sábado, 27 de junho de 2015

O uso de senhas como ‘tulipa’ e ‘caneco’ informa que os devotos do ‘Brahma’ inventaram a cautela imprudente

Com Blog Augusto Nunes - Veja




Lula-Brahma

É sempre assim. Tão logo se descobre que outra reportagem de VEJA vai reiterar que sábado é o mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, recomeça a apresentação da ária mais enfadonha da Ópera dos Malandros. O elenco da peça produzida, dirigida e estrelada por Lula volta ao palco para convencer a plateia de que verdade é mentira.
Tem sido assim desde a descoberta do Mensalão em meados de 2005. De lá para cá, os canastrões em cena capricham na pose de vítima e repetem as mesmas falas. Os culpados são inocentes. O xerife é o vilão. É tudo invencionice da imprensa reacionária a serviço da elite golpista. Os responsáveis pela infâmia serão processados. E tome conversa de 171.
Não poderia ser diferente neste fim de semana especialmente aziago para os celebrantes de missa negra. Apavorado com a reportagem de capa de VEJA, que enfileirou em 12 páginas a essência dos depoimentos prestados pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, o rebanho nem esperou pela chegada às bancas do primeiro exemplar para balir em coro que está está em curso mais uma trama sórdida contra o PT.
Como confiar na palavra de um bandido confesso, e ainda por cima delator?, recitam os filiados ao partido que virou bando. Para a companheirada, só é criminoso um parceiro de maracutaias que, em troca dos benefícios reservados aos que aceitam colaborar com a Justiça, decide contar o que fez, revelar o que sabe e identificar os comparsas. É o caso de Pessoa. Até recentemente um generoso amigo de Lula, virou o inimigo número 1 dos parteiros do Brasil Maravilha.
Coerentemente, os lulopetistas sem cura promovem a guerreiros do povo brasileiro todos os delinquentes que só abrem o bico para mentir. Nada fizeram de errado. Como não cometeram crimes, não existem cúmplices. Portanto, não há nada a confessar. Quem opta pelo silêncio mafioso tem vaga assegurada no time dos inocentes ultrapados por direitistas que abandonam o avião quando um ex-pobre se instala na poltrona ao lado.
Além da desqualificação do acusador, o manual da esperteza companheira ordena o sepultamento da prova testemunhal. Se não estiver amparada em provas materiais, toda acusação deve ser rebaixada a fofoca. Para azar dos cleptocratas liberticidas, Ricardo Pessoa juntou aos depoimentos uma pilha de documentos e planilhas com altíssimo teor explosivo. Nem precisava, informa a leitura das declarações do empreiteiro.
Os depoimentos de Pessoa confirmam que o poder de fogo da prova testemunhal é determinado pelo volume e pela qualidade dos detalhes. Afirmar que João Vaccari Neto recolhia pessoalmente a parte do PT no produto do roubo é uma coisa. Fica mais convincente quando se acrescenta que a alcunha de Vaccari — Moch — foi sugerida pela mochila permanentemente pendurada no ombro do coletor de propinas. Ao revelar que  o tesoureiro gatuno chamava propina de “pixuleco”, Pessoa desenhou um círculo que lembra o das algemas.
Outros detalhes aposentaram de vez a piada do chefe de tudo que nunca soube de nada. “Segundo Ricardo Pessoa”, diz um trecho da reportagem de VEJA, “a UTC deu 2,4 milhões de reais em dinheiro vivo para a campanha à reeleição e Lula, numa operação combinada diretamente com José de Filippi Júnior, que era o tesoureiro da campanha e hoje é secretário de Saúde da cidade de São Paulo”.
As minúcias seguintes atestam que os saqueadores da Petrobras se valiam de métodos que fundiam cuidados e descuidos. Ficou estabelecido que os pacotes de dinheiro seriam levados ao comitê da campanha de Lula por Pessoa, pelo executivo da UTC Walmir Pinheiro ou por um emissário escalado por ambos. “Para não chamar a atenção de outros petistas que trabalhavam no local”, revela VEJA, “a entrega da encomenda era precedida de uma troca de senhas entre o pagador e o beneficiário”.
Ao chegar à cena do crime, o homem da mala deveria dizer “Tulipa”. Só subiria se ouvisse a contra-senha corrreta: “Caneco”. As duas palavras remetem a chope e cerveja, que rimam com “Brahma”. Em mensagens trocadas por integrantes da organização criminosa, “Brahma” era o codinome de Lula. Entre uma ladroagem e outra, os quadrilheiros do Petrolão conseguiram inventar a cautela imprudente.