Ana Paula Ribeiro - O Globo
Moeda sobe mesmo com leilão do BC; investidores temem perda do grau de investimento
A notícia de que o governo vai enviar ao Congresso Nacional um projeto de orçamento com déficit primário (ou seja, a arrecadação será inferior aos gastos, mesmo já excluindo os juros da dívida) faz o dólar comercial acelerar a alta nesta segunda-feira. Às 10h40, a moeda americana era negociada a R$ 3,676 na compra e a R$ 3,678 na venda, valorização de 2,53% ante o real. Já na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) o índice de referência Ibovespa cai 2,90%, aos 45.787 pontos.
A alta segue forte mesmo com a notícia de que o Banco Central (BC) irá ofertar dólares ao mercado no período da tarde. O valor do leilão de linha, que é quando as instituições financeiras podem comprar moeda direto da autoridade monetária, pode chegar a US$ 2,4 bilhões. Na máxima do pregão, a moeda já chegou a R$ 3,684, maior valor de negociação durante um pregão desde os R$ 3,70 do dia 14 de fevereiro de 2003.
— Com déficit primário em 2016 a chance de perda do grau de investimento é maior. Isso poderia acelerar esse corte até para este ano. A alta do dólar é um movimento de aversão ao risco — disse.
Os agentes do mercado financeiro têm reagido rapidamente às notícias relacionadas às contas públicas. Em julho, quando o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou a redução da meta de superávit (economia para pagamento de juros) de 1,1% para 0,15% do PIB, o dólar já apresentou forte alta. A preocupação é a mesma: o temor de perda do grau de investimento.
Um dos pontos mais avaliados pelas agências de classificação de risco na hora de determinar a nota (rating) de um país é a trajetória da relação entre dívida e PIB. Quando não se economia para pagar nem os juros (superávit primário), a tendência é essa relação subir.
No mercado externo, a moeda americana está em queda. O “dollar index”, que mede a variação da divisa ante uma cesta de dez moedas, tem recuo de 0,19%.
BOLSA EM QUEDA
O mau humor também atingiu os negócios na Bolsa. Além do temor da perda de grau de investimentos, a China segue como foco de preocupação. O governo de Pequim deu sinais que pode deixar de tentar sustentar o mercado acionário do país.
Todas as ações mais negociadas do Ibovespa estão em queda. Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras recuam 4,33%, cotados a R$ 8,61, e os ordinários (ONs, com direito a voto) caem 3,59%, a R$ 9,91.
No caso da Vale, as ações preferenciais têm desvalorização de 0,36% e as ordinárias recuam 0,34%. Já os bancos, que possuem o maior peso na composição do Ibovespa, caem com mais força. Os papéis PNs do Itaú Unibanco e do Bradesco recuam, respectivamente, 3,99% e 3,91%. No caso do Banco do Brasil, a queda é de 4,84%.