Celebrados ambientes do marketing político, no Brasil, ainda estão atônitos com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL). Desde a semana passada, o foco deste bafafá é a reportagem com o publicitário Fernando Barros, da Propeg, na revista Época, onde o rodado profissional dá a cara à tapa e à polêmica ao demolir construções montadas sobre alicerces frágeis e movediços de meias verdades ou invencionices. Uma delas, a de que a campanha vencedora não teve marketing profissional. O sucesso seria resultado de fatores imprevistos, tipo o anti petismo; a facada no comício em Juiz de Fora; o fenômeno WhatSapp e a sorte.
Apresentado no texto de Miguel Caballero, como “precursor da dinastia baiana no marketing político brasileiro”, Barros (que abomina a expressão “marqueteiro”) não só contesta balelas, “chutes” e preconceitos, sem base em fatos, como afirma: ”o marketing bolsonarista foi um negócio sofisticado”.
A reportagem segue motivando polêmicas no país, e grande furdunço nos terreiros da Cidade da Bahia. Terra de origem, nas últimas décadas, da maioria das estrelas de primeira grandeza da propaganda política e eleitoral, desde a vitória de Antonio Carlos Magalhães, nas urnas, cinco anos depois do fim da ditadura militar.
O dono da Propeg provoca: “Eles (os marqueteiros políticos) estão até hoje tentando entender. Cada dia acordam e falam uma coisa . “Foi a facada”. “Não, foi o Whatsapp, botaram milhões de minions espalhando coisas nas redes, foi isso, foi aquilo. Ainda estão perdidos. Eu mesmo só fui acreditar na vitória dele a uma semana da eleição. Estava na Dr. Scholl, no Recife, e perguntei à moça que estava fazendo meu pé. Ela respondeu: “Bolsonaro, claro!”.
Em Salvador, comparações históricas tentam explicar o fenômeno. Uma delas recorda a campanha de ACM, quando encarou o desafio de voltar a mandar na Bahia, desta vez pelo voto popular. Os ataques mais criativos e devastadores vinham do publicitário Geraldo Walter, o Geraldão que, aos 33 anos, tocava a campanha do empresário Pedro Irujo. Inspirado no filme de Chaplin, “O Grande Ditador”, que satirizava Adolf Hitler, Geraldão bolou uma peça na qual o papel do fuhrer era encarnado por um sósia de ACM.
Em vez de negar a fama de direitista e autoritário de Antonio Carlos, sua campanha preferiu mostrá-lo como figura humana e política de múltiplas facetas. Nos terreiros de Candomblé, onde ele gozava de forte prestígio, o marketing, comandado por Fernando Barros, produziu uma peça em que ACM era chamado de “negro de pele branca”, e comparado a Oxumaré – orixá multifacetado, ao mesmo tempo homem e mulher, calmo e explosivo, rico e generoso.
ACM venceu no primeiro turno e a campanha virou referencial do marketing político no País. Quatro anos mais tarde, em 1994, Barros e Geraldo Walter (já falecido) juntaram seus talentos na campanha de Fernando Henrique Cardoso. Nascia aí o domínio marqueteiro baiano, em xeque com o Mensalão, a Lava Jato e, agora com a vitória de Bolsonaro. O perfil na revista demonstra que Fernando Barros não é mero sobrevivente, mas segue atuante, antenado e polêmico. Importa o que ele diz na revista semanal, concorde-se ou não. Espera-se que algo tão positivo, para discussão sobre o momento crucial do marketing político, não se transforme em mais uma irrelevante guerra de egos em volta da fogueira de vaidades.
Vitor Hugo Soares é jornalista
Com Blog do Noblat, Veja