terça-feira, 16 de setembro de 2014

Se ocorrer a independência da Escócia, como é que vai ficar uma das bandeiras mais conhecidas do mundo? E a Scotland Yard?

Blog Ricardo Setti - Veja

A bandeira do Reino Unido, a “Union Jack”: sobre a cruz de São Jorge (vermelho com fundo branco), símbolo da Inglaterra, as cruzes de Santo André (branca com fundo azul), da Escócia, sobrepostas pela cruz de São Patrício (cruz diagonal vermelha com fundo branco), símbolo da Irlanda do Norte. O sumiço da Escócia redundará em uma bandeira…
Amigas e amigos do blog, o plebiscito que decidirá pela independência (ou não) da Escócia do Reino Unido, no próximo dia 18, quinta-feira, terá implicações enormes se o eleitorado decidir pelo “sim”: que moeda o novo país adotará? Que parte da dívida pública do Reino Unido competirá à Escócia honrar? Conseguirá uma Escócia independente ingressar na União Europeia? Terá o país recursos para montar Forças Armadas próprias — algo caríssimo — para, assim, poder participar da OTAN, a aliança militar ocidental? Como fica a riqueza petrolífera do Reino Unido, em boa parte ao largo da costa escocesa?
São dúvidas de grande densidade, cujas respostas envolvem problemas de alta catadura. Uma Escócia
Bandeira da Inglaterra sem a Escócia
… completamente diferente, como esta: a bandeira do Reino Unido apenas com as cruzes que representam a Inglaterra e a Irlanda do Norte. O País de Gales, quarta nação que integra o Reino Unido, não se faz representar na “Union Jack”
independente, contudo, traria outras consequências, de menor peso mas não destituídas de simbolismo.
A bandeira multissecular do Reino Unido, por exemplo — uma das mais conhecidas do planeta –, ficaria totalmente diferente. Ela é o produto da sobreposição das bandeiras com as cruzes dos patronos de três dos países integrantes (São Jorge, da Inglaterra, Santo André, da Escócia, e São Patrício, da Irlanda do Norte. Vejam na ilustração abaixo as três bandeiras em separado).
Bandeiras da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda
Bandeiras da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda
Sem a Escócia, perderia o forte tom azul que lhe serve de fundo. Ficaria irreconhecível (confiram as primeiras duas ilustrações deste post).
Isso, porém, não é tudo. Há outras pequenas questões, que podem ser levantadas nem que seja como brincadeira. Os dois primeiro-ministros trabalhistas predecessores do atual, o conservador David Cameron, por exemplo — Tony Blair e Gordon Brown –, que são escoceses e, no conjunto, governaram por 13 anos, precisariam de passaporte para ingressar no país que dirigiram?
(Fotos: Oli Scarff/Getty Images :: Felipe Trueba/EPA)
Tony Blair e Gordon Brown: os dois ex-primeiros-ministros, ambos escoceses, governaram um total de 13 anos. Agora, para entrar no país que comandaram, vão precisar de passaporte? (Fotos: Oli Scarff/Getty Images :: Felipe Trueba/EPA)
E a Scotland Yard, a mitológica polícia metropolitana de Londres, de reputação consagrada em inúmeras obras literárias e filmes policiais? Vai manter-se com o “Scotland” no nome, ou não? (O nome surgiu do fato de que, na antiga sede da polícia em Whitehall Place, no coração de Londres, havia uma saída pelos fundos que dava para a rua Great Scotland Yard).
(Foto: AP)
Qual será o destino da Scotland Yard num Reino Unido sem a Escócia? (Foto: AP)
São questões ainda em aberto. Há, contudo, duas certezas pétreas: 1) a Escócia continuará sendo uma monarquia — ninguém de responsabilidade, em momento algum, mencionou a hipótese de república –, sem a menor dúvida com a Rainha Elizabeth II como chefe de Estado (da mesma forma como ela mantém o posto em países independentes e ex-colônias britânicas como o Canadá ou a Austrália) ; 2) os escoceses, por uma inexorabilidade geográfica — seu país fica na ilha da Grã-Bretanha — continuarão a ser, tal como os ingleses e os galeses, britânicos.