O governo sabia que as últimas horas de negociação seriam tensas. E o fuso horário jogava contra. No Japão para a cúpula do G-20, o presidente Jair Bolsonaro estava sete horas à frente de seu time de negociadores em Bruxelas, na Bélgica. Estaria dormindo enquanto os pontos finais e mais sensíveis do acordo teriam de ser fechados. De Osaka, deu então as últimas diretrizes e escalou o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, que o acompanhava no Japão, para passar a noite em contato com Bruxelas. Martins tinha ordem de acordá-lo se fosse preciso.
Quase foi necessário. O time em Bruxelas, liderado pelo chanceler Ernesto Araújo e pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, batalhava para finalizar os últimos pontos. Já de tarde na Europa – madrugada em Osaka –, argentinos, paraguaios e uruguaios se deram por satisfeitos. Faltava o Brasil. Mas, para o governo Bolsonaro, era preciso melhorar um pouco mais o texto. Num dos momentos de impasse, cogitou-se acordar Bolsonaro. Ao fim, não foi preciso.
A interação entre a comitiva brasileira no Japão e o time em Bruxelas foi considerada essencial para o desfecho do acordo, segundo fontes que participaram das tratativas. Apesar do acordo Mercosul-UE prever cláusulas para desenvolvimento sustentável, Alemanha e França decidiram segurar as negociações até conversar com o governo brasileiro sobre desmatamento.
Em Osaka, a reunião de Bolsonaro com a chanceler Angela Merkel correu de forma mais tranquila do que o encontro com presidente da França, Emannuel Macron, descrito como “duríssimo” e, em alguns momentos, “ríspido”, segundo uma fonte próxima. Bolsonaro reiterou o compromisso de permanecer no Acordo de Paris, se disse disposto a desfazer a propaganda contra o agronegócio no exterior e trabalhar em ações concretas de preservação ambiental. Até convidou o francês para visitar a Amazônia.
Renata Agostini e Julia Lindner, O Estado de S.Paulo