quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

'Brasil vive hoje o admirável mundo novo dos juros baixos'

A queda da taxa de juros para patamares históricos está transformando o mercado de crédito e de investimentos no Brasil. Nesta quarta-feira, 29, em palestra no Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, associado à Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), os economistas Roberto Teixeira da Costa, Maílson da Nóbrega e Newton Rosa discutiram sobre os benefícios e os riscos desse novo mundo, como uma bolha no mercado de capitais.
“O rápido recuo da taxa de juros pegou os brasileiros despreparados. Até então nossa cultura era de investir em poupança e renda fixa”, diz Costa, fundador e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). De uma hora para outra, completa ele, os investidores tiveram de buscar novas formas de remunerar seu capital, elevando a procura por renda variável e aumetando o preço dos ativos. “Isso acabou gerando uma discussão sobre uma bolha especulativa.”
Na avaliação de Costa, se comparados aos ativos internacionais, o mercado brasileiro não está caro nem barato. Mas se levar em conta o patamar dos ativos de três anos atrás, está caro. Ele, no entanto, não vê com preocupação o risco de formação de uma bolha. “No passado, o estrangeiro abocanhava boa parte das emissões na Bolsa. Hoje, na busca de novas opções de investimento, é o brasileiro que tem feito esse papel.”
Para Maílson, ex-ministro da Fazenda, o Brasil vive hoje “o admirável mundo novo dos juros baixos”, que veio para ficar. Ele acredita que esse é o resultado de um conjunto de ações que aumentaram a potência da política monetária brasileira – num processo que durou 25 anos. Com os juros mais baixos, diz ele, o mercado de capitais já assume papel de provedor do crédito no País, seguindo o caminho dos Estados Unidos, onde representa 80% do crédito. Por aqui, esse número é de 30%, um grande avanço, na avaliação dele. “O que ocorre hoje é algo inimaginável há cinco anos.”
Crédito
Maílson diz que mercado de capitais brasileiro segue caminho do americano
Foto: Iara Morselli/Estadão
Maílson destaca, entretanto, que apesar de o mercado apostar em novas quedas na Selic, a taxa de equilíbrio não é de 4,25% ou 4% ao ano. “Essa é uma taxa estimulativa. Vemos a Selic em torno de 7% ao ano daqui a dois anos.”

Newton Rosa, economista-chefe da Sul América, concorda. Para ele, mesmo se subir um pouco, a taxa de juros vai estimular novas captações, especialmente do setor de infraestrutura que puxará o crescimento neste ano junto com o consumo das famílias. Na opinião de Rosa, apesar da lenta retomada da atividade econômica, o movimento de agora é mais saudável. “Antes a economia voltava a base de mais gasto público. Hoje vemos um padrão novo de crescimento, baseado na volta do consumo das famílias.” 
Renée Pereira, O Estado de S.Paulo