Blog Ricardo Setti - Veja
Amigas e amigos do blog, o plebiscito que decidirá pela independência (ou não) da Escócia do Reino Unido, no próximo dia 18, quinta-feira, terá implicações enormes se o eleitorado decidir pelo “sim”: que moeda o novo país adotará? Que parte da dívida pública do Reino Unido competirá à Escócia honrar? Conseguirá uma Escócia independente ingressar na União Europeia? Terá o país recursos para montar Forças Armadas próprias — algo caríssimo — para, assim, poder participar da OTAN, a aliança militar ocidental? Como fica a riqueza petrolífera do Reino Unido, em boa parte ao largo da costa escocesa?
São dúvidas de grande densidade, cujas respostas envolvem problemas de alta catadura. Uma Escócia
independente, contudo, traria outras consequências, de menor peso mas não destituídas de simbolismo.
A bandeira multissecular do Reino Unido, por exemplo — uma das mais conhecidas do planeta –, ficaria totalmente diferente. Ela é o produto da sobreposição das bandeiras com as cruzes dos patronos de três dos países integrantes (São Jorge, da Inglaterra, Santo André, da Escócia, e São Patrício, da Irlanda do Norte. Vejam na ilustração abaixo as três bandeiras em separado).
Sem a Escócia, perderia o forte tom azul que lhe serve de fundo. Ficaria irreconhecível (confiram as primeiras duas ilustrações deste post).
Isso, porém, não é tudo. Há outras pequenas questões, que podem ser levantadas nem que seja como brincadeira. Os dois primeiro-ministros trabalhistas predecessores do atual, o conservador David Cameron, por exemplo — Tony Blair e Gordon Brown –, que são escoceses e, no conjunto, governaram por 13 anos, precisariam de passaporte para ingressar no país que dirigiram?
E a Scotland Yard, a mitológica polícia metropolitana de Londres, de reputação consagrada em inúmeras obras literárias e filmes policiais? Vai manter-se com o “Scotland” no nome, ou não? (O nome surgiu do fato de que, na antiga sede da polícia em Whitehall Place, no coração de Londres, havia uma saída pelos fundos que dava para a rua Great Scotland Yard).
São questões ainda em aberto. Há, contudo, duas certezas pétreas: 1) a Escócia continuará sendo uma monarquia — ninguém de responsabilidade, em momento algum, mencionou a hipótese de república –, sem a menor dúvida com a Rainha Elizabeth II como chefe de Estado (da mesma forma como ela mantém o posto em países independentes e ex-colônias britânicas como o Canadá ou a Austrália) ; 2) os escoceses, por uma inexorabilidade geográfica — seu país fica na ilha da Grã-Bretanha — continuarão a ser, tal como os ingleses e os galeses, britânicos.