GUSTAVO URIBE
MARIANA HAUBERT
Folha de São Paulo
MARIANA HAUBERT
Folha de São Paulo
No momento em que a presidente Dilma Rousseff enfrenta o momento mais difícil de seu segundo mandato, o governo federal transformou evento de entrega de moradias da terceira fase do Minha Casa Minha Vida em um palanque contra o impeachment.
Na cerimônia realizada no salão principal do Palácio do Planalto, estiveram presentes representantes de movimentos sociais que costumam apoiar o governo federal, como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, MLT (Movimento de Luta pela Terra), FNL (Frente Nacional de Luta), entre outros.
Os representantes foram colocados em lugares destinados a convidados, onde entoaram gritos de guerra pró-governo federal mesmo antes do evento começar.
Os presentes chamaram o juiz Sergio Moro, o vice-presidente Michel Temer e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de "golpistas" e cantaram o já tradicional "não vai ter golpe".
Como é comum em cerimônias do MCMV, foram reservadas cadeiras para autoridades, como prefeitos e governadores. Com a ausência deles, no entanto, a segurança do evento acabou preenchendo os espaços de última hora com representantes dos movimentos sociais.
Desde o agravamento da crise política, o Palácio do Planalto tem adotado estratégia de promover eventos com a presença de claques pró-governo. Na semana retrasada, evento de posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil também teve gritos contrários ao impeachment, assim como cerimônia que tentou reproduzir na semana passada a "Campanha pela Legalidade", da década de 1960, anterior ao golpe de 1964.
No evento desta quarta-feira (30), a presidente anuncia a contratação de dois milhões de residências populares pelo programa habitacional. A meta é, nos próximos dois anos, investir cerca de R$ 210,6 bilhões, dos quais R$ 41,2 bilhões são do Orçamento Geral da União.
META REDUZIDA
O programa foi anunciado pela própria presidente durante a campanha eleitoral de 2014 com a promessa de construção de 3 milhões de novos imóveis. Mas, por falta de recursos para subsidiar as obras e os financiamentos, o governo se viu obrigado a modificar o Minha Casa Minha Vida ainda no ano passado.
No anúncio desta quarta-feira, o governo atualizou as faixas de renda do programa -que passou de 3 para 4 faixas- e o valor dos imóveis que podem ser financiados que passam a ser de até R$ 96 mil para a faixa 1 (de renda até R$ 1,8 mil) e de até R$ 225 mil para a faixa 3 (de renda até R$ 6,5 mil).
O governo também determinou que as casas da faixa 1 tenham uma 2 metros quadrados maior que a atual, passando ao mínimo de 41 metros quadrados.
Segundo o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, o programa vai ter custo de R$ 210,6 bilhões, sendo que o governo entrará com R$ 41 bilhões de recursos do Tesouro para subsidiar os financiamentos.
De acordo com os dados do Ministério das Cidades, responsável pelo programa, o Minha Casa Minha Vida já contratou 4,2 milhões de casas em sete anos, sendo 2,6 milhões entregues. O investimento total alcançou R$ 294 bilhões.
Por causa da falta de recursos para pagar o subsídio, foram feitos financiamentos para pouco mais de 400 mil contratações de imóveis do Minha Casa Minha Vida, praticamente todos nas faixas 2 e 3 (renda acima de R$ 3,6 mil mensais), segundo dados das empresas.