Financista Lucas Borges diz a Oeste que última ata do Copom revela receio do Copom em diminuir os juros
O Brasil enfrenta um desequilíbrio estrutural nas contas públicas. As despesas obrigatórias têm crescido de forma contínua e pouco flexível. E a arrecadação não tem avançado no mesmo ritmo.
Com tais premissas, está cada vez mais difícil para o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), reduzir a taxa de juros, a segunda nominal mais alta do mundo, na opinião do economista Lucas Borges, especializado em Private Equity pela Harvard Business School.
“Além disso, choques recentes de gastos e medidas compensatórias aumentaram a pressão sobre o orçamento, reduzindo a confiança na trajetória fiscal”, afirma Borges a Oeste. “Esse cenário eleva o prêmio de risco exigido pelos investidores e pressiona a inflação, tanto pela via cambial quanto pelas expectativas.”
Ele ressalta que, para neutralizar essas pressões e manter a convergência da inflação à meta, o BC opta por manter os juros elevados. Mesmo diante de uma atividade econômica enfraquecida. Foi o que ocorreu na última ata do Copom, quando os juros foram mantidos em 15%, justamente no mesmo dia em que os EUA reduziram os juros em 0,25%.
Se a economia estivesse mais estabilizada, na visão de muitos especialistas, o país poderia aproveitar a oportunidade para atrair investidores, já que, mesmo com uma baixa nos juros, teria taxas mais altas para competir nesta disputa por investidores. Não foi o que aconteceu, em função do desequilíbrio que diminui a confiança na economia do país.
“A ata mostra uma economia que combina crescimento frágil com inflação persistente em núcleos importantes, como serviços”, ressalta Borges.
Pouca margem para redução dos juros pelo BC Segundo ele, o Copom deixou claro que o patamar elevado da Selic segue necessário para conter pressões inflacionárias e ancorar expectativas. Ele lembrou que o documento destacou os riscos fiscais em aberto.
Cada alta ou até manutenção em patamares elevados acaba se tornando uma crítica, sem palavras, à política econômica do governo, por esta visão.
“A incerteza sobre medidas de arrecadação e compensação aumenta a dificuldade de traçar uma trajetória confiável para a dívida”, completa Borges.
Eugenio Goussinsky - Revista Oeste