Carolina Brígido - O Globo
Em meio à crise política e às discussões sobre o impeachment, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), lamentou nesta quinta-feira a falta de alternativa para comandar o país – e citou como exemplo foto publicada pelos jornais nesta quarta-feira em que caciques do PMDB anunciaram a debandada do governo. A declaração foi dada a alunos da Fundação Lemann, que foram recebidos em audiência por Barroso no tribunal.
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A foto à qual o ministro se referia estampava figuras notórias do partido – em especial, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), o senador Romero Jucá (RR) e o ex-ministro da Aviação Eliseu Padilha.
— O problema da política neste momento eu diria é a falta de alternativa. Não tem para onde correr. Isso é um desastre. Porque, numa sociedade democrática, a política é um gênero de primeira necessidade. A política morreu. Talvez eu tenha exagerado, mas ela está gravemente enferma. É preciso mudar — concluiu.
A conversa com os estudantes ocorreu no plenário da Primeira Turma do STF. O ministro não sabia, mas o sistema interno de TV do tribunal transmitiu a primeira parte do encontro. Quando soube que estava sendo televisionado, Barroso ficou contrariado.
— Pede pra desgravar. Tá transmitindo, paciência, mas para não ter uma fita — declarou — Mas quem é que está assistindo isso? Podia ter avisado mais rápido, né?
Antes de saber da transmissão de sua fala, o ministro criticou o sistema político brasileiro de forma geral.
— Nós nos perdemos em muitos caminhos diferentes. A política morreu. Nós temos um sistema político que não tem o mínimo de legitimidade democrática, deu uma centralidade imensa ao dinheiro e à necessidade de financiamento e se tornou um espaço de corrupção generalizada — afirmou, e ressaltou:
— Estou falando aqui em um ambiente acadêmico, como se eu estivesse falando com os meus alunos.
Ainda durante a conversa, Barroso disse que o modelo político “é um desastre” – particularmente, a forma de eleição para a Câmara dos Deputados, feita em eleição por voto proporcional em lista aberta. Segundo o ministro, esse modelo é caro, porque precisa haver campanhas em todos os estados, e também porque as vagas são ocupadas pelos mais votados dos partidos.
— Menos de 10% dos candidatos são eleitos com votação própria. Nesse sistema, o eleitor não sabe quem ele elegeu, porque 90% dos eleitos não foram eleitos com voto próprio. E o eleito não sabe quem o elegeu pela mesma razão. É um sistema em que o eleitor não tem de quem cobrar e o eleito não tem a quem prestar contas, não pode funcionar — criticou.