E basta ter um mínimo contato ou relação amistosa com o presidente Jair Bolsonaro que já é o suficiente para o chamado “cancelamento”, ainda que pelos meios mais distorcidos e mentirosos dos fatos.
Dei como exemplo o caso do deputado Celso Russomano (em quem nunca votei e provavelmente nunca votarei), que sequer recebeu o apoio de Bolsonaro, mas que por não ser o candidato de esquerda à prefeitura de São Paulo e, principalmente, por ter visitado o presidente no hospital, passou a ver sua filha e seu genro sofrerem ataques em reportagens sobre processos que respondem na justiça (em que ambos são réus e, se culpados, terão que cumprir a pena, o que considero justíssimo, mas cujo fato em sí não tem qualquer ligação com o político citado).
Pois bem, agora chegou a hora dos esquerdopatas atacarem o novo escolhido por Bolsonaro para ocupar a cadeira que vai ficar vaga no Supremo Tribunal Federal: o desembargador Kassio Nunes Marques.
Poucas horas após a decisão, já começam a pipocar as manchetes. No Globo, no Extra, na Folha, no Estadão, no Antagonistas e por aí vai.
Kassio Nunes liberou lagostas para o STF … Kassio Nunes não permitiu extradição de Cesare Battisti … Kassio Nunes permitiu matança de jumentos na Bahia …
Pois acho justo esclarecer melhor as acusações acima, sem qualquer intenção de defendê-lo, pois não conheço o indicado, nunca ouvi falar de seu nome, não faço ideia se será um bom ou mau ministro do STF.
Sobre as lagostas (e os vinhos premiados), a compra foi de 11 milhões de reais. Realmente um verdadeiro absurdo, que todos nós criticamos e vamos cobrar que não se repita.
Mas a tal “liberação” seguiu apenas o trâmite normal. A justiça questionou se havia ilicitude na compra e o caso foi para a primeira região, onde o novo ministro ainda está lotado como juiz. Em análise de colegiado, decidiu-se que não havia compra ilícita. Não se julgou ali a moralidade da compra, mas sim se os valores condiziam com o produto comprado, a quantidade e etc. Quem de fato liberou a compra foi quem viu a lista, aprovou e assinou o cheque, o então presidente do STF, ex-advogado do PT, Dias Toffoli.
Sobre os jumentos baianos, Kassio Nunes derrubou uma decisão da justiça que proibia o abatimento desses animais para a venda da carne (alguns países comem, assim como consomem de carnes diversos outros animais), do couro e de outras partes do corpo, usadas na indústria farmacêutica. Isso é apenas um preconceito. Trata-se de uma indústria que gera renda e empregos com base em determinado produto. São mais de 10 milhões de jumentos na Bahia (ha inclusive criações, como as de bois, aves e caprinos).
Como no Brasil não estamos acostumados a comer carne de jumento, ficamos “meio assustados”, entretanto não pensamos duas vezes em comer carne bovina, abatendo milhões da espécie, anualmente. Neste caso, há todo um folclore sobre a figura do jumento nordestino, “o eterno parceiro do homem na seca”. Tem também o jumento dos desenhos animados e etc. Mas na vida real é um animal consumível (ainda que eu não coma carne de qualquer espécie, por escolha própria).
Por fim, vamos ao caso Battisti. Segundo a grande mídia, o pecado de Kassio Nunes foi não ter concedido um pedido de extradição feito pela França, em 2015. Claro que sempre defendemos a extradição do assassino e terrorista italiano, mesmo antes de 2015, pois consideramos que ele sequer deveria ter ingressado em nosso país. Mas a decisão do então juiz foi baseada no fato de que a justiça, anteriormente, já havia recusado a extradição de Cesare Battisti para a própria Itália, local onde os crimes haviam sido cometidos, em processo que ainda corria e já era analisado em instâncias superiores.
De fato, liberar Battisti para a França seria como um desvio de rota em relação ao processo que já corria, e um provável desrespeito à justiça em curso. Enfim, o amigo do Lula, acabou mesmo extraditado em 2018 e cumpre prisão perpétua em sua terra natal. E não vi, na decisão do novo indicado do STF um ato imoral que possa macular sua reputação pessoal ou profissional.
Mas sabemos que isso é só o começo e logo virão mais “acusações.”
Como eu disse antes, até os vizinhos de Kássio não escaparão dos olhares inquisidores. O que importa para “eles” é destruir os “adversários”, seja lá como for!
Mario Abrahão. Jornalista, trabalha com produção de textos, rádio e televisão desde 1996. Pós-graduando em Ciência Política e em Gestão de Comunicação e Mídias Digitais, foi repórter setorista, em Brasília, desde junho de 2011 até o final de 2019. Reside agora em Jundiaí-SP, onde se especializa e prepara novos projetos de comunicação, com foco na política da região.
Jornal da Cidade