O empresário Marcelo Odebrecht, 51, entrou com um processo em que acusa o atual presidente do Grupo Odebrecht, Ruy Lemos Sampaio, de calúnia e difamação.
No documento protocolado no dia 7 de janeiro deste ano, Marcelo pede explicações sobre a entrevista que Sampaio concedeu ao jornal Valor Econômico em dezembro de 2019 com o título “Odebrecht acusa ex-CEO Marcelo de chantagear empresa”.
Ruy Sampaio, na entrevista, afirmou que Marcelo recebeu R$ 240 milhões da empresa para aceitar assinar o acordo de colaboração. “Marcelo é passado na organização. É página virada. Ele precisa entender e aceitar isso”, disse Sampaio à publicação.
Marcelo afirma que Sampaio tratou sua honra com “desdém e pouco caso” e que divulgou “em mídia nacional informações confidenciais” com o objetivo de prejudicar sua imagem.
O empresário diz ainda que Sampaio estaria fazendo uma retaliação após ele ter apresentado denúncias ao setor de compliance (boas práticas corporativas) da empresa e enviado elementos probatórios para as autoridades.
Marcelo, então, faz 27 questionamentos a Ruy Sampaio sobre afirmações que ele disse para o jornal.
Entre as questões, Marcelo quer saber, por exemplo, “onde, quando e em que local” a suposta chantagem teria sido feita por ele. E se Sampaio sabia que o empresário tinha que se reportar aos superiores hierárquicos enquanto era diretor presidente da Odebrecht.
O processo corre na 23ª Vara Criminal do Estado de São Paulo. A juíza Marcela Raia Sant’Anna deu 30 dias para que Sampaio responda às indagações.
Procurada, a Odebrecht diz que não vai comentar o processo aberto por Marcelo contra Ruy Sampaio.
No dia 20 de dezembro, Marcelo Odebrecht foi demitido do grupo por justa causa. A ordem para a demissão partiu de seu pai, Emílio.
Marcelo era contratado pelo regime CLT. Desde que foi preso, em 2015, havia sido afastado, mas teve mantida a remuneração mensal, de R$ 115 mil.
No pedido de explicações feito a Sampaio, diz que seu desligamento “é objeto de legítima contestação nos foros competentes”.
O empresário foi demitido após reportagem da Folha revelar que ele enviou emails a familiares e diretores do conglomerado em que fez denúncias sobre pessoas-chave do grupo.
Nas mensagens, ele critica, por exemplo, o executivo Mauricio Ferro --seu cunhado--, que chegou a ficar preso cerca de duas semanas por suspeita de corrupção. Escreve que “o maior prejuízo nem foram os R$ 200 milhões roubados, mas tudo o que ele fez, destruindo a Odebrecht e as relações familiares, para ocultar este roubo”.
O suposto desvio ainda está sob investigação.
Emilio, de acordo com Marcelo, teria utilizado o seu poder no comando para nomear executivos que tinham “conflito de interesse”.
Para Marcelo, Ruy Sampaio seria um deles. O empresário argumenta que o executivo atuaria em favor dos interesses de Emílio e de seus próprios, inclusive para evitar investigações que poderiam incriminá-lo.
Em um dos emails, Marcelo diz que “existem evidências fortes, inclusive registros no My Web Day e Drousys [sistemas usados pela empresa para gerir o pagamento de propinas], de que RLS [sigla para Ruy Lemos Sampaio], o representante escolhido pelo mandatário [Emílio Odebrecht], recebeu ou intermediou pagamentos indevidos".
"Isto entre outros fatos, como de obstrução à Justiça, que precisam ser urgentemente apurados”, afirma.
Bruna Narcizo, Folha de São Paulo