Para Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da Federação das Indústrias do Rio(Firjan), Paulo Guedes faz muito bem em pensar no corte de verbas para o Sistema S e a indústria, em vez de adotar postura refratária à medida, tem de ajudar o futuro ministro a pensar em novas formas de bancar os serviços. “Não tem cabimento irmos a público para mostrar os benefícios sociais dessas instituições. Isso está dado. A discussão é sobre financiamento”, disse ao Estado. “Queremos debater para salvar o trabalho que fazemos ou será terra arrasada”.
A Firjan montou um conselho para repensar a representação empresarial. Ela terá de mudar?
Com certeza precisará se transformar. O trunfo que temos é que percebemos isso há 20 anos. Com um governo liberal provocando (o debate), ficou mais que evidente a necessidade de ir adiante. E tem a outra ponta, muito relacionada ao tema, que é a questão da qualificação profissional. Administramos no Rio o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), ambos com impacto social gigantesco. São 250 mil matrículas, nós mudamos a vida das pessoas. Mas não pode ser financiado, a meu ver, com impostos que oneram a folha de pagamento. É preciso descobrir outra fonte de recurso. O novo governo diz muito bem que, para as empresas seguirem adiante, elas precisam ser leves: menos estrutura de impostos e menos penduricalhos no custo da mão de obra. Precisam ser leves para empregarem mais.
É justamente o que está no radar de Paulo Guedes.
Está no radar dele e ele faz muito bem de estar no radar. O problema é descobrir a outra fonte. Temos uma equipe técnica na Firjan dedicada a estudar modelos que existem no mundo. Os orçamentos públicos para qualificação profissional na França, na Espanha e na Alemanha são robustos. A questão não é saber se essas instituições precisam existir. Claro que precisam. Não tem cabimento irmos a público mostrar os benefícios sociais delas. Isso está dado. A discussão é sobre o financiamento. O importante é pensar como podemos ter as instituições e, ao mesmo tempo, a folha de pagamento mais leve para empresários. Queremos estar abertos para discutir com a sociedade sobre o modelo. Isso distingue o Rio de instituições semelhantes. Queremos debater para salvar o trabalho que fazemos ou será terra arrasada.
Como deve ser essa nova representação empresarial?
O conselho que criamos, que Joaquim Falcão nos dá o prazer de presidir, é justamente para ajudar nessa reflexão: como a empresa se coloca junto à sociedade e como explicar à sociedade que a empresa é o único núcleo de geração de renda. Os empresários têm imagem catastrófica e isso precisa mudar. A representação empresarial oficial brasileira está baseada nos pilares que Getúlio Vargas implementou no século passado, onde existe uma parte estatal através dos sindicatos dos trabalhadores e dos empregadores de outro. E existem associações empresariais livres e espontâneas que estão aí. Com a reforma trabalhista, acabou a obrigatoriedade do imposto sindical e é evidente que, daqui a pouco, esses sindicatos vão se juntar e fazer o mesmo papel das associações setoriais.
É algo positivo?
É importante numa democracia ter o lobby honesto para advogar por determinados setores empresariais: indústria química, farmacêutica, o que for. Agora, uma democracia madura precisa ter também a voz horizontal de quem emprega. Não pode ser essa herança de Vargas onde há diferentes categorias econômicas: indústria é uma coisa, comércio outra, a agricultura outra. A Apple é o que? Indústria, serviço, comércio? Ficou evidente o envelhecimento da estrutura (de representação empresarial).
O senhor sugere uma representação empresarial única?
A representação dos diferentes segmentos é algo importante, já existe e vai continuar. Mas elas vão acabar se juntando aos sindicatos empresariais da mesma matéria. Não tem cabimento existir o Instituto Aço Brasil e, ao mesmo tempo, termos sindicato empresarial siderúrgico em São Paulo e em Minas Gerais, por exemplo. No mundo moderno, isso não cabe mais. Há a percepção de que essa estrutura está condenada a ser transformada. Se ela não for modificada, ficará indiferente. Se queremos trazer um Brasil moderno para essas empresas, não podemos ser modernos em parte. Queremos um sistema fiscal moderno, tecnologia de ponta, educação de primeiro mundo e a representação empresarial arcaica? Não pode.
O fim do Ministério da Indústria traz desafios ao setor?
Não acredito. E não vejo mal algum na fusão dos ministérios. Ter acabado com o Ministério da Indústria e ter colocado a macroeconomia e a microeconomia subordinadas à mesma estrutura é muito bom. Houve protesto, mas não vejo como sustentar oposição à essa ideia. A macroeconomia só funciona se tiver renda da microeconomia. Não existe alguém que vá colocar em risco isso.
Renata Agostini, O Estado de S.Paulo