segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Rombo no Orçamento de 2016 alimenta a inflação; veja 4 razões

Folha de São Paulo


A relação entre o desequilíbrio nas contas do governo e os riscos de alta da inflação ficou tão clara nos últimos anos que chega a ser didática.

Agora, com a perspectiva de mais um saldo negativo no caixa do Tesouro Nacional em 2016, tornou-se mais difícil a tarefa de reduzir a alta dos preços -dos 9,3% esperados neste ano rumo à meta oficial de 4,5%.

Primeiro, porque a previsão no Orçamento federal é de deficit primário, ou seja, mesmo sem considerar as despesas com juros da dívida pública. Isso significa que o governo injetará dinheiro diretamente na economia.

Quando os gastos com pessoal, custeio, obras e programas sociais superaram a arrecadação, alimenta-se o consumo das famílias. Afinal, a maior parte dos desembolsos são salários, benefícios previdenciários e assistenciais.

Quando o ritmo do consumo supera o da produção de bens e serviços, os preços tendem a subir. Esse efeito é menor numa recessão como a atual, mas pode se acentuar em caso de alguma recuperação econômica.

Segundo, porque o Banco Central será pressionado -não necessariamente pelo Planalto, mas pela situação- a reduzir mais rapidamente os juros e, consequentemente, os encargos da dívida pública.

Sem superavit primário, o governo não poupa para o abatimento de sua dívida, que passa por um crescimento explosivo devido à elevação dos juros destinada a conter os juros e a inflação.

Terceiro, porque essa disparada do endividamento leva investidores no Brasil e no exterior a temerem pela segurança dos títulos do Tesouro.

Isso significa menos investimentos estrangeiros no país e mais aplicações em dólar, em busca de riscos menores. Com menor oferta e maior demanda, a cotação da moeda americana se eleva, encarecendo os produtos importados.

Quarto, porque a inflação elevada é conveniente para a administração cotidiana das contas públicas. A arrecadação de impostos acompanha de imediato a alta dos preços, enquanto os efeitos na despesa demoram mais.

A maior parte da receita pública nacional vem de tributos cobrados sobre a venda de bens e serviços. Já os gastos não são integralmente corrigidos pela inflação: os servidores públicos, por exemplo, têm recebido reajustes salariais inferiores à alta dos preços.

Não por acaso, é da tradição brasileira e latino-americana que governos com dificuldades fiscais sejam mais lenientes com a escalada inflacionária.