quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

"Fazer autocrítica", por Miranda Sá

“É mais fácil acusar os outros do que fazer autocrítica” (Katherine Pancol – “El vals lento de las tortugas”)
Jornalistas que não conseguem se despir de camisetas partidárias e tirar da cabeça o boné ensebado do MST, insistem em transformar a notícia da crise interna do Partido dos Trabalhadores apenas como indisposição da direção partidária em fazer autocrítica.
É realmente muito mais do que isto. Omitem que se trata de uma degenerescência orgânica que afastou os idealistas e desiludiu os ingênuos que acreditavam na honestidade do chefão Lula da Silva.
A mídia omite que a antiga militância se recusa a atuar politicamente para manter o luxo dos seus dirigentes e o culto à personalidade do Pelegão, preso por corrupção e lavagem de dinheiro.
Como o PT se autodenomina “de esquerda”, fomos aos manuais para conhecer a definição marxista de autocrítica: descobrimos que é desconhecida nos dicionários da velha e da nova esquerda.
Do stalinismo, o “Pequeno Dicionário Filosófico” de Rosental e Iudin, pula do termo “atributo” para “automovimento”; e o neo-esquerdista Tom Botomore, no seu “Dicionário do Pensamento Marxista”, salta da palavra “austromovimento” para “autodeterminação dos povos”. Nada de autocrítica…
A expressão era antigamente separada por hífen, “auto-crítica”, mas o acordo ortográfico de 1990, fê-la autocrítica, verbete dicionarizado como um substantivo feminino de origem grega, “kritikè” – capacidade de julgar; de “krinein” – separar, decidir.
Define-se como a capacidade para criticar a si próprio, isto é, uma ação individual ou coletiva (grupo ou instituição), para reconhecer os erros que eventualmente tenham cometido e a perspectiva para corrigi-los.
Embora os esquerdistas só usem a palavra autocrítica da boca para fora, o filósofo Immanuel Kant emprega-a para a reflexão sobre a validade e os limites do indivíduo por si, ou associado a outros. Para Kant, se trata do julgamento estético para a arte; de mérito, para um raciocínio intelectual; lógico, para uma ideia; e, moral para o comportamento.
Deixando a Filosofia para os filósofos, encontramos uma definição do grande Nelson Rodrigues para o reconhecimento de “erros” dos lulopetistas. Diz Nelson: “Toda autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto”.
Esta expressão cai como uma luva numa organização incapaz de reconhecer que tem na presidência um fantoche de Lula, desconhecendo a realidade brasileira, isolada do povo e atuando apenas na ridícula campanha “lula livre”, incentivada pelo próprio.
Os petistas reuniram-se “ene” vezes, tantas quanto os pedidos de habeas corpus do Condenado, para discutir como fazer autocrítica lançando mão de caça-palavras para enriquecer a própria terminologia, que substitui crimes por erros ou malfeitos, e roubos por desvios…
Anteriormente desconsideraram os escorregos de Dilma na lama da incompetência e da corrupção; e considerando o meio-impeachment como “um golpe”, levaram a manada descerebrada para acusar de ilegítimo o governo constitucional de Temer, o vice-presidente que elegeram.
A tentativa eleitoral foi mais ridícula. Lulopetistas enfrentaram a Lei insistindo em fazer o Pelegão candidato; substituíram-no por um poste inexpressivo, trocaram as bandeiras vermelhas pela nacional que desprezam; Lula ficou escondido como um gato com o rabo de fora; e foram às missas dominicais usando hóstia como ópio do povo.
Perdendo a eleição para Jair Bolsonaro, passaram a chamá-lo de fascista, pegando carona nas idiotices hollywoodianas dos “antifas”, macaqueando o histerismo de facções anti-Trump da política interna dos imperialistas que abominam…
Dessa maneira, sem os petistas fazerem autocrítica, comprova-se a essência da sua desonestidade. Por isto, permitamos que esvoacem, mas fazendo como ensinou Lutero: “Não podemos impedir que um pássaro pouse em nossas cabeças, mas podemos impedi-lo de fazer um ninho”.