domingo, 29 de outubro de 2023

'A história se repete: decapitações como forma de terror islâmico', por Thiago Braga

Imagem de um tempo melancólico em que o mundo tem líderes deploráveis como o papa argentino Francisco, Putin, Lula, o chinês... Foto: ABC News


No início de agosto deste ano, eu escrevi uma coluna aqui na Gazeta da Povo explicando como historicamente a decapitação fazia parte da cultura militar dos muçulmanos, e como essa prática foi usada indiscriminadamente na Península Ibérica a partir do século VIII. Estamos em outubro no meio de mais uma guerra sangrenta no mundo, e aquele artigo volta a ser relevante pelo mesmo terror aplicado há séculos: decapitações.

No sábado, dia 7 de outubro, os terroristas do Hamas, lançaram uma série de ataques contra Israel. Quem, com um mínimo de humanidade, não se chocou com o assassinato em massa e intencional que matou mais de 200 civis em uma festa próximo a Gaza? Eles foram atirando em banheiros químicos, um a um, sem saber quem estava dentro deles. Crianças e bebês foram assassinados e tiveram seus corpos queimados pelos terroristas; mulheres estupradas; os terroristas publicaram fotos e filmagens das vítimas mortas no próprio Facebook delas, e foi desse jeito bizarro que algumas famílias souberam da morte de seus parentes.

Mas os terroristas islâmicos mataram muitas pessoas usando um velho método bem típico deles: decapitação! Esse método repulsivo de matar tem sido muito usado não só nesses ataques do Hamas, mas em especial nas últimas duas décadas as decapitações têm sido usadas para chocar. Você deve se lembrar de várias cenas dos terroristas do Estado Islâmico divulgando filmagens de prisioneiros americanos prestes a serem decapitados em frente à câmera. E assim como todos os maiores grupos terroristas islâmicos do mundo, eles justificam seus ataques nos procedentes históricos registrado em crônicas islâmicas. Os terroristas islâmicos estão entre os maiores exemplos de como a história pode se repetir... E da sua forma mais terrível possível.


A decapitação de reféns tem a intenção de transmitir duas mensagens. A primeira é o puro horror, direcionado ao público ocidental. A segunda, dirigida ao mundo islâmico, é aquela através da qual os terroristas pretendem mobilizar as massas muçulmanas


E a professora Maribel Fierro, nesse mesmo estudo que mencionei anteriormente, o “Decapitation of Christians and Muslims in the Medieval Iberian Peninsula: narratives, images, contemporary perceptions” (Decapitação de cristãos e muçulmanos na Península Ibérica medieval: narrativas, imagens e percepções contemporâneas) mostra as justificativas históricas e religiosas dadas por esses mesmos terroristas pra continuarem essas práticas literalmente medievais. Na p. 140 ela cita um especialista francês em radicalismo islâmico, o professor Gilles Kepel, e mostra como essa prática de “showbusiness” inspira fascinação mórbida em especial em públicos mais jovens. Kepel mostra o maior impacto que decapitações podem ter na vítima e em quem assiste, comparado por exemplo a explosões, que não causam o mesmo tipo de conexão com as vítimas, como acontece com essas decapitações.

E aqui nós chegamos no ponto alto da correlação histórica feita por esses extremistas: a professora Fierro, ainda citando Kepel diz que “ele salientou como é importante para militantes islamistas reprojetar suas práticas políticas para o passado para onde eles consideram ser a verdadeira e original tradição islâmica.” Para eles, a decapitação “é a forma de execução mais islâmica”, particularmente a execução de homens que foram feitos prisioneiros. “Assim, a decapitação de reféns tem a intenção de transmitir duas mensagens. A primeira é o puro horror, direcionado ao público ocidental. A segunda, dirigida ao mundo islâmico, é aquela através da qual os terroristas pretendem mobilizar as massas muçulmanas e, assim, procurar legitimação numa perspectiva religiosa.” Portanto, o fator religioso está sempre presente na mente desses extremistas islâmicos, a política nunca é o único fator, a religião islâmica é um fator determinante nessas ações.

