sexta-feira, 31 de março de 2017

Os outsiders se apresentam

Donos de personalidades distintas, João Doria, Henrique Meirelles, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa exibem suas credenciais para 2018. A principal delas: encarnam o antipolítico tradicional e são diferentes de tudo o que está aí


Os outsiders se apresentam
JOÃO DORIA - Com os principais nomes do PSDB encalacrados com a Lava Jato, o prefeito de São Paulo surge como alternativa dos tucanos na disputa presidencial. Além de empresário, tem a seu favor o fato de não estar ligado a nenhum esquema de corrupção
Se todos concordam que o cenário para as eleições presidenciais de 2018 ainda encontra-se nebuloso, já é quase um consenso no meio político que ao menos um horizonte é possível enxergar: o de que o próximo pleito será um terreno fértil para os candidatos de fora da elite política do País. Os chamados “outsiders”. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define o outsider como a “pessoa que não pertence a determinado grupo; estranho, intruso, forasteiro”. Mas o candidato outsider não precisa ser necessariamente um neófito no mundo político. Para se enquadrar nessa condição, basta encarnar o antipolítico tradicional (não o “não-político) e agir de modo distinto a tudo o que está aí hoje, principalmente durante o exercício da gestão. Por isso, quem larga no pelotão de frente é o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Embora estivesse há 13 anos à frente do Lide – Grupo de Líderes Empresariais –, cuja atuação envolve, entre outras atividades, a promoção da integração entre entidades privadas e o poder público a fim de viabilizar projetos sociais, o que caracteriza uma atividade eminentemente política, ainda que apartidária, Doria personifica como ninguém o “novo” na política. O prefeito da maior cidade do País está em sintonia fina com os anseios da sociedade moderna. Senão vejamos: em 100 dias de gestão, a serem completados nesta semana, reduziu a máquina municipal, cortando sobretudo os supérfluos e desperdícios, mas não se apoquentou com os limites do Orçamento. Para suprir necessidades básicas da população, como a aquisição de medicamentos, negligenciada pela gestão anterior, Doria apostou nas parcerias com empresas privadas. Também mostrou jogo de cintura ao praticamente zerar a fila de espera para exames em São Paulo, ao implementar o programa Corujão da Saúde. Antes, para marcar um exame o paulistano esperava seis meses em média.
Gilmar Mendes - É o ministro do STF que mais se aproxima dos outros poderes. Além trânsito junto ao presidente Michel Temer, é presença assídua em discussões polêmicas no Congresso, como debate sobre projeto de abuso de autoridade no Senado
GILMAR MENDES – É o ministro do STF que mais se aproxima dos outros poderes. Além trânsito junto ao presidente Michel Temer, é presença assídua em discussões polêmicas no Congresso, como debate sobre projeto de abuso de autoridade no Senado
Seus subordinados obedecem a um rigoroso código de conduta, que prevê multa para quem chegar com atraso ao serviço. Carros oficiais e telefones celulares foram drasticamente reduzidos. Se são marcadas reuniões em locais com menos de 5km de distância do local de trabalho, o servidor gasta sola de sapato: vai a pé. O exemplo vem de cima – a cereja do bolo: o “João Trabalhador” não é só marketing eleitoral. Ele trabalha, trabalha, trabalha e amassa barro mesmo. A faina preocupa os mais próximos. Não por acaso. Se antes ele dormia entre quatro e seis horas por dia, agora o tempo para a pestana foi reduzido para uma hora e meia. Virou rotina. Logo cedo, lá está Doria com a mão na enxada ou na vassoura – vestido de gari – debaixo de sol a pino para limpar a cidade ou a providenciar pequenos reparos nas ruas. É como dizia o saudoso narrador de futebol: “é disso que o povo gosta”. O resultado não poderia ser outro: Doria é aprovado por 70% da cidade.
Henrique Meirelles - Uma possível candidatura dependerá do seu desempenho na condução da economia. Mas precisa recolocar o País nos trilhos do crescimento, com redução de gastos públicos e reforma da Previdência
