Após um longo período de estagnação, a indústria tem demonstrado sinais de desafogo, o que tem se refletido na volta do otimismo entre executivos e empresários do setor. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), medido pela Fundação Getúlio Vargas, divulgado nesta quarta-feira, 29, mostra que o indicador avançou 1,5 ponto em janeiro, para 100,9 pontos. É a primeira vez que o indicador aponta um nível positivo (cem pontos é a linha de corte entre ceticismo e otimismo) desde março de 2018. Fato que a tendência era de alta desde outubro de 2019. Mas, finalmente, os industriais indicaram estar com um prognóstico favorável para a economia brasileiro depois de muito tempo.
Apesar da melhora considerável, o indicador mostra que a confiança ainda está longe do ideal. “Os dados ainda inspiram um pouco de cautela. Os empresários estão preocupados porque a demanda interna ainda não está crescendo rapidamente e a demanda externa tem caído. Isso acaba se tornando um sintoma de frustração para eles”, diz Renata de Mello Franco, economista da FGV/IBRE. “Mas eu vejo esse resultado com bons olhos, porque é a primeira vez que voltamos ao nível neutro, acima dos 100 pontos.”
Em janeiro, a confiança subiu em 13 dos 19 segmentos industriais analisados. O resultado deste mês se deu graças à melhora das expectativas dos empresários, já que o indicador de situação atual se manteve estável. O Índice de Expectativas (IE), por sua vez, avançou 2,8 pontos, para 102 pontos. É o maior valor desde junho de 2018 (102,3 pontos). Já o índice de Situação Atual (ISA) variou 0,1 ponto, para 99,7 pontos, o maior valor desde março de 2018, quando o resultado registrado foi de 100,1 pontos.
Neste mês, todos os indicadores que compõem o IE avançaram para a faixa dos 100 pontos. A variação de 4,6 pontos do indicador que mede as perspectivas sobre a evolução do ambiente de negócios nos próximos seis meses, para 103,5 pontos, foi o que mais contribuiu para a alta do índice. Segundo a economista, o indicador de expectativas avançou em 14 setores, com destaque, principalmente, para “bens de consumo não duráveis” e “bens intermediários”, que são insumos que as empresas compram para elaborar os seus produtos. Outro setor importante para a composição do indicador é o de “material de construção”, que se manteve em alta. “Estamos vendo uma grande melhora para o setor da construção. É uma categoria que tende a se recuperar”, diz Renata.
Por outro lado, setores como “couros e calçados”, “produtos de metal” e “informática e eletrônicos” demonstraram queda no nível de expectativas. Ficaram estáveis os setores de “plásticos” e “máquinas e equipamentos”. “Existe espaço para a indústria crescer em 2020, mas isso ainda existem algumas incertezas”, afirma a economista. “Os fatores políticos foram importantes para conter as expectativas para os próximos meses”.
Uma luz de esperança para o setor é que o nível de utilização de capacidade instalada (NUCI) tem subido, ainda que de maneira tímida. O avanço registrado no último relatório foi de 0,6 ponto percentual (p.p), para 75,7%. Na comparação interanual, sem ajuste sazonal, o resultado é 1,1 p.p. superior. “O conjunto de fatores indica que a confiança dos empresários está voltando. Os investimentos ainda não terão tanta aceleração no curto prazo, mas, pelo menos, a indústria não tem falado em demitir”, projeta Renata.
Felipe Mendes, Veja