E agora na p. 141 a professora destaca a parte onde os terroristas defendem que a decapitação é a forma “mais islâmica de execução.” E aqui ela cita o terrorista Abu Mus ab al Zarqawi, ex-jihadista famoso do Al-Qaeda no Iraque... ex-jihadista porque ele já morreu, graças a Deus. Em maio de 2004, depois de ter decapitado o americano Nicholas Berg ele declarou a legitimidade do assassinato dizendo que “O Profeta (Maomé) ordenou a decapitação de alguns dos prisioneiros de Badr, que tinham suas mãos amarradas. Ele é nosso padrão e um bom exemplo a ser seguido.” Na imagem acima a gente pode ver como eles seguem exatamente esse precedente histórico: mãos amarradas para trás, e em seguida decapitação. E aqui no artigo a professora atesta esse precedente histórico relatado desde 822 por cronistas muçulmanos pioneiros, como Al-Waqid na sua crônica Maghazi, embora Saladino fosse contra a ideia de matar um inimigo com suas mãos amarradas.

Nas últimas décadas, muitos extremistas islâmicos têm aterrorizado o mundo com suas táticas macabras e literalmente medievais. Eles se consideram soldados de uma "Guerra Santa", e, portanto, os fins extremos sempre justificam os meios mais extremos ainda. E isso é um problema quando ondas e mais ondas de imigrantes muçulmanos chegam no Ocidente: no meio de pessoas de bem, milhares de terroristas estão camuflados... Até que não queiram estar mais; mas nesse caso, já pode ser tarde demais.

Thiago Braga é especialista em História da Guerra e Ciências Humanas: História, Filosofia e Sociologia pela PUCRS, Literatura Europeia e Língua Inglesa pela PUC Rio


Gazeta do Povo

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sábado, 28 de outubro de 2023

'Para os poderosos, população só serve para pagar cada vez mais impostos', escreve J.R. Guzzo

 

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil


Os economistas, tributaristas, comentaristas, jornalistas, analistas e especialistas que se aglomeram para nos explicar a “reforma tributária” falam, falam, falam e não dizem nada, como anotava Nelson Rodrigues. Não só isso. Falam de tudo, menos da única coisa que realmente vai acontecer ao Brasil e aos brasileiros ou, mais precisamente, contra eles: os 800 bilhões de reais a mais em impostos, ou algo assim, que o governo e o Congresso querem arrancar do bolso do cidadão não vão servir para nada.

Ou melhor, não vão ser utilizados para minorar, e muito menos resolver, um único problema real da população brasileira – nem um que seja. Vai ser tudo entregue para os gatos gordos, e gordíssimos, que mandam no Brasil. Como o viciado em drogas que precisa de doses cada vez maiores para manter o vício, a máquina pública precisa de cada vez mais dinheiro para continuar viva; só consegue respirar se as suas despesas estiverem em expansão permanente, como na galáxia.


Um país com um mínimo de decência exige que se apresentem explicações e algum tipo de raciocínio para se cobrar mais imposto.


Essa aberração se deve diretamente a uma visão patológica do que deve ser a sociedade deste país. A elite política, os sultões do alto funcionalismo público e as classes intelectuais do “campo progressista”, no fundo, entendem que a população brasileira só tem uma função real: trabalhar e entregar metade do que ganha, ou mais, em impostos para sustentar o Estado. Não serve para mais nada.

Não serve, principalmente, para ter nenhuma opinião sobre as questões que mais a interessam – a começar pelo pagamento de impostos. Também não pode ser ouvida quanto ao aborto, à liberação de drogas “em pequenas quantidades” ou o pagamento da “contribuição” sindical. Querem tirar sua liberdade de se manifestar nas redes sociais. Cassam mandatos de quem o brasileiro elegeu e o proíbem de votar em candidatos “não aprovados”. Como diz o presidente do STF: “Perdeu, mané”.

Qual o sentido que faz, pela lógica elementar e pela moral comum, cobrar mais impostos num país em que os governos, em seus três níveis, já arrecadaram 2,5 trilhões de reais – isso mesmo, trilhões – só nos dez primeiros meses deste ano? Se os donos do sistema não conseguem pagar suas contas com essa dinheirama toda, por que iriam se contentar com os 800 bilhões a mais que estão querendo?

Um país com um mínimo de decência exige que se apresentem explicações e algum tipo de raciocínio para se cobrar mais imposto. Algo assim: “Precisamos de 800 bi para executar este projeto que está aqui, com tais e tais detalhes”. Mas não há o mais remoto vestígio de nada que se pareça com um projeto público na atual “reforma tributária”. O que eles dizem é o seguinte: “Precisamos de 800 bi. Podem ir pagando, manés”.

