domingo, 30 de agosto de 2015

"Quem é Janot para falar em nome da sociedade?"

Com Blog Felipe Moura Brasil - Veja


PGR dissipou as dúvidas e advogou em favor de Dilma 


Escrevi aqui na semana passada:
“Se Janot… levar adiante a investigação determinada por [Gilmar] Mendes, poderá destruir Dilma… e salvar o Brasil. Se engavetar…, será sempre lembrado como o cúmplice petista que deixou os bodes na sala e o povo brasileiro na mão.”
Janot engavetou. Dissipou as dúvidas de que falei aqui e aqui.
Antes, havia apenas especulação baseada em decisões discutíveis, mas, ainda assim, justificáveis legal emoralmente, no limite da tolerância.
Este blog examinou cada caso, observou as hipóteses em jogo e, sem deixar de lado a pressão, descartou tanto a exaltação quanto a condenação morais precipitadas ao PGR – esta última que levou a uma série de críticas descabidas, com frequência não relacionadas à blindagem de Dilma Rousseff.
Agora, com o pedido de arquivamento da investigação da gráfica fantasma VTPB, que recebeu R$ 16 milhões da campanha de Dilma de 2014, o pior se confirmou – e da pior maneira.
Janot escreveu no despacho: “Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem poder usufruir das prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm, os derrotados devem conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”.
1) Quem é Janot para falar em nome da sociedade?
2) Quem é Janot para atropelar o TSE, que reabriu ação penal pela impugnação da chapa de Dilma?
3) Quem é Janot para alfinetar os opositores que buscam esclarecer os fatos de uma campanha suja, como exigem seus próprios eleitores?
Esse parágrafo em que Janot usurpa papéis que não são dele, exercendo como um militante a mais escancarada pressão política, parece ter sido escrito pelo ministro José Eduardo Cardozo em alguma reunião secreta com o PGR.
Até ministros do TSE ficaram irritados.
Pudera!
Janot chegou a apontar a “inconveniência” de a Justiça e o Ministério Público Eleitoral se tornarem “protagonistas exagerados do espetáculo da democracia” e, de quebra, falou do receio de uma “judicialização extremada”, como se o rigor da lei na busca de esclarecimento fosse um ato de extremismo.
Mais próximo da propaganda petista, impossível. Janot acusa os outros da “inconveniência” e da ação “extremada” que pratica no momento mesmo da acusação.
Ele também também argumentou que a prestação de contas de Dilma já foi aprovada e o prazo para questionar irregularidades já acabou, como se a autoridade do PGR sobrepujasse a dos ministros do TSE, que decidiram pela reabertura do processo justamente para apurar as irregularidades antes ignoradas.
Para justificar o engavetamento, Janot ainda alegou que a VTPB apresentou-lhe notas fiscais e modelos de santinhos impressos, como se estes já não estivessem indicados no site do TSE e a questão não fosse que a impressão não foi feita na gráfica fantasma, porque, bem, ela é fantasma e não tem estrutura para o trabalho a que se propõe.
Para completar o vexame, a notícia sobre seu despacho foi dada em primeira mão pelo site petista Brasil 247, que eu apelidei de Brasil 171, investigado pela própria Operação Lava Jato – e, dessa vez, ninguém do PT acusou o PGR de “vazamento seletivo”.
Com muito sono, tive de repercutir a informação naquela madrugada no Twitter, deixando para comentar com calma depois, quando a imprensa séria confirmasse o conteúdo (e eu desistisse do meu descanso de fim de semana das vigarices nacionais).
Só lamento que os jornalistas, inclusive críticos de Janot hoje regozijados, não tenham dado ao caso da gráfica fantasma aqui repercutido a mesma atenção que dão ao seu arquivamento, o que talvez tivesse deixado o PGR mais constrangido para pedi-lo.
De qualquer modo, a Folha informa que Dilma andou dizendo a assessores: “Estou preocupada com o TSE”.
Não resta dúvida de que, se pudesse, a petista reconduziria Janot diretamente ao tribunal, no lugar de Gilmar Mendes.