- Rodrigo Félix Leal/Futura Press/Estadão ConteúdoO ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT) se manteve em silêncio durante sessão da CPI da Petrobras, em Curitiba
O ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT) e o presidente da Andrade Gutierrez ficaram em silêncio durante sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras, em Curitiba, nesta segunda-feira (31). Dirceu foi questionado sobre sua suposta participação no esquema investigado pela operação Lava Jato, mas disse que, seguindo orientação de seus advogados, iria se manter calado. Ele chegou à CPI por volta das 10h e permaneceu menos de meia hora no local.
Dirceu está preso desde o dia 3 de agosto deste ano por suspeitas de participar do esquema investigado pela operação Lava Jato. Ele já tinha sido preso antes por condenação no julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), quando foi condenado a sete anos e 11 meses.
O petista cumpriu um ano de sua pena em na penitenciária da Papuda, em Brasília, mas cumpria prisão domiciliar quando foi preso novamente pela operação Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal, o ex-ministro "repetiu" na Petrobras o esquema do mensalão, um esquema ilegal de financiamento político organizado pelo PT para garantir apoio de parlamentares ao governo do ex-presidente Lula no Congresso. Dirceu também é apontado pelos investigadores da operação Lava Jato como mentor do esquema de corrupção da Petrobras.
O silêncio de Dirceu, que tinha ar abatido durante a CPI da Petrobras, já era esperado. O deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) perguntou a Dirceu se ele seria o líder do esquema conhecido como petrolão. "O senhor é o líder dessa organização? Ou existe alguém acima do senhor?", perguntou Waldir. "Seguindo orientação de meus advogados, vou permanecer em silêncio", foi a resposta padrão de Dirceu, que estava ao lado de seu defensor, Roberto Podval.
Segundo as investigações, José Dirceu teria recebido um "mensalinho" de R$ 96 mil entre 2004 e 2013 fruto de desvios de recursos da Petrobras.
A operação Lava Jato investiga irregularidades em contratos da Petrobras com empreiteiras. Segundo as investigações, um grupo de empreiteiras superfaturava contratos com a estatal e repassavam parte do dinheiro obtido ilegalmente para políticos e partidos.
Depoimentos em Curitiba
Outro a se manter em silêncio foi João Antônio Bernardi Filho, que era representante da empresa italiana Saipem, ouvido pela comissão após Dirceu.
Ele foi denunciado pelo MPF por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro. De acordo com o órgão, Bernardi Filho teria oferecido propina ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque para obter contratos com a estatal.
Segundo a denúncia, ele controlava uma empresa offshore com sede no Uruguai e mantinha uma conta bancária na Suíça. Era por meio dessa conta que Bernardi estaria lavando dinheiro para o pagamento de propina ao ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco.
O presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, também decidiu se manter em silêncio durante seu depoimento à CPI da Petrobras. Azevedo está preso desde junho deste ano, quando foi detido pela 14ª fase da operação Lava Jato.
Ele foi questionado pelos deputados da CPI sobre seu papel e o da Andrade Gutierrez no esquema investigado pela operação Lava Jato. Segundo a denúncia feita pelo MPF, a Andrade Gutierrez pagou propina em pelo menos dez obras, entre elas o Comperj, no Rio de Janeiro. Segundo a denúncia, o pagamento de propina era de em torno de 3% sobre o valor total dos contratos.
Também serão ouvidos pela CPI nesta segunda-feira Otávio Marques de Azevedo, executivo da Andrade Gutierrez; Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras; e Elton Negrão de Azevedo.
O relator da comissão, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), afirmou que a logística para os depoentes se deslocarem a Brasília é complicada, porque requer policiamento e aviões, e por isso a CPI decidiu se deslocar até o Paraná. A previsão é que membros da comissão fiquem em Curitiba até quarta-feira. Os depoimentos estão sendo realizados no Foro da Seção Judiciária do Paraná.