Fluxo tem ido para os setores de commodities e financeiro, enquanto as ações mais voltadas para setores domésticos e small caps continuam para trás
Rebeca Nossig - XP - Divulgação
Destacando as projeções mais altas de lucro por ação, a XP elevou a sua projeção para o Ibovespa ao final de 2022 de 123 mil pontos para 130 mil pontos, o que corresponde a uma alta de 8,33% em relação ao fechamento da véspera, que ficou ligeiramente abaixo dos 120 mil pontos.
Os estrategistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebeca Nossig, que assinam o relatório com as novas projeções, apontam que, durante o mês de março, a Bolsa brasileira continuou subindo, com o principal índice fechando o período em alta de 6,1%.
Devido à forte valorização do real durante o mês, em dólares o índice subiu 16%, levando o Brasil à “pole position” das ações globais no acumulado do ano, com avanço de 35% em 2022 até agora, em dólares.
Os estrategistas destacam que o forte ingresso de fluxo estrangeiro para o Brasil continua. Eles apontam que, em reuniões com investidores estrangeiros realizadas recentemente, viram um otimismo crescente em relação ao país – o que também é evidenciado pelas fortes entradas de dinheiro estrangeiro na B3 nos últimos 18 meses. Até agora, a entrada líquida acumulou R$ 92,7 bilhões, ante R$ 102 bilhões que entraram no ano todo de 2021.
“As visões otimistas se devem à falta de alternativas sólidas entre outros grandes mercados emergentes, à forte exposição a bancos e commodities da Bolsa brasileira, o valuation barato e ao real mais forte em relação ao dólar”, apontam.
O alto nível das taxas de juros locais atua como um amortecedor para a moeda brasileira, avaliam, melhorando o retorno em dólares para os investidores estrangeiros. Dessa forma, esperam que os fluxos externos continuem nos próximos meses.
Assim, a XP aponta que o mercado brasileiro está se beneficiando de uma combinação de: 1) rotação global de ações de crescimento para ações de valor; 2) uma forte exposição do Brasil a commodities e bancos; 3) valuation ainda muito atrativos apesar do rali recente; 4) fluxos de outros mercados emergentes para o Brasil e 5) o fato de o país estar chegando ao fim de seu ciclo de alta de juros, enquanto o Fed e outros bancos centrais de mercados desenvolvidos estão apenas começando subir os juros.
Para os estrategistas, as ações brasileiras continuam sendo negociadas em níveis atrativos de valuation, com um múltiplo de preço sobre o lucro (P/L) projetado de 7,5 vezes, desconto de 33% em relação à média dos últimos 15 anos, em 11,2 vezes.
“Além disso, vemos riscos de alta para o lucros do Brasil, o que pode fazer as ações brasileiras parecerem ainda mais baratas”, apontam.
Se as expectativas de LPA (Lucro por Ação) para 2022 aumentarem em 10%, o P/L futuro estaria mais próximo de 7 vezes. “Também é importante notar que a valorização do Ibovespa ex-commodities é menor, ou seja, não é mais apenas para commodities que a valorização da bolsa brasileira é atrativa”, complementam os especialistas.
Outro tema em destaque ocorrido no mês foi a inversão da curva de juros nos EUA, que é vista como um potencial sinal de recessão à frente. A diferença entre o rendimento do Tesouro de 10 anos e o rendimento de 2 anos atingiu o nível mais baixo desde o início da pandemia, e toda recessão nos EUA desde 1955 foi precedida por uma inversão da curva de juros.
No entanto, apontam os estrategistas, não é hora de entrar em pânico, “pois o mercado geralmente ainda tem um bom desempenho logo após uma inversão de curva, e as recessões não começaram menos de 12 meses após essas inversões”.
Dois lados da mesma moeda
A equipe de estratégia ainda aponta que, enquanto o Brasil no geral está indo bem, há “dois lados de uma mesma moeda” na Bolsa brasileira.
Isso porque os fluxos estrangeiros que chegam ao país têm sido direcionados, principalmente, para os setores de commodities e financeiro, enquanto as ações mais voltadas para os setores domésticos e small caps continuam para trás.
Enquanto as commodities e setor financeiro do Ibovespa subiram mais de 20% no acumulado do ano, os demais setores subiram apenas 6,7%. O índice de small caps também continua atrás do Ibovespa com um retorno de 6,7% até agora.
Com as empresas domésticas ficando para trás, a questão destacada é se já estamos num ponto atraente para fazer uma rotação de volta para esses setores.
Os analistas listaram, conforme quadro abaixo, uma lista de empresas de cobertura da que: i) caíram mais de 20% nos últimos 12 meses; ii) têm o P/L abaixo da média histórica de 5 anos; iii) têm crescimento positivo do LPA (Lucro por Ação) entre 2021 e 2023; e iv) que os analistas da XP possuem recomendação de compra.
Contudo, dado o cenário macroeconômico ainda desafiador no Brasil, com inflação e taxas de juros ainda crescentes, e uma projeção de 0% de crescimento do PIB para 2022 segundo o time de economia da XP, os estrategistas ainda acreditam ser cedo para fazer uma migração total para os players domésticos.
Outras projeções
Algumas casas têm revisado suas projeções para o Ibovespa ao final do ano em meio ao maior otimismo do mercado. A Ativa Corretora elevou nesta semana a sua projeção de 117 mil para 135 mil pontos (ou potencial de alta de 12,5% em relação ao fechamento da véspera), enquanto a Guide elevou na semana passada a sua estimativa de 120 mil pontos para 130 mil pontos, assim como a XP.
Entre os primeiros temas, o fluxo estrangeiro vindo para o Brasil, e o crescimento dos lucros das empresas, particularmente das produtoras de commodities.
Lara Rizério, InfoMoney