Após 18 anos de comando, Angela Merkel entrega nesta sexta-feira, 7, a liderança de seu partido conservador, a União Democrata-Cristã (CDU), da Alemanha, após uma votação histórica que escolheu Annegret Kramp-Karrenbauer (conhecida como "AKK"), de 56 anos como substituta da chanceler alemã.
Annegret Kramp-Karrenbauer secretária-geral do partido, considerada a "Merkel bis", já que defende a mesma linha de centro-direita da chanceler. A votação dos 1.001 delegados da União Democrata-Cristã (CDU) reunidos no congresso partidário em Hamburgo pode ter uma importância histórica para o país, pois "aquele que conquistar a presidência do partido mais importante na Alemanha se tornará chanceler no longo prazo", explicou à AFP o cientista político Eckhard Jesse, da Universidade de Chemnitz.
Annegret Kramp-Karrenbauer concorreu com o milionário Friedrich Merz, de 63 anos, que propunha uma guinada à direita da CDU e do país. Afastado por Merkel no passado, ele deseja retornar à linha de frente após uma década de ostracismo político. Merz acredita que a Alemanha, maior economia da Europa, deveria contribuir mais para a União Europeia (UE).
O terceiro candidato foi o jovem ministro da Saúde, Jens Spahn, muito crítico de Merkel. Em outubro, depois de 13 anos à frente da maior potência econômica e política europeia, Merkel anunciou que renunciaria como líder do partido, mas permaneceria no cargo de chanceler, em um esforço para administrar sua saída após uma série de crises desde 2015, quando tomou a polêmica decisão de manter as fronteiras da Alemanha abertas para refugiados fugindo de guerras no Oriente Médio.
Angela Merkel segue chanceler
Annegret Kramp-Karrenbauer só será candidata nas próximas eleições. A chanceler alemã, chamada carinhosamente no passado de "Mutti" (Mamãe) pela imprensa alemã, espera chegar ao fim de seu mandato como chefe de Governo, previsto para 2021. Isso dependerá em grande parte, porém, de seu sucessor à frente da CDU. Caso ela perca apoio no Parlamento ou receba votos de desconfiança, ela teria de convocar eleições antecipadas, o que é um cenário possível para analistas.
Para Eckhard Jesse, cientistas político da Universidade de Chemnitz, a possibilidade de Merkel concluir seu mandato "está praticamente descartada, pois o SPD (Partido Social-Democrata) não permanecerá na coalizão de governo até este ano". O SPD integra a coalizão de governo de Merkel e, nesse ano, demorou 5 meses para fechar o acordo de coalizão.
Caso haja antecipação das eleições, a escolha do candidato a chefe de governo na Alemanha ocorre da seguinte forma: a bancada majoritária no Parlamento sugere o nome do chanceler federal ao presidente da Alemanha, e este apresenta então o nome ao Bundestag. A votação é secreta. Para ser eleito, o candidato precisa receber metade dos votos mais um. Quando isso acontece, o presidente da Alemanha tem sete dias para empossá-lo.
'Momentos difíceis'
A chanceler alemã fez uma defesa nesta sexta-feira aos valores "cristãos e democráticos", ante o avanço das tendências populistas e nacionalistas no mundo, em seu último discurso como presidente da CDU. "Nestes momentos difíceis, não devemos esquecer nossos valores cristãos e democratas", afirmou Angela Merkel.
"Sinto reconhecimento por ter sido presidente durante 18 anos", afirmou Merkel na abertura do congresso na quinta-feira. “Foi um período muito longo, no qual a CDU passou por altos e baixos”, acrescentou.
Novo impulso para a centro-direita
Diante da pressão do partido de extrema-direita Alternativa para Alemanha (AfD) e do Partido Verde (centro), a centro-direita alemã enfrenta um cenário de declínio eleitoral e precisa de um novo impulso.
Ao lado do aliado bávaro CSU (União Social-Cristã), a CDU tem de 26% a 28% das intenções de voto, de acordo com as pesquisas. Nas legislativas de setembro de 2017, a coalizão recebeu 33% dos sufrágios.
As perspectivas eleitorais do AfD, a terceira força política no Parlamento alemão após o ótimo resultado em setembro do ano passado, ganharam força com o medo da imigração estimulada pela política de Merkel, que aceitou abrir as fronteiras do país e receber mais de um milhão de sírios e iraquianos entre 2015 e 2016.
Recuperar eleitores
Para os aspirantes à liderança da CDU, o principal objetivo é recuperar os antigos eleitores, que agora preferem a extrema-direita.
Por este motivo, Merz questionou o direito de asilo na forma como está definido na Constituição alemã. Kramp-Karrenbauer aposta na proposta de repatriar os refugiados condenados por algum crime, inclusive os sírios.
Todos os candidatos querem distância do legado de Merkel.
"Foi um erro levar a CDU para a esquerda, o que permitiu ao AfD se situar à direita sem fazer grandes esforços. Também foi um erro permitir durante meses uma perda de controle nas fronteiras", afirmou a revista Der Spiegel.
"A CDU deve reconhecer, embora com isto pareça que vão matar a mãe", completou a publicação.
O Estado de S.Paulo


