quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

"A queda do desemprego e a reforma", por Alexandre Schwartsman

Folha de São Paulo


Segundo dados do Ministério do Trabalho referentes à criação e destruição de empregos formais (Caged), houve em novembro destruição líquida de 12,3 mil postos, dado que foi rapidamente tomado por uns como prova do efeito negativo da reforma trabalhista que entrou em vigor naquele mês. Oportunismo misturado com ignorância, com preponderância do primeiro fator.

A começar porque deixa de lado o comportamento sazonal das séries, isto é, das flutuações dentro do ano que refletem particularidades de cada período, como, por exemplo, o aumento das vendas no Natal ou a queda da produção industrial durante o Carnaval. Uma vez ajustada a série a seu padrão sazonal, estima-se criação líquida de algo como 17 mil postos em novembro, um pouco mais do que o registrado em outubro (13 mil postos), e o segundo valor positivo neste critério depois de 35 meses negativos.

Além disso, se fôssemos julgar os efeitos da reforma trabalhista pelos resultados de novembro apenas, teríamos também que reconhecer a nova queda da taxa de desemprego registrada no mês, de 12,2% para 12% de acordo com os dados do IBGE (ou de 12,6% para 12,5% em termos dessazonalizados). Seria a reforma um sucesso?

Obviamente, não se trata de uma coisa, nem de outra. Não há como avaliar, ao menos não honestamente, o efeito da reforma trabalhista com base na observação de um único mês. Não apenas serão necessárias muitas outras observações, como também a análise precisará ir além do "subiu" ou "desceu", porque o mercado de trabalho deve continuar a melhorar este ano, com base na mesma dinâmica que vigorou em boa parte de 2017.

O desemprego, por exemplo, atingiu seu pico em março de 2017, quando o dado original do IBGE apontou para uma taxa de 13,7% naquele trimestre (13,0% com ajuste sazonal) e vem em queda lenta, porém consistente, desde então. Da mesma forma, o emprego total –que caíra pouco abaixo de 89,5 milhões dessazonalizado– subiu para 91,5 milhões também sazonalmente ajustado. Assim, o emprego, que havia se reduzido a 53,5% da população em idade ativa, agora corresponde a pouco mais de 54% dela, longe de seus melhores momentos, mas em clara evolução.

Posto de outra forma, já há uma recuperação em curso e, com a aceleração do crescimento agora em 2018, não é difícil concluir que a geração de emprego será ainda mais vigorosa (e de melhor qualidade do que em 2017) e que o desemprego cairá, ainda que se mantenha na casa de dois dígitos.

Será isso motivo para saudar a reforma trabalhista? Se fôssemos usar os parâmetros dos críticos de hoje, a resposta seria afirmativa. Se, porém, usarmos critérios honestos, teremos que comparar o desempenho de 2018 àquele que vigoraria na ausência da reforma, tarefa bem mais complicada, ainda que não impossível.

Isso dito, não há mais dúvidas sobre a recuperação da economia. Os que afirmavam que esta seria impossível sem o estímulo do gasto público tiveram que mudar a "narrativa", que agora foca a "lentidão da retomada", como se esta não fosse consequência do excesso de endividamento público causado por suas políticas irresponsáveis.

De qualquer forma, quando aparecer novo número negativo do Caged de dezembro, como ocorreu em todos os dezembros dos últimos 24 anos, não caiam no conto dos oportunistas.