam acreditar que ela é fiel aos votos. Uma lição que deveria ecoar no Brasil, apesar de ser tabu hoje e poder render até um inquérito para quem faça um comentário desses. Exemplos de viés ideológico e duplo padrão da imprensa abundam. Reportagens tendenciosas pululam pelas páginas dos jornais. Táticas manjadas criam pautas forçadas, pinçam “especialistas” sob medida para determinada narrativa e demonizam os conservadores, enquanto poupam os “progressistas”.
É preciso ser muito alienado para não perceber a torcida da imprensa. Só que isso afeta muito sua reputação, e o jornalismo como um todo acaba perdendo. Ninguém mais confia para valer nesses jornais para informação objetiva. Vejamos um caso recente. Um comediante no comício de Donald Trump se referiu a Porto Rico de forma pejorativa. O mundo veio abaixo, os democratas ficaram em polvorosa, e os artistas e jornalistas fizeram uma celeuma, saindo em defesa dos porto-riquenhos. Era a prova de que Trump é um preconceituoso com latinos.
Até o presidente Joe Biden, no dia seguinte, avacalhar com toda a narrativa da imprensa. Biden, um tanto senil, resolveu chamar logo todos os apoiadores de Trump de “lixo flutuante”. Trump estava num comício, e o senador Marco Rubio o avisou da “gafe”. Trump lembrouse então da fala de Hillary Clinton, em 2016, em que ela acusava os eleitores republicanos de “cesto de deploráveis”. Em seguida, Trump pediu que perdoassem Biden, pois ele não sabe o que fala. Mas a conclusão é até lógica: se Trump é Hitler reencarnado, como insinua ou afirma diretamente boa parte da mídia, então quem o apoia só pode ser “lixo” mesmo.
O ponto, claro, é que Trump não tem nada de Hitler, e a imensa maioria dos apoiadores de Trump é formada por patriotas decentes. A Casa Branca soltou uma nota tentando consertar, alegando que Biden chamou de lixo a fala dos apoiadores de Trump, não eles. Mas era tarde demais. A elite jornalística pensa mesmo que Trump e seus apoiadores são lixo humano, e mal consegue esconder o nojo que sente desse “povo”. Há um abismo crescente entre povo e imprensa, que vem sendo preenchido pelas redes sociais. Como quase todas são dominadas pela mesma elite “progressista”, os mecanismos de filtro, os tais algoritmos, são produzidos para retirar engajamento dos conservadores. Até Elon Musk comprar o Twitter. Ao libertar sua plataforma desse viés, os conservadores tiveram mais espaço e dominaram o debate. Daí o desespero da esquerda, e sua constante demanda por censura.
No Brasil, em estágio bem mais avançado, a plataforma X já está sob censura, mas a esquerda quer mais. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, nem esconde mais o intuito: enquanto não houver “regulação” das redes sociais, leia-se censura, a esquerda seguirá apanhando nas urnas. Se toda informação dependesse apenas da velha imprensa, a esquerda estaria salva, pois as redações dos jornais são dominadas por militantes esquerdistas que ajudam nas narrativas falsas dos políticos mentirosos. Mas as redes sociais livres furam facilmente essa bolha, e um “meme” sozinho já é capaz de derrubar toda uma “reportagem” tendenciosa.
Os jornalistas não estão sabendo lidar com essa nova realidade, e por isso apoiam a censura, o que é simplesmente bizarro. Eles preferem viver num ambiente controlado, como o chinês, a viver num ambiente de liberdade, em que acabam expostos constantemente por sua militância mal disfarçada. O jurista André Marsiglia resumiu bem a questão: “A mídia tradicional filtrou tanto as vozes que escuta que perdeu a capacidade de promover debate amplo. As redes ocuparam esse lugar, embora de forma caótica. Como no Brasil se deseja controle, não debate, no lugar de criticarmos a mídia, enxergamos as redes como um mal”.
A liberdade é meio “caótica” mesmo, pois qualquer um pode ter opinião. Mas isso é mil vezes melhor do que um filtro tendencioso dos “curadores” das notícias relevantes e suas análises. Foi-se o tempo em que o Jornal Nacional era basicamente a única fonte de conteúdo político para o povo. Graças a Deus — e às redes sociais, especialmente aquela libertada por Elon Musk. Afinal de contas, se ainda fosse como antes, todos teríamos que achar que Lula é um moderado e que o STF está salvando nossa democracia…
Rodrigo Constantino, Revista Oeste