O Ministério da Saúde lançou na terça-feira passada (21) a campanha de prevenção para o Carnaval deste ano. Com o slogan “No Carnaval, use camisinha e viva essa grande festa!”, as peças publicitárias trazem o panorama de 260 mil pessoas vivendo com HIV e que ainda não estão em tratamento, e também de 112 mil brasileiros que têm o vírus e não sabem.
O Ministério da Saúde investiu cerca de R$ 25 milhões na campanha deste ano, com o objetivo de incentivar o uso de preservativos, além de alertar para as infecções sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada.
Os jovens são o foco da campanha, já que essa é a faixa etária que menos usa camisinha. Pesquisa de Conhecimento, Atitudes e Práticas indica queda no uso regular do preservativo entre os que têm de 15 a 24 anos, tanto com parceiros eventuais – de 58,4% em 2004 para 56,6%, em 2013 – como com parceiros fixos – queda de 38,8% em 2004 para 34,2% em 2013.
O personagem Homem Camisinha, criado pelo Ministério da Saúde em 2016, tem o objetivo de sensibilizar os jovens, interagir e informar o público, além de distribuir preservativos nos blocos de rua nos principais carnavais do país. Todos os estados e o Distrito Federal foram abastecidos com preservativos para as ações do Carnaval. Estavam disponíveis nos pontos de distribuição 74 milhões de preservativos masculinos e 3,1 milhões de preservativos femininos. A campanha será veiculada entre os dias 21 e 28 de fevereiro.
“Intensificamos no Carnaval a campanha de prevenção ao HIV/aids, mas distribuímos camisinhas o ano todo. Este ano, estamos apelando especialmente aos jovens que usem camisinha, façam a testagem e, se infectados, busquem tratamento, que é gratuito e o melhor do mundo. E que no carnaval só tenhamos boas lembranças”, alertou o ministro da saúde, Ricardo Barros, no lançamento da campanha de carnaval deste ano em Salvador.
Com relação aos ainda mais novos, os dados preocupam ainda mais. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), realizada nas escolas de todo o país com adolescentes de 13 a 17 anos, reforça esse cenário: 35,6% dos alunos não usaram preservativos em sua primeira relação sexual. O percentual das meninas que tiveram relação sem camisinha é de 31,3%, e dos meninos, é ainda maior: 43,02%. O mesmo estudo aponta que, quanto mais jovem, menor é o uso da camisinha. Enquanto 31,8% dos jovens de 16 e 17 anos não usaram preservativos em sua primeira relação sexual, esse índice sobe para mais de 40% entre os jovens de 13 a 15 anos.
Uma das justificativas sobre o jovem não ter o hábito de usar camisinha é o fato deles não terem vivido o risco de morte da doença. “Os mais velhos viram ídolos morrendo de aids, como Cazuza. Mas, hoje o tratamento é gratuito e está disponível no SUS. O fato é que as pessoas não estão mais morrendo, embora percam qualidade de vida. Então, é preciso que a população entenda o risco que envolve a transmissão da aids e se proteja. Queremos evitar que novos casos, todos os anos, se somem aos 800 mil brasileiros que já tem o vírus”, completou Ricardo Barros.
O hábito de não usar camisinha tem impactado diretamente o aumento de casos de HIV e aids entre os jovens. No Brasil, a epidemia avança na faixa etária de 20 a 24 anos, na qual a taxa de detecção subiu de 15,6 casos por 100 mil habitantes, em 2006, para 21,8 casos em 2015. Entre os mais jovens, de 15 a 19 anos, o índice mais que dobrou, passando de 2,8 em 2006 para 5,8 em 2015.
Outra característica preocupante é que, dentre todas as faixas etárias, a adesão ao tratamento nesse grupo é a mais baixa. Apenas 29,2% dos 44 mil jovens identificados no Sistema Único de Saúde (SUS) com a doença estão em tratamento. Os dados mostram que a cobertura cresce à medida que aumenta a idade das pessoas vivendo com HIV e aids. Na faixa de 25 a 34 anos, esse percentual é de 77,5%, mantendo-se superior a 80% em todas as outras faixas etárias até chegar a 84,3% entre os indivíduos acima de 50 anos.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV e Aids divulgado no final do ano passado, 827 mil pessoas vivem com o HIV. A epidemia no Brasil está estabilizada, com taxa de detecção em torno de 19,1 casos a cada 100 mil habitantes. Isso representou 40,9 mil casos novos, em média, no período de 2010 a 2015.