Hoje a quantia é essa. Daqui a pouco vai ser mais. Claro que sim – eles querem mais imposto porque precisam pagar, entre um milhão de despesas do mesmo tipo, uma magistratura que tem dois meses de férias por ano, “adidos militares” em países como a Polônia e a Guatemala, um Poder Judiciário e um Congresso que estão entre os mais caros do mundo. É um país em que o presidente da República e a sua mulher querem comprar um novo Airbus de 400 milhões de reais, para brincarem de milionários de Terceiro Mundo em seu programa de uma viagem internacional a cada vinte dias. Não há “arcabouço fiscal” que aguente.


J.R. Guzzo, Gazeta do Povo

Análise da polícia italiana favorece defesa dos acusados de hostilizar Alexandre de Moraes

 

Montagem com fotos da confusão em Roma envolvendo a família de Moraes que constam no relatório da Polícia Federal. Polícia italiana tem análise diferente| Foto: Reprodução/Relatório da Polícia Federal


Um relatório da polícia italiana relacionado à investigação sobre suposta agressão a Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a seu filho pelo empresário brasileiro Roberto Mantovani em aeroporto de Roma, pode favorecer a defesa dos acusados de eventos ocorridos em 14 de julho. Segundo o documento obtido pela revista Veja, o magistrado e Alexandre Barci de Moares, que estavam prestes a voltar ao Brasil, apenas se envolveram em bate-boca, sem agressões físicas.

Alexandre de Moraes relatou à polícia que insultado pelos brasileiros, sendo chamado de “bandido, comunista e comprado”. Na confusão, seu filho teria recebido um “tapa” nos óculos. O informe da Polícia de Fronteira Aérea do terminal de Fiumicino, contudo, descreve um contato físico que causou só impacto leve nos óculos de Alexandre Barci de Moraes. Baseado em sete fotos captadas pelas câmeras de segurança, as autoridades italianas relatam que, às 18h39, houve apenas “contato físico notável” entre Mantovani e o filho do ministro.

Na ocasião, afirmam os policiais, Alexandre Barci de Moraes estendeu o braço esquerdo, provavelmente em resposta aos insultos verbais que havia recebido, passando perto da nuca de Mantovani, que, ao mesmo tempo, fez ação semelhante com o braço direito, tocando nos óculos do filho do juiz. A conclusão da polícia após analisar imagens da discussão também descreve a abordagem de Andrea, esposa de Mantovani, e de seu marido em direção ao filho do ministro.

Uma cena mostra o empresário apontando o dedo indicador a Alexandre Barci de Moraes e um passageiro tentando acalmar os ânimos. Outra mostra o ministro e seu filho do lado de fora da sala VIP, onde estavam os envolvidos, aparentemente tirando fotos uns dos outros como prova do incidente. O documento da polícia sustenta a versão dos acusados, que sempre negaram ter agredido fisicamente o filho de Alexandre de Moraes. O advogado Ralph Tórtima, que defende Mantovani, afirma que o episódio não tem motivações políticas nem ameaças ao ministro ou ao STF.

Na última segunda-feira (24), o ministro Dias Toffoli, do STF, negou à defesa dos três brasileiros acusados de hostilizar Alexandre de Moraes a cópia das filmagens do aeroporto em Roma, mantendo o material recebido de autoridades italianas sob sigilo. A decisão foi questionada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e por diversos juristas, vista como cerceamento de defesa.


Sílvio Ribas, Gazeta do Povo

Bayern 8 x 0 SVD - 3 de Kane...

'Se Hitler visse o que está acontecendo em 2023', por Paulo Polzonoff Jr.

 

Abertura da série Mr. Bean. Só para você entrar no clima do texto.| Foto: Reprodução/ YouTube


Nossa história começa como a abertura da série Mr. Bean. Sim, aquele sujeito desengonçado que te fez rir nos anos 1990 – e, se não fez, só lamento. É noite. Toca o sino. Um cachorro late. De repente, surge um facho de luz. Diferentemente do simpático personagem de Rowan Atkinson, porém, o ser fantástico da nossa história não cai do céu. Ele emerge do esgoto sulfúrico para, quase oitenta anos depois de ter estourado os miolos num bunker de Berlim, descobrir que é bom, é fácil, é aceitável, é normal ser nazista em 2023. Sim, estou falando de Hitler.

Do velho Adolfo que hoje, contudo, optou por outro nome social. Também está mais jovem, o Füher. O cabelo ele cortou e pintou com as cores da bandeira palestina; o bigode ele usa bem fininho, tipo canalha nelsonrodrigueano. Além da indefectível argola no nariz, pelo corpo Adolfo exibe tatuagens que são verdadeiros libelos das causas políticas que ele defende. E só não vou descrever a indumentária do sujeito porque o Departamento Jurídico me impede. Mas você é livre para imaginar. Por enquanto.

