quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Lucro do Santander cresce 17% em 2019 e alcança R$ 14,5 bilhões

O Santander lucrou R$ 14,5 bilhões em 2019, um crescimento e 17% em relação a 2018. O resultado divulgado nesta quarta-feira (29) veio em linha com a expectativa do mercado e reflete a expansão de 8,4% da margem financeira —a receita com crédito— e dos ganhos com tarifas bancárias no período.
O banco de origem espanhola é o primeiro a divulgar os resultados consolidados de 2019. 
A receita das operações de crédito subiu 8,3% em 2019 devido ao aumento do volume médio de crédito, que compensou a redução do spread (a diferença entre o custo de captação e a taxa de juro cobrada do cliente), que caiu 0,1 ponto percentual de 2018 para 2019. No período, a taxa Selic (referência para o custo de captação) caiu 2 pontos percentuais, de 6,5% para 4,5%.
A carteira de crédito teve alta de 15% no ano e atingiu R$ 352 bilhões, com maior crescimento na concessão a pessoas físicas, que subiu 17%. As maiores concessões seguem ocorrendo nas linhas com garantia, como créditos consignado e imobiliário, além de cartão de crédito.
O financiamento ao consumo, que considera empréstimos feitos fora da rede bancária, por sua vez, subiu 16,3%, puxado pelo financiamento de veículos.
Segundo o banco, os setores devem se repetir com o maior crescimento em 2020. Uma das grandes apostas é a retomada do setor imobiliário. Para compor o time concessão de crédito ao setor, o Santander contratou recentemente Sandro Gamba, ex-presidente da Gafisa. 
Fachada de agência do Santander
Fachada de agência do Santander - Edgard Garrido/Reuters
Nos empréstimos às empresas, o maior avanço é do crédito às micro, pequenas e médias, que cresceu 15,4% em 2019 para R$ 41,2 bilhões, enquanto os recursos cedidos às companhias de grande porte cresceram a 12%, a R$ 97 bilhões. 
"As empresas estão voltando a investir. Os setores de infraestrutura e energia, mais a longo prazo, e de consumo, à curto, estão melhorando", diz Sérgio Rial, presidente do Santander.
De acordo com o relatório, em novembro, o Santander alcançou 10% da participação do mercado de crédito, o maior patamar em dez anos.
Já as receitas com tarifas e serviços registraram um crescimento de 8%, com aumento de dois milhões de clientes ativos totais.
Os fundos de investimento são outro destaque de crescimento no ano, com captação 21% maior que em 2018. Com a queda da taxa Selic à mínima histórica de 4,5% ao ano, investidores buscaram modalidades de investimento fora da renda fixa tradicional. Em 2019, o número de investidores mais que dobrou e chegou a 1,7 milhão. 
"Não existe capitalismo sem capital na mão de brasileiros, mas é preciso mudar a educação, para pessoas terem noção de risco e não criarmos bolhas", diz Rial.
Segundo o presidente, contudo, é necessário melhorar a regulação de carteiras recomendadas --seleção de ativos recomendadas a clientes por maior previsão de retornos. 
"A qualidade técnica de uma carteira recomendada tem que passar por um crivo muito forte. Agentes têm que incorporar isso, inclusive bancos. Os reguladores têm que estar atentos ao que estar por vir, não podem ser um retrovisor". 
O banco terminou 2019 com retorno sobre o patrimônio líquido médio ajustado (também conhecido como ROAE) em 21,3%, alta de 1,5 ponto percentual em 12 meses. Essa é uma das medidas de rentabilidade do investimento para acionistas do banco.
No ano, o Banco Central adotou medidas para estimar a competição do setor bancário e baratear o custo do crédito, como a imposição de um teto 8% de juros ao cheque especial ao mês. A medida gerou preocupação no setor, já que a modalidade representa uma importante fatia da margem financeira.
"A redução coloca pressão, mas zero problema. Temos que compensar muita coisa, não exite uma bala de prata, mas não estamos agindo em via do juro do cheque especial", diz Rial.
O presidente também não se diz preocupado com o avanço das fintechs, que muitas vezes oferecem produtos com custos inferiores aos bancos tradicionais, desde que elas estejam sobre "as mesmas regras, mesma exigência regulatória e mesma supervisão. É importante não estarmos presos a nomenclaturas (banco e fintech) porque tudo vai convergir".

Júlia Moura, Folha de São Paulo