segunda-feira, 27 de março de 2017

"David Rockefeller e Robert Silvers", por Kenneth Maxwell

O Globo

Ambos eram exemplos da velha guarda e, cada um à sua maneira, representantes dos melhores valores fundamentais do establishment de Nova York


Segunda-feira passada, dois eminentes nova-iorquinos faleceram. Ambos exemplos da velha guarda e, cada um à sua maneira, representantes dos melhores valores fundamentais do establishment de Nova York. David Rockefeller foi um banqueiro e filantropo, e o último dos irmãos Rockefeller. Ele tinha 101 anos. Robert Silvers foi o editor e fundador do “New York Review of Books”. Ele faleceu aos 87 anos.

David Rockefeller foi por muito tempo membro do Council on Foreign Relations, no qual eu trabalhei como diretor de estudos por seis meses em um momento crítico. David Rockefeller era um quieto, mas efetivo aliado. Ele convidava toda a equipe do conselho para uma de suas propriedades, à margem do Rio Hudson. Recebi, em sua presença, o primeiro título de membro sênior Nelson e David Rockefeller para Assuntos Interamericanos do conselho. Depois, na Universidade de Harvard, onde havia sido aluno, teve o seu nome homenageado pelo Centro David Rockefeller para Assuntos Latino-americanos, do qual foi um dos fundadores, juntamente com amigos latino-americanos, que eram muitos.

Ele não interveio em minha disputa no conselho sobre o papel de Henry Kissinger no Chile, mas apoiou com veemência a minha subsequente nomeação para o Centro David Rockefeller em Harvard. Ele era gentil e modesto, apesar de sua fortuna e de suas tradições. Eu sempre considerarei tê-lo conhecido como um dos meus maiores privilégios.
Robert Silvers era um homem de letras e um maravilhoso editor. Eu o conheci em 1974, quando fazia parte do Instituto de Estudos Avançados, em Princeton. Eu estava convencido de que o velho regime ditatorial em Portugal estava enfrentando um grande desafio, e poderia não durar muito. Ninguém mais pensava isso.

Com a anuência de Silvers, eu pude ir a Lisboa em março de 1974, na véspera da Revolução dos Cravos, que trouxe consigo a rápida descolonização de Guiné-Bissau, Moçambique e Angola. Quando os meus artigos, sobre aquele período tempestuoso em Portugal, foram publicados no “New York Review of Books”, eu fiquei arrebatado. A revista de Robert Silvers era um dos poucos meios de comunicação que acompanhavam tais acontecimentos de perto. Bob Silvers era um amigo maravilhoso. E foi igualmente maravilhoso poder trabalhar com ele por mais de 40 anos.

Bob Silvers e David Rockefeller foram grandes representantes da velha Nova York. 

Sentiremos muito a falta dos dois, ainda mais em tempos como este, em que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, eterno arrivista em Manhattan, toma para si a face do novo nova-iorquino.

Kenneth Maxwell é historiador