Magicamente, porque em imaginação tudo é permitido, nosso Mr. Bean racista, nacionalista, iliberal, antissemita, eugenista e, last but not least, socialista está no campus de uma universidade pública brasileira. Ao seu redor, adolescentes tardios cantam slogans antissemitas. Hitler, agora com o nome social vetado pelo Jurídico, não se aguenta e entra na roda. Tira o pé do chão, como se diz. Para um professor de filosofia a seu lado, ele pergunta o que está acontecendo e ouve palavras e expressões que não entende, mas que soam como música a seus ouvidos. “O que ser Agenda 2030? O que ser duguinisma?”, quer saber ele com um sotaque tão carregado que uma herdeira woke ali perto sai correndo, apavorada.

Logo Adolfo aprende (até porque esse é o ponto central desta crônica) que seu querido nazismo continua sendo execrado como símbolo de um mal absoluto. O que é ruim – para ele. Por outro lado, as ideias que compunham a abominavelíssima ideologia continuam mais vivas do que nunca. Para sobreviverem, contudo, essas ideias tiveram de tomar um banho de loja. De marketing digital, se preferirem. O antissemitismo virou apoio à carnificina do Hamas. O nacionalismo belicista e os delírios de superioridade racial viraram reafirmação heroica da intelectualidade. Ditadura virou democracia e, por consequência, censura virou... defesa da democracia. Eugenia virou “questão de saúde pública” e engenharia social virou empatia.

Já os Fühers da vez variam de lugar para lugar, mas estão em toda parte. Todos querendo transformar o mundo e moldá-lo de acordo com a sua vontade. Todos querendo impor ao outro sua ideia de um mundo perfeito. Todos se imaginando sobre estátuas equestres a serem veneradas pelos próximos mil anos. Todos odiando as infinitas manifestações da liberdade. Os Putins e os Bidens. Os Lulas e os Trudeaus. Os Xis e até as Gretas.


Nem te conto

De repente, no meio da manifestação, Hitler recebe um panfleto no qual lê, entre outras coisas, que os judeus usam o Holocausto para se fazerem de vítima. Ele ri. Só ri. Adiante, lê que os fãs da arte degenerada da música eletrônica ou do funk merecem morrer. Mais risadas. Risadas contidas, discretas, mas ainda risadas. Por fim, lê que Israel, por ser um Estado progressista onde o aborto é legalizado, tem mesmo é que ser destruído. Uau. Para ser sincero, até Hitler se escandalizou um pouco com essas partes do panfleto.

Aí, enquanto pensa no próprio triunfo, Adolfo ouve um rufar de tambores e vê desfilarem vários grupos identitários, cada qual com seu estandarte. O do punho cerrado. O da estrela de oito pontas, em cada uma delas uma flecha. O da estrela verde que certamente esconde um sigma maiúsculo (Σ). O da foice e do martelo – velhos conhecidos do Füher. E aquela que não posso descrever sem autorização expressa do Departamento Jurídico. Essa mesmo em que você está pensando.

Ao ver aquele espetáculo identitário, Hitler sente uma pontada de saudade de Nuremberg e da sua suástica pervertida. “Se eu soubesse que seria assim…”, pensou ele. E olha que, só porque o texto está acabando, Adolfo não teve nem tempo de publicar nada nas redes sociais e, assim, ganhar milhares, não, milhões de seguidores e likes e visualizações que validam sua psicopatia toda banhada em clichês politicamente corretos.

Agora nossa história vai terminar como começou. A mesma referência à série Mr. Bean. A mesma noite. O mesmo facho de luz. O mesmo dobrar dos sinos. O mesmo latido dos cães. O mesmo esgoto sulfúrico no qual agora mergulha Hitler, com a missão de relatar ao chefe dele a quantas andam as coisas aqui na superfície. Se o mal está vencendo o bem – e às vezes parece que está. Se as pessoas ainda temem a Deus e pregam aquela coisa ridícula de misericórdia e caridade. Ou se ele, o diabo, está sendo bem-sucedido com sua blitzkrieg de inveja e ressentimento, quando não puro ódio.

“Nefarious, nem te conto”, começa Hitler. E conta.


Paulo Polzonoff Jr, Gazeta do Povo