O Globo com agências internacionais
SEUL - A Coreia do Norte anunciou que restabelecerá o canal direto de comunicação intercoreano nesta quarta-feira, após dois anos de suspensão dessa via de diálogo. O anúncio foi feito um dia depois de a Coreia do Sul propor manter conversas de alto nível com Pyongyang na próxima terça-feira na cidade de Panmunjom — cidade na fronteira onde se firmou o acordo de cessar-fogo entre as duas Coreias no fim da guerra (1950-1953).
Além disso, o líder norte-coreano Kim Jong-un saudou o apoio de seu vizinho do Sul à sua oferta de paz feita durante um pronunciamento de Ano Novo, indicou um alto dirigente norte-coreano. Em seu discurso no primeiro dia de 2018, Kim alertou que tinha o "botão nuclear" às suas ordens, mas adotou um tom conciliatório com Seul. Em contrapartida, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rebateu que seu botão nuclear é maior e mais poderoso que o dispositivo de Kim Jong-un.
O líder da Coreia do Norte celebrou a atitude do presidente sul-coreano Moon Jae-In depois que ele apoiou sua proposta para melhorar as relações intercoreanas e sua sugestão de que a Coreia do Norte poderia participar nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, informou Ri Son-Gwon, o chefe do Comitê Norte-coreano para a reunificação da Coreia, falando à tv estatal norte-coreana.
"De acordo com uma decisão da liderança, vamos estabelecer um contato próximo à Coreia do Norte, de forma sincera e fiel", disse Ri Son-Gwon, citado pela agência sul-coreana Yonhap.
O objetivo do encontro na próxima terça-feira é, além da participação da Coreia do Norte no evento esportivo, abordar "outros assuntos de interesse mútuo para melhorar as relações coreanas", explicou o ministro sul-coreano da Unificação, Cho Myoung-gyong.
O gesto norte-coreano ocorreu poucas horas depois de Trump, que apelidou Kim de "homenzinho do foguete", voltar a ridicularizar o líder norte-coreano no Twitter.
"Alguém do regime depauperado e faminto pode por favor informá-lo de que eu também tenho um botão nuclear, mas é um muito maior e mais poderoso do que o dele, e meu botão funciona!", escreveu no Twitter.
Trump e Kim vêm trocando comentários beligerantes há meses, o que tem provocado alarme em todo o mundo, e em algumas ocasiões Trump desdenhou da perspectiva de uma solução diplomática para uma crise em meio à qual a Coreia do Norte ameaçou destruir os EUA.
DIÁLOGO INTERROMPIDO
O Norte e o Sul estão separados há décadas pela Zona Desmilitarizada (DMZ), uma das fronteiras mais fortemente armadas do mundo. As últimas discussões bilaterais, em dezembro de 2015, fracassaram. A linha telefônica de Panmunjon era utilizada duas vezes por dia antes de ser interrompida em fevereiro de 2016, após a deterioração das relações bilaterais relacionadas a uma disputa sobre o complexo industrial conjunto Kaesong.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-In, há muito defende o diálogo, mas Washington sempre ressaltou que não aceitará uma Coreia do Norte com armas nucleares. Pyongyang diz que precisa da arma atômica para se proteger da hostilidade de Washington, e tenta desenvolver uma ogiva nuclear capaz de atingir o território continental dos Estados Unidos.
A ONU adotou uma série de sanções na tentativa de dissuadir a Coreia do Norte, sem sucesso.
Moon elogiou o Norte por "uma resposta positiva à nossa proposta de tornar as Olimpíadas de Pyeongchang uma oportunidade revolucionária para a paz".