BUENOS AIRES - O juiz argentino Claudio Bonadio processou e pediu nesta segunda-feira a prisão preventiva da senadora a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), por considerá-la chefe de uma associação ilícita estruturada a partir do Estado para arrecadar fundos ilegais através de concessões de obras públicas.
Esta é a segunda vez que Bonadio solicita a detenção da ex-presidente e, também, a suspensão de sua imunidade parlamentar. A primeira vez foi no final de 2017, no caso sobre a suposta negociação de um acordo secreto com o Irã para acobertar ex-funcionários iranianos envolvidos no atentado à Associação Mutual Israelita (AMIA), que matou 85 pessoas em 1994.
Mais uma vez, o futuro de Cristina está em mãos do Senado, que até agora não avançou com a discussão do primeiro pedido de suspensão da imunidade parlamentar da senadora e ex-presidente.
Bonadio também abriu processo contra o ex-ministro do Planejamento Julio De Vido, preso desde 2017 em outros casos de corrupção, e também acusou formalmente ex-funcionários e empresários, muitos dos quais aceitaram colaborar com as investigações na categoria de “arrependidos”, com a expectativa de conseguir reduções em suas futuras condenações.
Para Bonadio, foi confirmada a existência de uma “organização criminosa formada por funcionários públicos, que usando meios oficiais (automóveis, servidores, celulares, etc…) e comandados pelos chefes do Executivo nacional (Néstor e Cristina Kirchner) e do Ministério do Planejamento Federal, Investimento Público e Serviços, atuou entre 2003 e 2015”, segundo consta em sua acusação. O período abrange os governos de Cristina e do marido, Néstor Kirchner, que morreu em 2010.
No mesmo documento, o juiz assegura que esta estrutura de corrupção teve como objetivo “obter dinheiro ilegítimo por parte de diversos particulares, muitos dos quais eram empresários contratados para obras públicas pelo Estado nacional”.
A decisão de Bonadio era esperada desde o fim de semana e põe a ex-presidente numa situação extremamente delicada. É a primeira vez que um juiz pede a detenção de Cristina por um caso de corrupção. Ela nega as acusações, diz que é perseguida politicamente e sugere que a mesma investigação deve se estender a outros governos. Ela se compara ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Muitos dos empresários “arrependidos” confirmaram ao juiz a existência da rede de corrupção e a entrega de malas com dinheiro a funcionários dos governos dos Kirchner, como pagamento de propina para serem beneficiados em concessões de obras públicas. Segundo ex-funcionários kirchneristas que também aceitaram colaborar, as malas com dinheiro eram levadas para a Casa Rosada, a residência presidencial de Olivos e até mesmo para El Calafate, em aviões da Presidência argentina.
No fim de semana passado, a senadora divulgou através das redes sociais um vídeo no qual mostra sua casa de El Calafate, na província de Santa Fé, e os danos que, segundo ela, foram provocados pelos agentes que participaram das buscas determinadas por Bonadio e realizadas no começo deste mês, incluindo paredes quebradas. As buscas, que incluíram seu apartamento em Buenos Aires, foram autorizadas pelo Senado, e ela própria votou a favor.