segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Ditadura da China agora tem capacidade de rastrear em tempo real internautas que ‘escalam o Grande Firewall’

Reprodução 


Autoridades da província de Zhejiang, no leste da China, recentemente detiveram e advertiram um usuário da Internet depois que ele foi detectado usando uma ferramenta de evasão para ler informações na Wikipedia, que fica fora da complexa rede chinesa de bloqueios, filtros e censura online conhecida como ‘O Grande Firewall’, informou a RFA.

Firewall é uma ferramenta que limita o acesso às portas e janelas do computador, que é utilizada na China como instrumento de censura contra informações online que podem ser vistas como ameaça ao regime do Partido Comunista Chinês.

De acordo com relatos da mídia social, o usuário de internet Zhang Tao recebeu uma visita da polícia logo depois de usar a enciclopédia online de código aberto, sugerindo que a capacidade das autoridades de monitorar a atividade das pessoas na internet em tempo real foi intensificada recentemente.

Em um anúncio online, agora excluído, da polícia de Zhejiang, cujas imagens ainda estavam disponíveis nas redes sociais esta semana, Zhang foi acusado de usar a ferramenta de contorno de censura da internet ‘Lantern’, baixada gratuitamente após uma busca do Baidu, para “fazer repetidas consultas ilegais na Wikipedia na rede local de internet.”

Zhang foi detido pela polícia chinesa em 24 de outubro, em um prédio no complexo residencial Mingzhuyuan, na rua Huannan, no distrito de Dinghai, na cidade de Zhoushan. Ele foi levado à delegacia de polícia e acusado de usar software anti-censura de celular para acessar sites internacionais a fim de obter informações.

Seu comportamento atendeu aos critérios de “instalação e uso de canais ilegais de acesso internacional à Internet sem autorização”, afirma o aviso.

Zhang recebeu uma penalidade administrativa, uma advertência e uma ordem para parar e desistir de se conectar a sites fora da China.

Segundo a RFA, no site oficial da Administração do Ciberespaço provincial de Zhejiang diz que é “ilegal escalar o Grande Firewall para navegar por conteúdo anti-PCC [Partido Comunista Chinês] e antissocialista”.

Vigilância de alta tecnologia

O comentarista francês da RFA, Wang Longmeng, disse que o desenvolvimento mostrou que a polícia agora pode localizar qualquer pessoa na China continental usando um software de contorno da censura da Internet para “escalar o Grande Firewall”.

“O ponto mais digno de nota neste caso é que a polícia consegue rastrear aqueles que escalam o muro com grande precisão”, disse Wang à RFA. “A vigilância de alta tecnologia do Partido Comunista Chinês de seus cidadãos é como uma versão avançada daquela usada em Orwell em 1984.”

Ele disse que isso mostra que a polícia da Internet da China está monitorando os usuários chineses, mesmo quando suas atividades estão localizadas fora do Grande Firewall.

“Vimos um número crescente de usuários do Twitter ‘desaparecer’, sendo silenciados ou punidos pelas autoridades”, disse Wang.

Wang disse que o poderoso Grupo Central de Segurança e Informatização da Internet, que é a polícia da Internet da China no exterior, se reporta diretamente ao secretário-geral do PCC, Xi Jinping.

“Assim que você criminalizar a escalada do Grande Firewall, a China será mais uma vez um país isolado”, disse Wang. “A liderança do PCC quer usar grandes firewalls para bloquear o fluxo livre de informações, para que eles possam fazer uma lavagem cerebral em seus próprios cidadãos e transformar todos os 1,4 bilhão deles em sujeitos desprovidos de pensamento e julgamento independentes”.

“Dessa forma, seu controle do poder é muito mais forte”, disse ele.

Controles aplicados desigualmente

O advogado de direitos humanos de Pequim, Liu Xiaoyuan, disse que os controles são aplicados de forma desigual. Funcionários de organizações de mídia estatais chinesas como Xinhua, o Global Times e porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores, todos administram contas em plataformas de mídia social no exterior que estão bloqueadas na China.

“Veja a agência de notícias Xinhua, Hu Xijin do Global Times, e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores… Todos eles têm contas no Twitter, e muitas contas pró-PCC são capazes de escalar o muro também”, ele disse. “Se eles têm permissão para fazer isso, por que todo mundo não tem?”

“Não deveria haver uma regra para eles e outra para os cidadãos comuns.”

A versão multilíngue da Wikipedia foi bloqueada na China em abril de 2019.

A China ficou em último lugar em uma lista de 65 países do mundo avaliada pela organização americana sem fins lucrativos, Freedom House, em seu relatório ‘Freedom on the Net 2020‘ [Liberdade na Net 2020] publicado no início deste mês.

“A aplicação da soberania nacional ao ciberespaço deu às autoridades rédea solta para reprimir os direitos humanos, ao mesmo tempo que ignorou as objeções da sociedade civil local e da comunidade internacional”, diz o relatório.

“O regime da China, um pioneiro neste campo e o pior abusador mundial da liberdade na Internet pelo sexto ano consecutivo, bloqueou há muito tempo serviços estrangeiros populares e infraestrutura técnica centralizada para permitir o monitoramento abrangente e a filtragem de todo o tráfego que chega ao país “, afirma o documento.

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