terça-feira, 4 de agosto de 2015

"O real problema de Lula"


Carta ao Leitor de VEJA desta semana 

Publicado na versão impressa de VEJA

Muitas vezes a imprensa revela fatos que, de outra forma, ficariam para sempre longe do efeito detergente da luz solar e, assim, chama a atenção das autoridades. Uma segunda vertente do trabalho jornalístico é descobrir fatos já em fase de análise no âmbito da Justiça e dar conhecimento deles aos leitores.
A reportagem de capa de VEJA da semana passada é desse segundo tipo. Os repórteres de VEJA em Brasília descobriram que os advogados da OAS procuraram a Procuradoria-Geral da República (PGR) para uma conversa inicial com o objetivo de conseguir o benefício da delação premiada para Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira, preso em regime domiciliar por uma coleção de crimes de corrupção.
Os advogados informaram a PGR das principais revelações que Pinheiro se dispunha a fazer. As mais relevantes, a respeito de sua relação especial com o ex-presidente Lula, haviam sido adiantadas por VEJA em sua reportagem de capa de 29 de abril. Sem que fosse contestada, a revista narrou detalhes da duradoura e mutuamente produtiva convivência de Pinheiro e Lula, simbiose só interrompida com a prisão do empreiteiro pela Lava-Jato.
Citando como motivo a reportagem de capa da semana passada, Lula está processando a revista. Está-se diante da clássica manobra de atirar no mensageiro, quando o que se quer suprimir é a mensagem.
Se VEJA não tivesse publicado sequer uma linha do que Léo Pinheiro quer contar em sua delação premiada, os fatos relatados aos procuradores permaneceriam os mesmos.
Lula estaria no melhor dos mundos se sua maior dor de cabeça fosse a perseguição que imagina mover contra ele a imprensa.
Seria uma maravilha para Lula se as reportagens que o incomodam fossem apenas invencionices de jornalistas mal-intencionados a serviço de causas ingratas. Isso sumiria tão rápido quanto surgiu. Mas, infelizmente para Lula, seu grande problema são fatos produzidos durante seu governo, por pessoas nomeadas por ele, com as quais privou de intimidade e até de amizade e que estão sendo presas ao ritmo de quase uma por semana.
Se por feitiçaria todas as revistas e jornais que desagradam a Lula desaparecessem de uma hora para outra, os aborrecimentos do ex-presidente continuariam do mesmo tamanho ou, como está ocorrendo, aumentando a cada dia que passa.
Espetáculos de ficção só existem quando são observados. Os fatos continuam existindo mesmo escondidos. Um dia eles voltam a assombrar. Esse é o problema de Lula.