sábado, 4 de fevereiro de 2017

'Temer precisa arbitrar briga por cargos no PMDB', diz Rodrigo Maia

DANIEL CARVALHO
RANIER BRAGON
ANGELA BOLDRINI

Folha de São Paulo


Um dia após ser reeleito presidente da Câmara com 293 votos, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse nesta sexta-feira (3) não acreditar que a disputa pelo comando da Casa cause um racha na base aliada, mas alertou o presidente Michel Temer a cuidar do apetite de seu próprio partido, o PMDB.

Em entrevista à Folha, o presidente da Câmara defendeu a ascensão de seu sogro, Moreira Franco, ao cargo de ministro da Secretaria Geral da Presidência da República e refutou comparações com movimento semelhante feito pelo governo Dilma Rousseff com o ex-presidente Lula, no ano passado.

Maia também negou envolvimento com a Lava Jato, afirmando que o enredo da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, é falso.
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Folha - O sr. prega independência da Câmara em relação ao Judiciário. Como será sua relação com o STF?
Rodrigo Maia - Com diálogo, harmonia, mas querendo respeito da parte que cabe à Câmara, de legislar. O Supremo tem legislado. Muitas vezes, a própria Câmara é responsável pelo empoderamento do Poder Judiciário. O grande protagonista da eleição foi saber se haveria uma liminar ou não contra a minha candidatura. Não foi um debate sobre a Câmara. Nós temos que ser os responsáveis pela harmonia entre os Poderes.

O sr. acha que as arestas criadas na base nesta eleição podem refletir em votações?
Acho que essas arestas não existem. O problema do PMDB não vem de hoje. O processo de impeachment gerou estruturas muito maiores do que seu tamanho real antes –o PMDB foi um caso– e depois. O presidente Michel Temer está arbitrando esses espaços.
A base fazia o discurso "o PT já tem o presidente [da República], não precisa ter o resto". Agora, é diferente: "o PMDB já tem o presidente, não precisa ter o resto". Só que o PMDB não pensa assim. O presidente vai precisar arbitrar esse conflito, que não tem relação com a eleição. Tem relação com o espaço generoso que a presidente Dilma deu ao PMDB para tentar evitar o impeachment, e ao espaço menor que as expectativas de deputados do PMDB pós-impeachment.

A delação de Cláudio Melo Filho [executivo da Odebrecht que o aponta como beneficiário de R$ 600 mil] é uma de 77 delações. De que forma eventuais menções preocupam o sr.?
Não preocupam, o enredo é falso, o tempo vai resolver isso. A minha defesa e o trabalho do Ministério Público vão chegar claramente à certeza de que aquele enredo é falso, e o inquérito, se houver, será arquivado.

O sr. conhecia o Cláudio?
Claro que sim, tinha uma boa relação com ele.

Era uma relação pessoal, profissional?
Tinha uma relação pessoal com ele.

Ele diz na delação que o sr. era ponto de interlocução que ele via da Câmara em defesa da empresa. O sr. chegou a discutir questões de interesse da empresa?
Discuti vários temas com ele. Em alguns momentos concordava com a posição dele e em outros, não. Na questão do Galeão, divergi frontalmente da posição dele, achava que era um absurdo restringir os outros consórcios de participar [na época do leilão, em 2013, o governo restringiu a participação de companhias que já operavam em outros aeroportos]. Mas sempre foram conversas muito tranquilas, nunca teve nenhum tipo de ambiente de troca, nada disso, então esse enredo é totalmente falso.

O que o sr. achou da ascensão de seu sogro [Moreira Franco] a ministro do Temer? Não é semelhante ao que ocorreu no governo Dilma com Lula?
Não acho, acho que o governo precisava de alguém que estivesse no Planalto e que organizasse uma das partes mais importantes, que é a comunicação. Ele tem competência para tocar isso e os outros projetos que ele já vinha tocando. Essa foi a decisão do presidente e foi acertada. Tem que tomar cuidado porque há uma delação, não há ainda uma denúncia. Então tem que tomar cuidado para não tirar da pessoa o seu direito antes que uma investigação do MP avance.

O sr. pretende votar novamente algum projeto de anistia ou abuso de autoridade?
Abuso de autoridade tem um debate que está sendo proposto pelo próprio Ministério Público. Até o dr. [Rodrigo] Janot [procurador-geral da República] ficou de encaminhar um texto para iniciar o debate, vamos fazer um debate de forma transparente.

E anistia a caixa dois?
Se tivesse maioria para esse tema avançar na Câmara, já tinha avançado.