Em 1971, estourou a notícia de que o lendário e recluso bilionário americano Howard Hughes, 66 anos, estava escrevendo sua autobiografia com a ajuda de um profissional. Hughes, depois de uma carreira espetacular como aviador, construtor de aviões e magnata em Hollywood, tendo namorado todas –todas– as estrelas do cinema, resolvera sair de cena. Escondera-se nas Bahamas e, desde 1958, ninguém mais o vira ou falara com ele.
Havia todo tipo de especulação. Dizia-se que tinha medo de germes, que ficara desfigurado por uma doença ou que morrera e alguém se passava por ele. Por tudo isso, sua autobiografia seria sensacional. Mas era mentira. Não havia autobiografia.
Clifford Irving, 41 anos, era um especialista em falsificadores. Cansado de escrever sobre eles, resolveu ele próprio falsificar uma autobiografia de Hughes. Forjou uma carta em que Hughes "o convidava" a fazerem o livro juntos. Com ela, Irving vendeu o projeto à editora McGraw-Hill e, enquanto escrevia o texto, levou quase US$ 1 milhão em adiantamento de royalties, direitos de serialização e venda para edição de bolso. Contava com que, maníaco por sua privacidade, Hughes nunca fosse denunciá-lo.
Enganou-se. Hughes chamou a imprensa, desmentiu tudo e um juiz meteu Irving na cadeia por quase dois anos. Até aí, tudo bem. Veja agora a força do sistema nos EUA.
Em 1972, Irving escreveu outro livro, "A Fraude", contando por que fizera aquilo, e foi um best-seller. Em 1974, Orson Welles, ninguém menos, fez um filme a respeito, "Verdades e Mentiras", com Irving em destaque. Em 2006, "A Fraude" foi filmada, com Richard Gere no seu papel. E, em 2012, a "autobiografia" original saiu em e-book, como o "livro inédito mais famoso do século 20". Irving morreu no dia 19 último, aos 87 anos, na Flórida, feliz da vida.