quinta-feira, 31 de março de 2016

Defesa de Cerveró foi paga após conversa entre Delcídio e Bendine, diz delação

Flávio Costa
Do UOL



  • Nacho Doce/Reuters
    Antes de assumir o comando da Petrobras, Bendine foi presidente do Banco do Brasil
    Antes de assumir o comando da Petrobras, Bendine foi presidente do Banco do Brasil
Pagamentos de honorários advocatícios da defesa do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foram realizados pela empresa após uma conversa entre o senador Delcídio Amaral e o presidente da companhia, Aldemir Bendine, de acordo com delação do senador, que foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ainda segundo o depoimento de Delcídio, a Petrobras arcava com parte dos honorários advocatícios do advogado de Cerveró no início das investigações da Lava Jato. Quando a companhia parou de fazer os pagamentos, a família do ex-diretor teria procurado Delcídio para que ele interviesse junto à direção da empresa.
Em depoimento, Delcídio afirma que a partir da conversa foram pagas duas faturas no valor de R$ 600 mil e R$ 147 mil. Em nota, a Petrobras afirma "que não procede a informação citada no depoimento do senador Delcídio Amaral sobre o pagamento de honorários a advogados do ex-diretor Nestor Cerveró." A empresa informa ainda que "oferece a seus executivos cobertura de seguro, que compreende casos de processos administrativos ou judiciais nos quais eles sejam partes em decorrência da prática de atos regulares de gestão. No caso da defesa de Cerveró, "a seguradora havia realizado um pagamento no valor de R$ 600 mil referente ao processo administrativo no TCU [Tribunal de Contas da União]. Este pagamento foi autorizado pela seguradora em outubro de 2014."
O advogado Edson Ribeiro, que defendia Cerveró à época, confirma o pagamento de R$ 600 mil, mas diz que desconhece o pagamento de R$ 147 mil.
Reprodução/UOL
Trecho da delação do senador que cita o presidente da Petrobras
De acordo com o relato de Delcídio, os dois pagamentos teriam sido feitos a Ribeiro. No mês de novembro, o advogado e o senador, além do então asssesor de Delcídio, Diogo Ferreira, e o ex-presidente do banco BTG Pactual André Esteves, foram presos por determinação do Supremo depois que uma gravação feita por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, indicou tentativa de obstrução das investigações da Lava Jato. Denunciados pela PGR (Procuradoria-Geral da República), todos os acusados foram soltos por decisão do ministro do STF Teori Zavascki. O advogado não é mais defensor de Cerveró.
Sobre os supostos pagamentos feitos pela Petrobras à defesa de Cerveró, a PGR afirma que não comenta investigações em andamento.
Douglas Pereira/UOL
O senador citou presidente da Petrobras e assessor em delação
Em seu depoimento, o senador relatou que recebeu, em janeiro de 2015, e-mail de Bernardo Cerveró. O filho do ex-diretor pedia que ele conversasse com Edson Ribeiro. Ao procurar o criminalista, Delcídio foi informado "das dificuldades que a família Cerveró enfrentava para pagamento de honorários advocatícios", pois a Petrobras havia suspendido os pagamentos.
De posse dessa informação, Delcídio afirma que conversou com Bendine e um assessor de sobrenome Toledo: "a partir daí, foram pagas duas faturas, de aproximadamente R$ 600 mil e R$ 147 mil; que ainda havia outras faturas a pagar, as quais tiveram sua quitação suspensa, até que a companhia avaliasse se os respectivos pagamentos eram devidos." Em seu relato, Delcídio não informa a data e o local da conversa com o presidente da Petrobras e seu assessor.
O assessor citado por Delcídio é o desembargador aposentado do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), Armando Sérgio de Toledo, que encerrou sua carreira de magistrado para assessorar Bendine. Toledo é investigado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) pela suspeita de ter retardado por mais de três anos o andamento de uma ação penal contra o deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa paulista Barros Munhoz (PSDB) para beneficiá-lo. Ele nega a acusação.

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