Leticia Moreira - 19.nov.2009/Folhapress | |
Presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco |
MARIANA CARNEIRO - Folha de São Paulo
A inadimplência de grandes empresas durante a crise levou os maiores bancos do país ao divã, nas palavras de Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco.
Em debate com os gestores dos maiores bancos do país —Itaú, Unibanco e Banco do Brasil—, ele disse que a renegociação de dívidas com empresas que foram à inadimplência é uma das marcas que a recessão deixa para o sistema financeiro.
"Fomos ao divã", disse ele, falando sobre extensas negociações que os bancos travaram com empresas em dificuldade.
Grandes companhias não resistiram ou à recessão ou à Lava Jato e provocaram enormes perdas ao sistema financeiro. A lista inclui a Sete Brasil, engolida pela investigações de corrupção na Petrobras, na Odebrecht e na Oi.
Roberto Setubal (Itaú) e Paulo Rogério Caffarelli (BB) assentiram.
Não foram só as grandes empresas que provocaram dores no sistema financeiro. No debate dos banqueiros, diante de uma numerosa plateia de investidores e analistas do mercado financeiro em São Paulo, nesta quarta (29), Caffarelli lembrou que a prolongada recessão multiplicou o número de empresas em recuperação judicial em 2016.
Segundo a Serasa Experian, 1.863 empresas buscaram a saída jurídica para evitar a falência no ano passado, maior número desde que o instrumento entrou em vigor (2005).
Escaldados, os bancos aumentaram as exigências e encolheram o crédito.
Setubal disse que no Itaú o aprendizado da crise foi revisar a política de crédito para grandes empresas, área em que ocorreram as maiores "surpresas" desta crise.
A queda da taxa de juros, hoje em 12,25% ao ano, não representa um risco para a rentabilidade dos bancos, afirmou o presidente do Itaú. Mais complicado, argumentou, é a recessão.
Os três banqueiros indicaram que veem a severa crise no retrovisor.
Trabuco afirmou que há sinais de melhora do crédito já em curso. Caffarelli prevê que as evidências mais claras da recuperação vão aparecer no segundo semestre.
CRÉDITO
A opinião corrente entre economistas é que a atual queda da taxa de juros ajuda a desafogar empresas com elevadas dívidas financeiras.
Mas, por enquanto, o volume de empréstimos na economia continua encolhendo.
Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o saldo de crédito na economia nos 12 meses encerrados em fevereiro estava 3,5% menor do que o do mesmo período, encerrado em fevereiro do ano passado. Para as empresas, a contração foi de 9,8%.
Segundo Alberto Ramos, diretor de pesquisas do Goldman Sachs para a América Latina, o crédito segue escasso mas dá sinais de melhora. A queda nos empréstimos, nota ele, está ficando menos intensa, mês a mês, desde o fim do ano passado. E a inadimplência dá sinais de moderação. A taxa estacionou em 3,7% há três meses, após o pico de 3,9% em outubro.
O custo entretanto continua elevado. A taxa de juros com recursos livres (sem contar o crédito rural e o do BNDES, por exemplo) aumentou de 52,9% para 53,2% ao ano entre janeiro e fevereiro. Para as empresas, a taxa ficou estável.