MARIA CRISTINA FRIAS
LUCIANA COELHO
Folha de São Paulo
LUCIANA COELHO
Folha de São Paulo
"Deu vontade de investir nos EUA", comentou um empresário brasileiro ao ouvir sobre a reforma tributária de Donald Trump e os bilhões de dólares em investimentos que devem entrar nos EUA, segundo contou o presidente americano no Fórum Econômico Mundial, na Suíça.
A Apple teria comunicado a Trump em um jantar fechado na quinta-feira (25) em Davos que, por causa da aprovação do corte de impostos e do custo para levar de volta recursos que estavam fora do país, decidiu alocar US$ 350 bilhões nos Estados Unidos.
Com a delicadeza que o caracteriza, Trump contou que um outro empresário informou que investiria US$ 2 bilhões em seu país e que ele pensou: "Coitado, [entre os 15 presidentes de empresas presentes no evento], é o que vai investir menos".
Na semana passada, em Davos, alguns empresários internacionais comentaram que têm planos para voltar a investir nos Estados Unidos.
Steven Mnuchin, o secretário do Tesouro americano, que virá ao Brasil em março, também confirmou o movimento. "Não podíamos estar mais animados com as empresas que estão fazendo investimentos. Tivemos a oportunidade de conversar com CEOs [presidentes de empresas] aqui que planejam levar operações de volta aos EUA."
A ênfase das manifestações de Trump e de sua equipe em Davos foi colocada na mensagem de que os Estados Unidos querem aumentar seu comércio e o fluxo de investimentos para lá. "Estamos abertos para negócios. Nós somos competitivos. Queremos mais comércio."
A reforma, na qual Mnuchin investiu esforços pessoalmente, também recebeu críticas por ter sido feita às pressas. A grande redução de impostos, de 35% para 21%, além de outras mudanças que favorecem os negócios, pode elevar os lucros das companhias, aumentar um pouco o emprego e tem pouca chance de incrementar salários.
Aqui e ali, comentou-se a possibilidade de guerras comerciais por governos que querem se proteger. Recentemente, os EUA aplicaram sobretaxas a máquinas de lavar e painéis solares para barrar produtos chineses.
EFEITO NO BRASIL
Para o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, a reforma tributária americana não deve ter reflexos no país. Se, com as medidas adotadas, os Estados Unidos crescerem mais, isso será bom para o Brasil. "Mas, por enquanto, ainda são planos de investimento que não se concretizaram." A expectativa é que os cortes de taxas passem a começar a valer em fevereiro.
O economista Octavio de Barros, cofundador da consultoria Quantum4, tem a avaliação de que o momento não foi adequado para diminuir tanto os impostos.
"Acho um equívoco fazer estímulos fiscais no momento em que a economia está no pleno emprego. Isso só pode complicar lá na frente o trabalho do Fed [o banco central americano], no momento em que surgirem pressões inflacionárias", diz.
"A salvação é que a revolução digital é deflacionária, pelo aumento da competição e da produtividade. Atenua os efeitos do pleno emprego e da demanda aquecida nos Estados Unidos, na Europa, na China", acrescenta.
Por outro lado, é razoável supor que algumas empresas comecem a voltar a investir nos Estados Unidos.
"Mas é muito cedo para configurar uma tendência. O crescimento americano está num ritmo tal que nem demandaria estímulo tributário ou fiscal, é um desperdício."