Vinícola do RS fabrica vinho com energia solar
Situada no município de Dom Pedrito, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, a Estância Guatambu, que atua na agricultura, na pecuária e na vitivinicultura, investiu em energia solar para diminuir os custos da fazenda na produção de vinho.
“Primeiro buscamos a energia eólica, mas descobrimos que o investimento não se pagaria. Foi aí que decidimos pela energia solar”, afirma o proprietário Valter José Pöter, 69.
Em 2016, foram implantados 600 painéis fotovoltaicos. O investimento de R$ 1,2 milhão acabou com a conta de luz de R$ 25 mil mensais.
O parque solar da Estância produz 210 mil kWh por ano, mais do que o suficiente para atender a demanda de 185 mil kWh por ano, usada na produção do vinho.
“Somos a primeira vinícola da América Latina movida a energia solar”, afirma Pöter. Devido aos bons resultados, a fazenda pretende instalar mais 300 painéis solares no início do próximo ano e usar a energia em outras atividades da propriedade.
E esse não é o único exemplo de sustentabilidade da Estância. As 50 toneladas de resíduos sólidos da casca e da semente da uva, resultantes da produção anual de 150 mil garrafas de vinho, são reaproveitadas na alimentação do gado.
“A suplementação representa 15% da ração e gerou ganho de peso dos bovinos”, conta o produtor. Segundo ele, estudo da Universidade Federal de Pelotas mostra que a técnica de usar resíduos da uva diminuiu em 20% a emissão de metano dos animais.
Sustentabilidade veio antes que o café em fazenda de MG
A mineira Isabela Paschoal era adolescente quando a família resolveu investir na produção de café em Patrocínio (centro-oeste de Minas Gerais, a 420 quilômetros de Belo Horizonte) em 1994. O pai não era cafeicultor e isso foi importante para o futuro da fazenda.
“Nós não tínhamos vícios de produtores tradicionais, e fomos questionar se havia outra maneira de fazer. Queríamos atender o mercado internacional e o caminho foi investir na sustentabilidade”, conta Paschoal, diretora de sustentabilidade da Daterra.
Antes mesmo que os cafezais começassem a ser plantados, foram definidos pilares básicos para a produção. “Investimos em pesquisa, recuperamos solos degradados e protegemos rios e nascentes.”
A Daterra tem 6.000 hectares, mas metade da área é preservada. O local é sinônimo de sustentabilidade do início ao fim. Além da separação de lixo, do uso de defensivos biológicos e do tratamento de resíduos, a propriedade também investe na educação, em programas sociais e na valorização dos 400 funcionários.
“Pensamos o entorno, a cidade que nos acolheu e até na formação de jovens para atuar no campo”, afirma. O resultado aparece na produtividade, que tem média de 58 sacas de café por hectare.
Atualmente 95% da produção vai para o exterior, para países como Japão, Inglaterra e Austrália. “A demanda de lá exige rastreabilidade e confiança. O Brasil é um país de pequenos produtores e precisamos fazer com que todos sejam sustentáveis”, diz.
No Pará, pecuarista recupera floresta com mudas nativas
A família de Mauro Costa chegou a Paragominas, no sudeste do Pará, a 305 quilômetros de Belém, na década de 1970 para trabalhar com a pecuária. Naquela época, abrir espaço para os bois com o desmatamento da floresta amazônica era uma prática comum.
Empresários fizeram fortuna extraindo a madeira no local. E a cidade foi, durante muitos anos, a campeã nacional de desmatamento.
Entretanto, com a inclusão do município na lista do Ministério do Meio Ambiente de cidades que mais desmatavam, a venda de gado e o acesso ao crédito ficaram difíceis, prejudicando a atividade.
Os produtores começaram a mudar o estigma com projeto de sustentabilidade que virou modelo para a Amazônia.
A Fazenda Marupiara, de 4.356 hectares, é uma das pioneiras num projeto de recuperação, o Pecuária Verde —uma parceria entre a Esalq do interior paulista, a ONG The Nature Conservancy e o instituto Imazon. “Numa área experimental, de cem hectares, plantamos 10,5 mil mudas de ipê, jatobá, maçaranduba, entre outras espécies nativas e frutíferas”, conta o produtor Mauro Costa. Outras 20 fazendas seguiram o mesmo caminho e participam do projeto.
“Muitos produtores daqui têm floresta por obrigação, olham com raiva para essa área e não conseguem quantificar a riqueza dela. Meu sonho é criar um boi com nível de biodiversidade maior. Entretanto, faltam políticas públicas que incentivem o reflorestamento”, afirma Costa.
