A condição de engenheiro eletricista pela Universidade Federal do Amazonas não deixa de ser uma credencial para o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) assumir o Ministério de Minas e Energia. No entanto, ele necessitará de muito mais que um diploma para enfrentar a situação delicada que o setor energético enfrentará em 2015.
O primeiro motivo para preocupação vem da hidrologia. Embora 2014 deva ter terminado apenas como o nono pior ano de estiagem no registro histórico, a situação nada tem de confortável, sobretudo porque os reservatórios das hidrelétricas sofreram um esvaziamento inédito no período recente.
Se as chuvas continuarem abaixo da média, a perspectiva de um racionamento se tornará cada vez mais provável. O diagnóstico sombrio partiu de Mario Veiga, um dos mais respeitados especialistas do setor elétrico brasileiro, em entrevista ao jornal "Valor Econômico", para quem há 20% de chance de concretizar-se o pior cenário.
Veiga chama a atenção para o fato de que, em 2013, a pluviosidade foi normal, mas as usinas termelétricas precisaram ser acionadas na maior parte do tempo.
Além de encarecer a energia gerada, isso deixa margens muito estreitas para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) fazer a gestão das cargas nos diversos subsistemas.
A regulamentação nacional recomenda operar com uma folga (reserva de potência) de 5% entre a demanda e a oferta de energia.
Em alguns Estados dos EUA, um nível de 3% faz o preço do megawatt-hora disparar para valores proibitivos, de maneira a desestimular o consumo. Segundo Veiga, no início de 2014, o sistema brasileiro chegou a funcionar com 0,7%.
"A culpa não é de são Pedro", disse o analista ao jornal. Sua suspeita, partilhada por outros especialistas, é que existam deficiências nos modelos utilizados para simular o sistema –por exemplo, os programas indicam que os reservatórios contêm mais água do que de fato está armazenada.
O resultado da discrepância, claro, é que as represas são esvaziadas mais do que deveriam. Os limites de segurança se estreitam, e as usinas térmicas, que deveriam atuar apenas como recurso de emergência, funcionam a todo o vapor de forma contínua.
Outro nó por desatar é a crise financeira que atormenta as distribuidoras de energia. Empréstimos bilionários ainda não taparam os rombos criados pelas manobras tarifárias inábeis do primeiro governo Dilma Rousseff (PT).
Eduardo Braga, político desde os 21 anos, precisará sair-se muito melhor que o correligionário e colega Edison Lobão (PMDB-MA) à frente da pasta para que sua gestão escape de colher um racionamento ou um novo apagão.