HENRIQUE MEIRELLES – Uma possível candidatura dependerá do seu desempenho na condução da economia. Mas precisa recolocar o País nos trilhos do crescimento, com redução de gastos públicos e reforma da Previdência
O sucesso de público o credencia para vôos mais altos. Até entre os aecistas, o prefeito já é considerado uma importante alternativa para 2018, uma espécie de plano “B” que a qualquer momento pode se converter a “A”. De qualquer forma, a viabilidade de sua candidatura não está atrelada ao PSDB. Como outsider, Doria pode abrir mão da máquina partidária tucana se tiver outra ao alcance das mãos. Para deleite dos seus entusiastas, em sua maioria opositores do PT e refratários ao petismo “way of life”, ele ainda encarna como ninguém o anti-Lula. Em suas últimas aparições, sacou frases como essas: “Já viu a turma de esquerda gostar de trabalhar? Pergunta ao Lula se ele gosta de trabalhar”. E acrescentou com o que hoje soa como música aos ouvidos dos anti-petistas: “Estou fazendo gestão, administração, com transparência, competência e trabalho. Lula trabalhou oito anos na vida e tem aposentadoria, tríplex, fazendinha, sitiozinho. Cada vez que vejo o sem vergonha do Lula falar mentira, ponho mais uma hora de trabalho e dedico a ele”.
No páreo
Correndo numa raia paralela está o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Apesar de ser filiado ao PSD e já ter sido eleito pelo PSDB como deputado federal de Goiás em 2002, Meirelles passou a maior parte do seu mandato exercendo o comando do Banco Central do governo Lula. Por isso, à sua imagem não ficou associada a pecha de político profissional. Porém, para que ele se lance na corrida presidencial de 2018, o ex-presidente mundial do BankBoston depende de dois fatores: a economia voar como um foguete e o governo Temer não ter nome para colocar na disputa. Mas, como Doria, Meirelles seria um outsider clássico, só que com uma pegada mais econômica.
Joaquim Barbosa - Principal nome do STF durante o julgamento do mensalão, Barbosa chegou a ser cogitado por alguns partidos políticos, entre os quais, o PSB. Aposentado desde 2014, permanece ativo nas redes sociais
JOAQUIM BARBOSA – Principal nome do STF durante o julgamento do mensalão, Barbosa chegou a ser cogitado por alguns partidos políticos, entre os quais, o PSB. Aposentado desde 2014, permanece ativo nas redes sociais
Outra figura que cultiva uma boa imagem, por sua trajetória de combate à corrupção, é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa. Relator do mensalão e enfático em suas posições contra corruptos, o magistrado aposentado chegou a ser convidado no início deste ano para se filiar à Rede. Por enquanto, as conversas ainda não avançaram, mas Barbosa está ativo nas redes sociais. Afiado, não perde a oportunidade de entrar em bola dividida e adora uma boa polêmica.
Marqueteiros e políticos ouvidos por ISTOÉ acreditam que há sim espaço para candidaturas competitivas oriundas do Judiciário. Entre os Três Poderes, é o que goza de melhor aceitação perante a população. “Esse quadro oportuniza alternativas”, avalia. “Entre as quais, alguém do Judiciário”, reconhece o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). Para o senador, a economia e os desdobramentos da Lava Jato devem puxar uma fila de novos candidatos. “Acredito que a Operação Lava Jato vai influenciar na política. Mas acho que pouco provável que ela seja avassaladora. Juiz prende, mas não elege. Quem elege é o eleitor”, contrapõe o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). Há quem identifique no comportamento do presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo, Gilmar Mendes, uma insinuação para uma possível candidatura. Além do afã de pontificar sobre todo e qualquer tema, Gilmar alcançou o posto de principal interlocutor do STF com o governo Temer e com o Legislativo. Candidato ou não, ele, assim como o meio político em peso, sabe que está aberta a temporada de procura de outsiders. O político tradicional terá de cortar um dobrado se quiser encher os olhos do cada vez mais rigoroso eleitor.