Propriedade em Rondônia busca ter ‘lixo zero’
A Fazenda Don Aro, em Machadinho d’Oeste (norte de Rondônia, a 400 quilômetros de Porto Velho), é uma das pioneiras numa prática ainda pouco comum nas propriedades rurais brasileiras.
Com 1.680 hectares e 1.200 animais do cruzamento das raças Angus e Nelore, a fazenda, que também planta 340 hectares de soja, pratica um plano de lixo zero.
“Um grande problema nas fazendas brasileiras é o destino das embalagens de sais minerais, proteinados e rações, que é a sacaria feita de plástico. As fazendas normais deixam no ambiente, ou abrem fossa ou põem fogo”, explica o proprietário Giocondo Vale.
Na Don Aro, esse material é doado a produtores de carvão ou de rações para voltar a ser embalagem. O lixo doméstico vai para aterro sanitário.
Baterias de tratores, carregadeiras e caminhonetes são devolvidas aos fabricantes. Outros resíduos como filtro de motor, resíduo de graxa, papel contaminado, lâmpadas, vidros de remédios, entre outros, são incinerados a cerca de 600 km da propriedade.
“Gastamos R$ 3.000 por ano com esse trabalho. É muito pouco, é um boi e meio por ano. Não se faz reciclagem por desconhecimento”, diz.
Para o produtor, a prática tornou-se uma questão de necessidade até para que existam recursos para as gerações futuras. “Conhecimento deve ser multiplicado aos quatro cantos. Não adianta só o meu negócio ir bem. O mundo todo deve ir no mesmo sentido”, afirma Vale.
Agricultor reduz agrotóxico com manejo de pragas
A Fazenda Frankanna, que fica em Carambeí (região central do Paraná, a 138 quilômetros de Curitiba), é modelo na gestão do manejo integrado de pragas em grandes áreas de grãos. O produtor Richard Dijkstra começou a técnica há 8 anos, com o pai, Franke.
A propriedade tem 1.800 hectares plantados com soja, feijão, milho, trigo e cevada. Ao usar a técnica de manejo integrado de pragas, os agricultores conseguiram reduzir a aplicação de agrotóxicos em 50%, acabando com boa parte dos inimigos naturais dessas culturas e evitando que os insetos ficassem resistentes aos produtos.
“Economizamos de R$ 300 a R$ 380 por hectare ao ano com a redução de defensivos”, diz Richard Dijkstra.
Outra prática importante é o controle biológico. São usados nematoides e parasitas que não afetam a planta e matam a lagarta helicoverpa, uma das principais pragas da soja. “Só entramos com inseticida quando percebemos que vai ter dano econômico à safra”, explica Dijkstra.
Além do manejo de pragas, a sustentabilidade da fazenda passa pelo reaproveitamento de dejetos de animais e de todo o lixo orgânico. A parte sólida vai para a compostagem e a líquida, para os biodigestores, onde é produzido o gás metano, que gera energia.
O material processado é usado como fertilizante. “A sustentabilidade vira uma vantagem competitiva para o produtor. Se não hoje, num futuro próximo”, analisa Dijkstra.
Fazenda de SP pratica agricultura regenerativa
A produção de orgânicos é o pilar da Fazenda da Toca, que fica em Itirapina (interior de São Paulo, a 200 quilômetros da capital paulista).
Em 2.300 hectares, a sustentabilidade é baseada em pesquisa e desenvolvimento de sistemas agroflorestais, como forma de garantir a regeneração do solo, do clima e do ecossistema ao redor.
A fazenda é refúgio da família Diniz desde 1971. Mas foi em 2009 que Pedro Paulo Diniz, ex-piloto de F-1, começou um novo modelo de negócio: o local se transformou num polo de orgânicos, com destaque para a produção de 100 mil ovos por dia.
Entre as práticas inovadoras, estão o bem-estar animal das 130 mil aves, coleta automatizada, uso de medicamentos homeopáticos e as enfermarias —onde cada animal é olhado separadamente.
O propósito, entretanto, é ir além da sustentabilidade. A Toca se consolidou como um polo de produção orgânica em larga escala e em um centro de pesquisa em agricultura regenerativa.
“Nos últimos anos, desenvolvemos modelos agrícolas capazes de produzir alimentos altamente saudáveis, com eficiência, a ao mesmo tempo regenerar a terra, o ambiente e a biodiversidade”, afirma Pedro Paulo Diniz, sócio fundador da Toca.