segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Cristina dissolve Secretaria de Inteligência argentina

Janaína Figueiredo - O Globo

Medida é reação à morte de promotor e foi anunciada em cadeia nacional de TV


Denúncia. Opositora Patricia Bullrich revela que Nisman disse ser traído por agente da Side
Foto: Ivan Fernandez/AP
Denúncia. Opositora Patricia Bullrich revela que Nisman disse ser traído por agente da Side - Ivan Fernandez/AP


BUENOS AIRES — No seu primeiro discurso após a morte do promotor Alberto Nisman — antes, só havia se pronunciado por meio de duas mensagens no Facebook —, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou nesta segunda-feira em cadeia nacional de TV a dissolução da Secretaria de Inteligência (Side) e a criação de uma nova agência federal para o setor. O governo acusa setores descontentes da Inteligência de estarem por trás da denúncia apresentada por Nisman contra a presidente por suposto encobrimento da participação do Irã em um atentado que deixou 85 mortos em Buenos Aires em 1994 e da misteriosa morte do promotor há uma semana.

A verdade sobre a morte de Nisman ainda parece distante. Novas informações e elementos surgidos na investigação judicial, questionada publicamente pela ex-mulher de Nisman, a juíza Sandra Arroyo, aumentaram o clima de confusão e a sensação de que a equipe da promotora Viviana Fein, encarregada do caso, ainda está longe de saber o que aconteceu com o homem que denunciou a presidente, por sua suposta aliança “com o terrorismo iraniano”. O último elemento na cadeia foram as contradições nos depoimentos dos seguranças de Nisman.

As divergências surpreenderam a promotora. Alguns oficiais da Polícia Federal asseguraram ter tocado a campainha do apartamento do promotor às 14h do domingo, dia 18 de janeiro, enquanto outros agentes afirmaram ter tentado entrar em contato com Nisman somente às 17h. Os seguranças deram diferentes versões sobre o local onde estava estacionado o carro de polícia: segundo um deles, estaria no subsolo, já outro disse que estava no estacionamento de visitantes. A promotora também quer saber por que houve uma demora de 11 horas para o contato com os superiores.

Um dos seguranças, Rubén Benítez, que conhecia Nisman há 15 anos, disse que no sábado o promotor lhe pedira que comprasse um revólver calibre 22 porque estava preocupado, principalmente, por suas filhas. A ordem, segundo Benítez, era adquirir o revólver na segunda. No entanto, no mesmo sábado, o técnico em computação Sergio Lagomarsino foi ao apartamento de Nisman e lhe emprestou a arma. Nesta segunda-feira, a Justiça indiciou Lagomarsino.

Outras questões continuam sem resposta. A Justiça não conseguiu confirmar de quem são as impressões digitais encontradas num corredor que leva ao apartamento; a promotora Fein informou que o disparo foi realizado a não mais de um centímetro de distância da cabeça de Nisman, mas outras informações, publicadas pela imprensa local, apontam uma distância de até 15 centímetros. Nesta segunda-feira, a deputada opositora Patricia Bullrich disse à Fein que Nisman lhe contou antes de morrer que tinha sido traído por um agente da Side.

— Ele nos disse que estava ameaçado e que um agente secreto tinha passado informação sobre ele e sua família a acusados do caso — contou Bullrich, que esteve em contato com Nisman em suas últimas horas de vida.

A Casa Rosada insistiu em dizer que a denúncia é “absurda”.