quinta-feira, 2 de maio de 2019

EUA contratam mais de US$ 1 bi em mísseis três meses após saída de tratado nuclear

GENEBRA - O governo dos Estados Unidos assinou novos contratos de mísseis que somam mais de US$ 1 bilhão nos três meses posteriores ao anúncio de sua retirada do tratado de desarmamento nuclear INF, anunciaram ativistas da campanha antinuclear.
Donald Trump anunciou em outubro do ano passado a saída dos EUA do tratado de armas nucleares de alcance médio (INF), assinado em dezembro de 1987 
Donald Trump anunciou em outubro do ano passado a saída dos EUA
do tratado de armas nucleares de alcance médio (INF), assinado em 
dezembro de 1987   Foto: AP Photo/Alex Brandon
"A retirada do tratado INF iniciou uma nova Guerra Fria", alertou Beatrice Fihn, diretora da Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN), prêmio Nobel da Paz em 2017.
O presidente americano, Donald Trumpanunciou em outubro do ano passado a saída de seu país do tratado de armas nucleares de alcance médio (INF), que foi assinado em dezembro de 1987  e proibiu os EUA e a União Soviética de possuírem e testarem mísseis balítiscos de médio alcance (de 500 km a 5,5 mil km).
Pelo tratado, Washington Moscou destruíram, respectivamente, 846 e 1846 mísseis. Dado seu alcance limitado, eles eram tratados como uma ameaça de guerra nuclear na Europa. Além disso, pelo tempo curto de voo e padrão difícil de detectar, eram mais sucetíveis a acidentes. 
Washington acusa Moscou de ter violado os dispositivos do tratado ao desenvolver um novo sistema de mísseis deste tipo. Em represália, o presidente russo, Vladimir Putinsuspendeu oficialmente no início de março a participação de seu país no INF
Nos três meses posteriores ao anúncio de Trump, o governo americano "assinou novos contratos de mísseis que superam um US$ 1 bilhões", afirma um relatório do ICAN e de outro grupo antinuclear, PAX. Os contratos foram assinados sobretudo com as empresas americanas Raytheon, Lockheed Martin e Boeing. "O Congresso (americano) deve investigar o 'lobby' de Boeing, Lockheed Martin e Raytheon, que ficaram com a maior parte dos contratos", afirmou Beatrice Fihn em um comunicado. 
Os autores do relatório admitem que não sabem se todos os novos contratos estão vinculados à produção de novas armas nucleares. "O que está claro é que existe uma nova corrida para a fabricação de mais mísseis, que beneficia algumas empresas americanas e inundará o mercado de mísseis sem considerar seu alcance", completou.

O relatório calcula que pelo menos US$ 116 bilhões de contratos governamentais estão atualmente em curso com empresas privadas na França, Índia, Itália, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos para a produção, desenvolvimento e armazenamento de armas nucleares. / AFP

O Estado de S.Paulo