Ninguém aguenta mais esperar por um novo título de campeão do mundo da seleção brasileira. Quando começar a próxima Copa, em 2022, no Qatar, o país estará completando 20 anos sem levantar a taça. Mas já fizemos jejum mais longo que este. Em 1994, o Brasil iniciava sua campanha no Mundial dos Estados Unidos com o objetivo de pôr fim a um período de 24 anos sem título. Graças a Romário, Bebeto, Dunga e cia., a espera terminou. A trajetória rumo ao caneco ficou marcada pela brilhante atuação do Baixinho da camisa 11, a comemoração "embala-nenêm" de Bebeto, o decisivo gol de falta de Branco contra a Holanda e, claro, o pênalti perdido pelo italiano Roberto Baggio, na final do torneio, em Los Angeles, que libertou o grito de "Tetra!". Para homenagear a conquista de 25 anos atrás, o Blog do Acervo reuniu, neste post, 25 imagens do Brasil naquele Mundial. As fotos mostram momentos do elenco e da sempre apaixonada torcida, no Brasil e nos Estados Unidos.
A estreia da seleção canarinho estava marcada para as 17h (horário de Brasília) de 20 de junho, uma segunda-feira. De acordo com uma reportagem do GLOBO publicada no dia seguinte, a partir das 13h o trânsito já estava complicado, com a movimentação de pessoas saindo mais cedo do trabalho para assistir à partida. Ônibus cruzavam a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, apinhados de torcedores. Em bares como o Alzirão, na Tijuca, tradicional ponto de concentração nas copas, a festa começou no início da tarde. Também em solo americano, os brasileiros levaram toda a sua vocação para fazer festa na porta do Estádio Stanford, em Palto Alto, perto de São Francisco, na Califórnia.
A seleção de Carlos Alberto Parreira chegou àquele Mundial desacreditada, depois de sofrer para nas eliminatórias sul-americanas, garantindo seu lugar no torneio apenas na última rodada, com um 2 a 0 contra o Uruguai. Mas, na grande estreia, nosso escrete mostrou que também não aguentava mais a "secura" de títulos e dominou a Rússia. O placar foi aberto aos 26 minutos. Após um escanteio cobrado por Bebeto, Romário usou sua sagacidade dentro da área para se antecipar ao zagueiro e marcar. No segundo tempo, o capitão Raí ampliou, de pênalti. Não foi uma goleada, mas foi uma vitória tranquila, com autoridade. "Brasil arrasa a Rússia", definidiu o título do caderno especial publicado pelo GLOBO no dia seguinte à partida.
Após a estreia segura, o Brasil enfrentou Camarões no segundo jogo da fase de grupos. No confronto, a seleção brasileira não deu brecha para o time africano. Mais uma vez, Romário abriu o placar com um gol característico, de bico, tirando do goleiro, e Márcio Santos ampliou de cabeça. Bebeto fez o terceiro aproveitando o rebote de um chute de Romário e correu na direção do lateral esquerdo Leonardo, com quem comemorou como se estivesse embalando um bebê. O gesto, em homenagem ao primeiro filho do atual diretor do Milan, ficou eternizado, sendo repetido por um sem-número de jogadores em todo o mundo. Na reportagem do GLOBO sobre a comemoração, o próprio Bebeto garantiu que também faria o "embala-bebê" para seu terceiro filho, previsto para nascer no início de julho.
Com duas vitórias na competição, o Brasil já estava classificado para a segunda fase da Copa do Mundo. O que não impediu o técnico Parreira de colocar o time titular contra a Suécia, mas, naquele dia, os jogadores esqueceram o futebol no vestiário. A seleção teve desempenho apagado, e os escandinavos se mostraram um adversário de peso, fazendo o primeiro gol com Kennet Andersson. O empate viria, novamente, do bico da chuteira de Romário, que chutou para as redes cercado de adversários, após receber a bola na intermediária e se infiltrar na área sueca marcado por pelo menos três jogadores. A apresentação da seleção foi bastante criticada por e torcedores. Sem ligar para as vaias, Parreira e seu auxiliar, Zagalo, comemoraram a classificação para as oitavas-de-final em primeiro lugar do grupo. "Torcedor não pensa, mas eu sou obrigado a raciocinar", disse Parreira.
