quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Após operação, PF obtém novos indícios de repasse de dinheiro vivo a Aécio Neves

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) discursa na tribuna do Senado Foto: Roque de Sá/Agência Senado/16-05-2018
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) discursa na tribuna do Senado Foto: Roque de Sá/Agência Senado/16-05-2018

 Após a deflagração da Operação Ross na terça-feira, a Polícia Federal conseguiu obter novos indícios do repasse de dinheiro vivo em Minas Gerais destinado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), principal alvo da ação sob suspeita de ter captado ilicitamente R$ 128 milhões do grupo J&F, detentor da JBS. Em despedida do Senado nesta quarta-feira,Aécio voltou a dizer que não recebeu propina.

Um dos empresários ouvidos durante a operação, Ronosalto Pereira Neves, sócio da MartMinas Distribuidora, confirmou à PF que realizou uma operação financeira para gerar R$ 1,1 milhão em espécie a pedido da JBS, integrante do grupo J&F. Ronosalto disse que a operação foi feita por um pedido direto do empresário Joesley Batista, dono do grupo, e que o dinheiro foi retirado nos escritórios da MartMinas por um gerente da própria JBS, de nome Roberto.

É o segundo empresário varejista que confirma aos investigadores ter gerado dinheiro vivo em operações com a JBS. No primeiro caso, revelado pelo GLOBO em 16 de novembro, o dono do Supermercado BH, Waldir Rocha Pena relatou que gerou esses recursos e fez entregas de dinheiro em caixas de sabão em pó a um primo de Aécio, Frederico Pacheco. Também intimado na terça-feira pela PF durante a Operação Ross, Waldir acertou com os investigadores que prestaria depoimento em uma nova data a ser agendada posteriormente.
Os executivos da J&F relataram em delação premiada que, além do Supermercado BH, também usaram o supermercado MartMinas para gerar R$ 1 milhão em dinheiro vivo destinados a Aécio. O depoimento de Ronosalto corrobora parcialmente o relato dos delatores, existindo uma divergência somente em relação ao recebedor do dinheiro: o ex-diretor da J&F Ricardo Saud havia afirmado que os recursos foram recebidos por Frederico Pacheco, primo de Aécio, mas Ronosalto negou esta informação. O empresário mineiro também disse não ter conhecimento que o senador tucano era o destinatário final do dinheiro.
“Foram feitos cinco repasses em moeda corrente realizados nos escritórios da própria MartMinas”, afirmou o empresário. Ronosalto explicou que o dinheiro era para quitar transações financeiras da sua rede de supermercados com a JBS: “Em nenhum momento soube a destinação que Joesley Batista pretendia com a antecipação desse valor de R$ 1.100.000,00 por ele solicitado, sendo certo que tal montante estava disponível em virtude de duplicatas que existiam em poder da empresa decorrentes de produtos fornecidos pelo grupo JBS”.
Para os investigadores, as informações dadas pelos donos de supermercados corroboram a delação da J&F e constituem fortes indícios de que houve pagamentos em dinheiro vivo destinados a Aécio.
Procurada pelo GLOBO para comentar o teor desta matéria, a assessoria de Aécio Neves afirmou que ele “não foi citado no novo depoimento e, o anterior, prestado por outro empresário, foi desmentido pelos sócios dele. O senador desconhece o assunto e jamais negociou apoio político em troca de recursos. Todas as doações solicitadas por ele foram na condição de dirigente partidário e na forma da lei. As doações feitas pela JBS à campanha presidencial de 2014 encontram-se devidamente declaradas na prestação de contas do PSDB”.
Aguirre Talento e Bela Megale, O Globo