sábado, 13 de janeiro de 2018

"Governos tentam controlar aplicação em criptomoedas", editorial O Globo

Forte oscilação, pouca transparência e risco de atividades ilegais acendem a luz amarela sobre o bitcoin e congêneres


Na sexta-feira, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) proibiu fundos de investir em bitcoin e outras criptomoedas, confirmando a indicação do Banco Central e da própria CVM de que essas moedas virtuais não são oficiais, como o real.


Com a medida, o Brasil se alinha a outras nações que têm demonstrado preocupação com esse tipo de investimento altamente tecnológico, mas que não guarda lastro real, como o ouro, o dólar e outras formas tradicionais de investimento.

Apesar da falta de transparência, a facilidade de aplicação e o apelo tecnológico geraram uma febre que se espalhou pelo mundo, pegando autoridades monetárias despreparadas para regular esse tipo de investimento, que cresceu vertiginosamente. A Binance.com, uma das mais renomadas corretoras de criptomoedas de Hong Kong, informou, na sexta-feira, que, em apenas uma hora, registrou 240 mil adesões. Não à toa, no ano passado, o bitcoin se valorizou mais de 1.300%.

Mas, à medida que governos começaram a expressar preocupação com respeito a esquemas de lavagem de dinheiro e fraudes financeiras, do tipo pirâmide, além do risco de bolhas especulativas, o preço dessas moedas virtuais despencou. Só na semana passada, o bitcoin, a mais conhecida delas, pulverizou cerca de 20% dos ganhos. Outras criptomoedas, como ethereum e ripple, também sofreram forte desvalorização.

Segundo agentes de mercado, a queda foi motivada em grande parte pelo anúncio do Ministério da Justiça da Coreia do Sul de que pretende proibir esse tipo de atividade. O país possui uma das maiores demandas por moedas virtuais. Em meio ao pânico gerado pelo anúncio, o governo sul-coreano amenizou a notícia, informando que a proibição é apenas uma entre várias medidas em estudo, entre as quais a criação de um tributo sobre as criptomoedas. De qualquer modo, o governo de Seul reiterou que essas aplicações podem “corromper” a juventude.

Já Pequim determinou o fechamento de algumas agências de mineração das criptomoedas, cujo uso de alta tecnologia levou as autoridades a temerem a perda de controle. Em Moscou, o governo de Vladimir Putin também está dividido sobre a questão. Autoridades pressionam a presidente do Banco Central russo, Elvira Nabiullina, a liberar o novo investimento, classificado por ela como uma espécie de esquema de “pirâmide”.

Além dos riscos citados, sobretudo o de lavagem de dinheiro, o investimento em criptomoedas demonstra todos os sinais clássicos de bolha. A última vez que uma bolha financeira estourou, empurrou o mundo para a crise de 2008/9, da qual ainda não nos recuperamos totalmente.