Nas oitavas de final, o ambiente era favorável ao adversário do Brasil. Anfitriões do Mundial, os EUA estavam em festa pelo 4 de julho, quando o país celebra o Dia da Independência, um dos principais feriados no calendário nacional deles. Apesar de estarem diante da seleção brasileira, os americanos mostravam otimismo. Em campo, a seleção do Tio Sam não fez por menos. Foi um jogo duro, com um clima tenso que foi agravado aos 43 minutos do primeiro tempo, quando Leonardo, ao tentar se livrar da marcação, deu uma cotovelada violenta na cabeça de Tab Ramos e foi expulso. O insistente 0 a 0 só foi desfeito aos 27 minutos do segundo tempo. Romário deu um passe excepcional para Bebeto chutar cruzado e rasteiro, sem chances para o goleiro Meola. O camisa 7 deu a volta por trás da rede e, ao encontrar o Baixinho da camisa 11 do outro lado, disse "Eu te amo", antes de abraçar o parceiro de ataque.
Com o lateral Leonardo suspenso até o final da Copa, coube a Branco ocupar a vaga contra a Holanda, adversário com mais tradição que o Brasil enfrentaria até aquela altura da competição. Destino ou não, o jogador brilhou naquela quarta-de-final. O Brasil fazia uma ótima apresentação, marcando 2 a 0, com gols de Romário e Bebeto, ambos no início do segundo tempo (Bebeto, aliás, cumpriu o prometido e fez a comemoração "embala-bebê" para seu terceiro filho). Mas a seleção permitiu o empate, e o nervosismo tomou conta dos torcedores pelo país. Faltando apenas 9 minutos para o fim do tempo regulamentar, Branco cavou uma falta na intermediária e cobrou ele mesmo, acertando um chute do meio da rua e fazendo um golaço. Detalhe para Romário se esquivando da bola, para não atrapalhar sua trajetória tumo ao fundo das redes do goleiro Ed de Goey.
Àquela altura, todo brasileiro já sentia cheiro de título, mas o país ainda precisava vencer um adversário complicado na semi-final. Único time que tinha conseguido parar a equipe de Parreira, a Suécia teve um caminho fácil na fase do "mata-mata", vencendo a Arábia Saudita nas oitavas-de-final e a Romênia nas quartas. Depois de 80 minutos pressionando os escandinavos, perdendo gols, mas jogando com calma e foco, o Brasil chegou à sua quinta final de Copa com Romário. Depois de um cruzamento pereit do lateral direito Jorginho, o famoso Baixinho se agigantou em meio a dois grandalhões suecos e cabeceou pra dentro do gol. Depois do jogo, o treinador Tommy Svensson, resignado, reconheceu a superioridade verde-e-amarela e previu o que estava por acontecer: "Perdemos para o melhor time da Copa. Não tenho dúvida de que o Brasil vai conquistar seu quarto título mundial", disse ele, de acordo com a edição do GLOBO de 14 de julho de 1994.
Vinte e quatro anos após a histórica vitória brasileira, por 4 a 1, em 1970, a seleção estava de novo numa final de Copa contra a Itália. A decisão colocava frente a frente duas seleções, na época, tricampeãs do mundo. O jogo foi lento e truncado, o cuidado ditou o ritmo durante quase toda a partida. Os times queriam vencer, mas, acima de tudo, não queriam perder. Baresi não desgrudou de Romário, que mesmo assim teve ótima chance e perdeu um gol incrível quase sob as traves italianas.
Aquele 0 a 0 do tempo regulamentar foi levado para a prorrogação e sobreviveu aos 30 minutos extras. Pela primeira vez, uma Copa do Mundo seria decidida nos pênaltis. A sequência de cobranças começou com dois pênaltis perdidos, um de cada lado. Pela Itália, Baresi isolou. Do lado do Brasil, o goleiro Pagliuca defendeu o chute de Márcio Santos. Após seguidas cobranças convertidas, no quarto pênalti italiano, Taffarel brilhou e pegou a tentativa de Massaro. Dunga cobrou em seguida e deixou a equipe verde-e-amarela na frente. Mas, ironicamente, o chute que decretou a vitória do Brasil saiu dos pés de um italiano. O atacante Roberto Baggio, estrela da Azzurra, mandou a bola para muito longe. Foi o pontapé inicial para a festa do país do samba. "É tetra!", gritava o locutor Galvão Bueno, da Globo.
A conquista foi dedicada ao piloto Ayrton Senna, que havia morrido meses antes em um acidente no Grande Prêmio de Imola, na Itália. No gramado, os jogadores seguravam uma faixa com os dizeres: "Senna... Aceleramos juntos, o Tetra é nosso!". O título levou a geração de Dunga e Romário, muito contestada após perder a Copa de 1990, a dar a volta por cima, garantindo o primeiro título mundial depois da era Pelé. Ate a sul do Brasil, os torcedores foram às ruas comemorar. Depois de 24 anos, a seleção brasileira reconquistava a confiança da sua torcida. Capitão da seleção, Dunga marcou erguei a taça, repetindo o gesto realizado por outros três líderes anteriores: Bellini, Mauro e Carlos Alberto Torres.
O Globo