Outra característica reconhecida por pessoas próximas é que ele tem excelentes ideias, mas precisa de uma boa equipe para colocar tudo o que pensa em prática. Por isso, esses profissionais alegam que Guedes precisa de um braço direito que se encarregue da execução das medidas pensadas.
Por essa característica, esses agentes do mercado ouvidos pelo GLOBO esperam que Guedes leve para Brasília alguém que já conheça o seu modus operandi. Um dos cotados para essa cadeira é Sérgio Eraldo de Salles, que já foi presidente da Bozano Investimentos.
— O Paulo Guedes precisa de alguém para colocar ele mais com os pés no chão — avaliou um outro profissional do mercado financeiro.
Venda de fatia na Bozano
O histórico do futuro superministro no mercado financeiro é longo. Ele foi um dos fundadores do banco Pactual, nos anos 1980, e também deu início à Bozano Investimentos, que atualmente faz a gestão de cerca de R$ 2,8 bilhões, incluindo participações em empresas como a rede Hospital Care e o grupo de educação BR Health. O economista já anunciou que venderá sua participação na Bozano para assumir o cargo público.
Com doutorado na Universidade de Chicago, Guedes também é um dos fundadores do Instituto Millenium, que ajuda a divulgar o pensamento liberal no Brasil.
Outra característica do perfil de Guedes é que ele gosta de obediência. Por isso, alguns comportamentos do economista, alertam antigos colegas, podem parecer incisivos.
— Mas não chega a ser um ponto fora da curva para quem está acostumado com o ambiente de bancos de investimentos, que tem muita competição e cobrança — relata um profissional do mercado financeiro.
Um gestor de investimentos que já conviveu com Guedes concorda com essa avaliação. Segundo esse profissional, o economista é uma pessoa fechada, o que pode dificultar a relação no dia a dia.
Diferente de outros economistas de sua geração, como Pérsio Arida e Pedro Malan, Guedes nunca teve atuação no setor público. Mesmo assim, o futuro superministro nunca fugiu do debate econômico. Ele fez críticas ao Plano Cruzado, no governo Sarney; discordou do confisco das cadernetas de poupança, no governo Collor; e se opôs a alguns pontos do Plano Real.
O desejo de ser ministro e ditar os rumos da economia do país é alimentado há anos. O caminho para transformar isso em realidade apareceu quando ele percebeu que se alguém se vendesse como outsider teria condições de vencer as eleições. Por isso, Guedes sentou, meses atrás, para conversar com Bolsonaro.
Ana Paula Ribeiro e João Sorima Neto, O Globo