Para ampliar a base aliada no Congresso em termos nunca antes vistos, a presidente Dilma aumentou para 39 o número de ministérios em seu primeiro mandato. Havia uma explicação nunca explicitada para tamanho despautério, a montagem de uma maioria defensiva que impedisse a criação de CPIs e, principalmente, qualquer tentativa de impeachment por parte da oposição, uma preocupação obsessiva do ex-presidente Lula desde que escapou por pouco no episódio do mensalão.
Lula passou para 35 os 21 ministérios que recebeu do governo Fernando Henrique Cardoso, e Dilma os ampliou para 39.
Lula passou para 35 os 21 ministérios que recebeu do governo Fernando Henrique Cardoso, e Dilma os ampliou para 39.
Mantendo boa parte dos ministros da primeira leva, e ainda mudando alguns de posto sem a menor lógica, a presidente Dilma revela em seu ministério do segundo mandato a mesma mediocridade que marcou o governo que terminou ontem.
Com exceção da equipe econômica, que sinaliza mudanças importantes mesmo que mantido o presidente do Banco Central e trazendo de volta ao governo o ministro Nelson Barbosa, as demais mudanças não trazem consigo nenhuma alteração de diretriz, mas apenas a necessidade de arranjar lugar para representantes do grupo de partidos aliados que formam sua base defensiva.
Até mesmo a mudança nas Relações Exteriores, que poderia indicar uma inovação de rumos com a volta de Celso Amorim, acabou se transformando na troca de seis por meia dúzia. A chegada a contragosto de Cid Gomes na Educação não significa nada além de abrir espaço para o PROS, enfraquecendo o PT. E o grande vitorioso das eleições regionais, o governador da Bahia Jacques Wagner, acabou isolado num ministério da Defesa anódino.
Somente a indicação de Ricardo Berzoini para o ministério das Comunicações pode significar alguma mudança importante na definição de políticas governamentais, se realmente significar que a presidente Dilma sucumbiu finalmente às pressões de setores radicais petistas para realizar o tão sonhado controle social da mídia.
Mesmo que seja essa a intenção, e não apenas acalmar esses setores com a simples indicação, vai ser uma disputa tão grande no Congresso para concretizar a tentativa de controle do jornalismo profissional que dificilmente a presidente Dilma terá suporte político para enfrentá-la em meio aos problemas econômicos com que o país se defrontará.
Uma questão intrigante é como a presidente conseguiu montar um quebra-cabeça tão complicado como a formação de um megaministério desagradando seus dois grandes partidos de apoio, o PT e o PMDB. Digamos que o desgaste com o PT não tenha grande importância, por que na hora da definição o partido estará sempre ao lado da presidente, mesmo a contragosto.
Mas e o PMDB, que já começou dividido na campanha presidencial e prossegue assim, sem que a presidente tenha tentado unificar as tendências? Ela pode ter dado um passo equivocado ao fortalecer a influência do presidente do Senado, Renan Calheiros em detrimento da do vice Michel Temer.
Calheiros pode ficar impossibilitado de continuar na presidência do Senado quando sair a lista oficial de parlamentares envolvidos na Operação Lava Jato, e mesmo que consiga permanecer no cargo, o exercerá fragilizado enquanto as investigações prosseguirem.
Ao mesmo tempo, o deputado Eduardo Cunha provavelmente vencerá a disputa pela presidência da Câmara contra uma candidatura petista que parece não ter chance. O PMDB estará no comando do Congresso nos primeiros anos do segundo mandato de Dilma, quando se decidirão questões cruciais para a governabilidade.
Não é bom sinal para o governo que ele saia da formação ministerial desiludido.