O Museu Nacional teve menos visitantes em 2017 do que o número de brasileiros que passou pelo Museu do Louvre, na França, no mesmo ano. O importante templo da História Natural situado na Quinta da Boa Vista, destruído no domingo por um incêndio de grande proporções, registrou 192 mil visitantes ao longo de todo o ano passado, conforme informou a assessoria de imprensa da instituição à "BBC News Brasil". No mesmo período, 289 mil brasileiros passaram pelo Louvre, em Paris, segundo registros do próprio museu — número 50,5% superior ao da instituição brasileira.
E essa alta taxa de visitação de brasileiros no Louvre só aumenta, ano a ano. Cresceu 82% no ano passado, em relação a 2016. Os brasileiros já são a terceira nacionalidade que mais visita a instituição, atrás apenas de americanos e chineses.
Pelo Twitter, o Louvre lamentou o incêndio do Museu Nacional, o que classificou como "grande perda para o Brasil e o patrimônio mundial":
"É com grande emoção que nós recebemos a notícia do incêndio dramático que atingiu o @museunacional do Rio de Janeiro. O Museu do Louvre manifesta sua mais forte solidariedade com o museu e suas equipes. É uma grande perda para o Brasil e o patrimônio mundial", afirmou a instituição francesa.
Ainda segundo a "BBC News Brasil", mesmo baixo, o número de visitantes no Museu Nacional em 2017 foi maior do que em 2016, quando 120 mil pessoas passaram por lá.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), autarquia federal responsável por 31 instituições culturais, a instituição do Brasil que lidera a lista de visitação é o Museu Imperial, em Petrópolis, que recebeu no ano passado 400 mil visitantes, mais do que o dobro alcançado pelo museu da Quinta da Boa Vista.
Com um orçamento de R$ 520 mil por ano, o Museu Nacional não recebia integralmente esta verba desde 2014.
META DE 1 MILHÃO DE VISITANTES NÃO ALCANÇADA
Empossado como diretor do museu cerca de quatro meses antes do 200º aniversário da instituição, comemorado em junho, o paleontólogo Alexander Kellner disse ao GLOBO, em fevereiro, que só tinha verba para medidas paliativas:
— Está na hora de as empresas contribuírem com o museu. Nosso acervo tem mais de 20 milhões de exemplares, e precisamos de ajuda para cuidar de tudo isso. São insetos, fósseis dos primeiros habitantes da América do Sul, o maior meteorito do país, entre tantas coisas. E a população não tem ideia dessa riqueza e diversidade — afirmou o diretor, na época.
Kellner também destacou a ambição de elevar o número de visitantes para 1 milhão até o fim do seu mandato, em 2021.
— Se não conseguir, vou ficar muito frustrado. Temos potencial para isso, mas estamos passando por maus momentos. Em 2017, recebemos só 190 mil pessoas — lamentou ele.
— Passaremos o ano inteiro procurando investimentos que nos permitam melhorar as exposições.
UMA HISTÓRIA PERDIDA
Localizado na Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão, Zona Norte do Rio, o Museu Nacional foi ocupado pela família imperial, entre 1808 a 1889, e foi transformado em instituição de pesquisa em 1892. A instituição era administrada atualmente pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e continha um acervo que figurava entre um dos mais ricos de antropologia e história natural da América Latina. Eram mais de 20 milhões de peças, dentre elas os fósseis humanos mais antigos das Américas, esqueletos de dinossauros e um dos poucos sarcófagos ainda fechados do mundo.
O Museu Nacional já vinha sofrendo de problemas na sua infraestrutura pelo menos desde 2016, segundo relatório interno. Em junho deste ano, o BNDES assinou um contrato de financiamento de R$ 21,7 milhões para restauração do local, e uma parcela da verba deveria ser investida em segurança contra incêndio.
Além disso, os recursos seriam destinados para uma reforma da biblioteca, localizada no Horto Botânico, e para a restauração de estruturas como o telhado do museu e os aposentos do imperador Dom Pedro II.Antes uma vitrine do Império, o museu — fundado em 1818 por D. João VI e desde 1946 vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro —, vinha sofrendo de goteiras, infiltrações e outros problemas gerais, segundo apontou relatório de 2016 da Biblioteca do Museu Nacional.