Ed Ferreira - 20.mai.2015/Folhapress | |
O presidente da FIESP, Paulo Skaf |
CATIA SEABRA
THAIS ARBEX
Folha de São Paulo
THAIS ARBEX
Folha de São Paulo
Defensor ardoroso do impeachment da presidente Dilma Rousseff, Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), se reúne com frequência com o vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Nesta terça (29), quando o PMDB rompeu com o governo, ele diz que o partido deu também uma "demonstração de unidade" para a votação do impeachment.
Derrotado na eleição ao governo paulista em 2014, Skaf é apontado como pré-candidato ao mesmo cargo em 2018, de novo pelo PMDB.
Acusado de fomentar a divisão no país –fornecendo até comida aos apoiadores do impeachment acampados na av. Paulista–, ele rechaça, em entrevista à Folha, o rótulo de "marechal de impeachment".
"O Brasil tem coisas muito mais importante para se preocupar do que se seis, sete, oito jovens almoçaram aqui [na Fiesp] ", afirmou.
Ao responder se estava arrependido de oferecer guarita aos manifestantes pró-impeachment, foi enfático: "Faria tudo de novo".
*
Folha - O sr. acredita que a partir de agora o PMDB pode se engajar mais no movimento pelo impeachment?
Paulo Skaf - Não tenho dúvida nenhuma. A votação pelo rompimento por aclamação e a demonstração de unidade do partido mostram também que o PMDB está unido pelo impeachment.
O PMDB deve aderir aos atos pró-impeachment?
A partir desse rompimento claro e unânime, o PMDB reconheceu, para o bem da nação brasileira, que não há mais possibilidade de esse governo continuar. Não tenho a menor dúvida que o passo seguinte será uma investida forte para a aprovação do impeachment.
O sr. manifesta preocupação com aumento de tributos. Em algum momento, o sr. recebeu alguma garantia que em um possível governo Temer não haverá aumento de impostos?
É muito clara a minha posição e da Fiesp contra o aumento de impostos. Qualquer que seja o governo ou presidente, minha posição e a da Fiesp não mudarão.
O sr. é acusado de fomentar os atos pelo impeachment e acirrar os ânimos.
Não estamos fomentando o acirramento de ânimos, até porque a tentativa de dividir a nação não é nossa. Nossa preocupação hoje é com o bem do Brasil.
O sr. quer dizer que isso começou com o PT?
O PT tem muitas vezes essa característica de pregar a tentativa de uma divisão da nação. Na semana passada, quando estava marcado o ato do PT [na avenida Paulista], fui um dos que defenderam que, se a sociedade vai às ruas com a bandeira de moralidade, tem que respeitar a palavra. Quando a gente quer defender a moralidade, tem que dar o exemplo.
Precisamos colocar velocidade para sair dessa situação, porque está custando caro aos brasileiros. E o que a gente observa é um governo que só tem preocupação de se autodefender.
Temer está preparado para assumir a Presidência?
Ele é o vice-presidente, e a Constituição determina que, no impedimento do presidente, o vice assume. Isso não está em discussão, não cabe a nós analisarmos o perfil do vice, uma vez que a Constituição determina.
O vice já orientou o sr. sobre apoiar ou não o impeachment?
O vice-presidente não dá essa abertura para se ficar falando de impeachment. Pelo contrário. Ele tem se portado com bastante ética nesse processo e com muita discrição, o que é do perfil dele.
Em algum momento Temer pediu que o sr. moderasse o tom?
Vou repetir: o presidente Temer é uma pessoa muito respeitadora. Ele nunca me pediu nada em relação ao impeachment e nunca me pediu para moderar nada. Ele respeita muito a minha posição porque sabe que neste momento a minha missão, acima de tudo, é presidir as entidades com isenção.
É possível recuperar a economia ainda neste governo?
Com a atual presidente, não creio que haja recuperação de confiança e de credibilidade, e sem isso não há economia que caminhe. Por isso é que há necessidade de uma mudança. Acredito que a mudança não resolva os problemas, mas faz renascer a esperança e a confiança.
O momento requer uma concertação com o PSDB?
No caso do impeachment, tem de haver diálogo com todo mundo. Se tiver que compor para formar o ministério, na minha visão, tem de se encontrar as melhores cabeças para ocupar os cargos.
O sr. almeja ser ministro de um possível governo Temer?
Absolutamente. Não almejo nada.
O sr. falou sobre a desconfiança da população em relação à classe política. Não há um constrangimento para o PMDB ter o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em seus quadros?
Aprendi com um médico. Quando você tem um paciente com vários problemas, precisa se concentrar no mais grave. O momento é de paralisia no Brasil, com um governo querendo se salvar e fazendo coisas absurdas, como foi essa tentativa de o Lula virar primeiro-ministro ou presidente sem ter sido eleito.
Muitos o acusam de querer tirar proveito eleitoral desse apoio ao impeachment, já que teria pretensões eleitorais.
Muito gente dizia que eu seria candidato a prefeito neste ano. Se eu quisesse, o partido me daria a legenda sem dúvida. Quanto a 2018, temos três anos daqui até lá. Não está na minha mão. Não sei o que vai ser da minha vida daqui a três anos. Isso eu deixo na mão de Deus. Não é momento de oportunismo.
*
SUPER-PATO
Os patos infláveis da Fiesp de Paulo Skaf nasceram em setembro de 2015, como marca da campanha da entidade contra o aumento de impostos e a retomada da CPMF.
Hoje, diz Skaf, "o pato já não é da Fiesp, ele é um símbolo da sociedade".
"O pato é aquele símbolo do bem para acabar com o mal. É uma figura alegre, simpática e que, de uma forma respeitosa, mostra uma indignação. Até as crianças gostam dele."
Nesta terça (29), a Fiesp inflou um pato gigante, de 20 metros, e instalou cerca de outros 5.000 patinhos amarelos em frente ao Congresso na campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff. A entidade pretende deixar o pato gigante em vigília em Brasília até que termine a votação pela deposição da presidente.
O presidente da Fiesp afirma que o valor da campanha "Não vou pagar o pato" foi aprovado por unanimidade pela diretoria da entidade e que seu custo é variável. "[O valor muda] cada vez que se faz uma nova investida. Não há um custo fixo", disse.
Nas manifestações pró-impeachment do último dia 13, a Fiesp já havia espalhado patos gigantes pela avenida Paulista. Eles dividiram com os Pixulekos o papel de símbolo dos atos contra Dilma.