quinta-feira, 31 de março de 2016

Parlamentares escolherão a turbulência passageira ou o caos permanente até 2018. A sociedade anotará nome por nome


Com Blog do Reinaldo Azevedo - Veja


Alguns poucos meses de turbulência ou crise permanente até 2018? No fim das contas, é o que se vai decidir nessa jornada do impeachment — e eventualmente na próxima caso não se consigam os 342 votos na Câmara. Prefiro apostar na responsabilidade da maioria.
Está claro que o PT e seus associados não vão deixar tão facilmente a rapadura. Quando uma presidente reúne no Palácio do Planalto aliados que comandam verdadeiras milícias e deita pregação contra o golpe que não há, a exemplo do que fez Dilma nesta quarta, fica evidente o intuito de resistir não exatamente à ação política dos adversários, mas ao que dispõe a Constituição. Isso, sim, é uma ameaça de golpe.
Mais: com seu discurso, Dilma incitou seus aliados a fazer precisamente o que fizeram: Michel Temer foi chamado, aos berros, de golpista. Ocorre que, segundo a Constituição, ele é seu sucessor natural caso ela venha a sofrer um processo de impedimento.
É claro que a presidente está usando o seu cargo para insuflar a baderna, a depender do que faça o Congresso.
Os brasileiros já sabem o que pensam do governo Dilma: consideram-no ruim ou péssimo 69% dos entrevistados, segundo pesquisa Ibope divulgada nesta quarta, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria. Apenas 10% o veem como ótimo ou bom; para 19%, é regular. Nada menos de 82% reprovam a maneira como Dilma governa, e 80% dizem não confiar na presidente. Os números não são diferentes de levantamentos feitos por outros institutos.
Eis o estado das artes. Dado o ânimo da população, imaginem um governo Dilma que sobrevivesse ao impeachment. Mas isso ainda diz muito pouco. Ela só vai conseguir se manter no cargo se fizer tal loteamento do governo que resulte na paralisia, desta feita para valer, da máquina pública.
Se, hoje em dia, com raras exceções, a sensação que se tem é a de que não há governo, imaginem o que viria. Mais: Dilma está escolhendo com quem vai gerir o Brasil caso sobreviva: com a escória mais fisiológica do Congresso, que está se lixando para o país, e com os milicianos dos ditos movimentos sociais. Será refém de tipos como Guilherme Boulos e João Pedro Stedile.
Ainda é pouco: não será exatamente ela a estar no comando, mas Lula, que já se comporta, ainda que sem cargo nenhum, como presidente “de facto”. A eventual sobrevivência do governo, e vimos isso no pós-mensalão, fará crescer enormemente a intolerância dos “companheiros”.
As pessoas decentes costumam ser humildes na vitória. Os petistas sempre fizeram o contrário. Se vocês procederem a um levantamento, verão que os companheiros usaram seus picos de popularidade para, por exemplo, tentar criar mecanismos para censurar a imprensa. Não haverá, desta feita, apoio popular. Mas a eventual sobrevivência do governo os empurrará para a radicalização.
Até porque não há meios de Dilma vencer, ainda que não se consigam os 342 votos na Câmara. A maioria esmagadora terá votado, ainda assim, em favor do impeachment. As relações com o Congresso serão as piores possíveis.
Que os senhores parlamentares reflitam com muita calma. Se temem, na hipótese de impeachment, uma turbulência ou outra, promovidas pelos milicianos que estavam nesta quarta no Palácio do Planalto, convém temer muito mais caso não se consigam os 342 votos.
Haverá um sentimento enorme de frustração. O governo não terá nada a oferecer. A gestão estará mergulhada na bagunça. A desordem, a desolação e a desconfiança, que hoje prometem criar uma recessão de pelo menos 4%, vão se acentuar. E os milicianos de Lula estarão mais assanhados do que nunca. Se quiserem, temperem a equação com inflação alta e desemprego nos cornos da Lua.
A votação será aberta. Os senhores deputados — e espero, os senhores senadores — escreverão o seu nome na história.
Vão escolher uma turbulência de curto prazo ou o risco concreto do caos.
Aqueles 82%, senhores, estejam certos, cobrarão a fatura se isso acontecer. Nenhum voto será esquecido. Nem de um lado nem de outro.